Petrobras pode avaliar outras áreas na África
Costa oeste africana estaria no radar da empresa diante da similiaridade geológica com o litoral brasileiro
FONTE: Valor Econômico
A Petrobras pode avaliar oportunidades de exploração e produção de petróleo e gás natural em outros países da África além de São Tomé e Príncipe dentro da estratégia de buscar novas fronteiras para reposição de reservas. Ainda não há outra iniciativa em curso no continente, mas toda a costa oeste africana estaria no radar da empresa devido à similiaridade geológica com o litoral brasileiro, de acordo com o diretor-executivo de exploração e produção da Petrobras, Joelson Mendes.
A parte norte da costa oeste da África teria semelhanças com a Margem Equatorial brasileira, ao mesmo tempo que a região mais ao sul teria aspectos parecidos com a Bacia de Pelotas, área de nova fronteira petrolífera na qual a estatal aposta. A política de retorno à África é vista com ressalvas por executivos da indústria, como mostrou ontem o Valor, uma vez que no passado recente a empresa fez grandes investimentos no exterior e assumiu riscos políticos que não conseguiu controlar e que terminaram em prejuízos e em denúncias de corrupção.
Na semana passada, a Petrobras anunciou o fechamento da operação de compra de participações em três blocos exploratórios em São Tomé e Príncipe, um pequeno país localizado no Golfo da Guiné, próximo a Camarões, Gabão e Guiné Equatorial. O regresso da Petrobras à África marca o primeiro passo na retomada da estratégia de internacionalização da companhia, uma das bandeiras do presidente da estatal, Jean Paul Prates, contestada por executivos da indústria.
Mendes destacou que a equipe técnica da Petrobras está liberada para negociar oportunidades que surjam para a companhia. A tendência de atuar em parceria com outras empresas em processos de exploração visa dividir riscos econômicos e compartilhar conhecimento. Essa prática, inclusive, se deu nos últimos leilões de áreas de petróleo no Brasil. A estatal tem arrematado blocos em consórcio com outras empresas, como ocorreu na Bacia de Pelotas, cujas áreas foram disputadas e vencidas no leilão de dezembro em parceria com a Shell. “Essas coisas [possíveis parcerias] surgem dentro das conversas técnicas que são desenvolvidas pelas equipes. Aparecendo alguma oportunidade, estamos liberados para estudar”, disse Mendes.
Roberto Ardenghy, presidente do Instituto Brasileiro do Petróleo e Gás (IBP), salienta que a internacionalização permite à estatal conhecer outras realidades geológicas e trazer para o país experiências internacionais. No passado, afirmou, teve momentos com maior foco para o exterior e outros em que priorizou exploração e produção interna. “A Petrobras, assim como outras empresas de petróleo, é uma companhia com caráter global”, disse Ardenghy.
A Petrobras, destacou Joelson Mendes, possui uma governança definida, segundo a qual toda proposta ou oportunidade é analisada por um comitê executivo. Após ser aprovado pelo comitê, o tema é levado à diretoria, para apreciação. Já investimentos em oportunidades em outros países, por exemplo, demandam aprovação pelo conselho de administração, disse.
O executivo descartou influências ou diretrizes políticas na decisão de retornar à África ou na definição de novos projetos. Como exemplo, ele disse que a Petrobras causou “surpresa negativa” no mercado ao não arrematar cinco áreas do pré-sal na Bacia de Santos colocadas em leilão de petróleo realizado em dezembro.
A Petrobras não exerceu direito de preferência nos blocos Tupinambá, Cruzeiro do Sul, Esmeralda e Jade, todos na Bacia de Santos, e de Turmalina, na Bacia de Campos. Na sessão da oferta permanente do regime de partilha, apenas Tupinambá foi arrematado, pela BP Energy, sem participação da Petrobras. “Não há qualquer movimento do governo. Não sofremos nenhuma pressão para entrar ou não entrar [nas áreas do pré-sal]. Nossos técnicos entenderam que aquela oportunidade não valia a pena”, disse Mendes.
A entrada da Petrobras em conjunto com a Shell e a Galp em São Tomé e Príncipe se dá na primeira fase, denominada sísmica, na qual a empresa analisará dados da geologia do subsolo, a fim de apurar indícios de potenciais relevantes de petróleo e gás na região. Para isso, os investimentos demandados serão “pequenos”, diante dos possíveis resultados. Caso as conclusões sejam positivas, a próxima fase será a de perfuração de poços, com investimentos mais expressivos, cujos resultados podem ratificar ou não o potencial apontado. Segundo dados de mercado, uma sonda de perfuração tem diária cotada em torno de US$ 500 mil.