FONTE: Valor Econômico

A EIG, empresa americana que investe em energia e infraestrutura, fechou a compra da Ocyan, antiga Odebrecht Óleo e Gás, por US$ 390 milhões, ou R$ 1,8 bilhão pelo câmbio de ontem. Os recursos da transação serão pagos diretamente à BNDESPar, empresa de participações do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), para liquidar uma parcela da dívida da Novonor – antiga Odebrecht, até então controladora da Ocyan – com o banco de fomento.

A Ocyan não foi incluída no processo de recuperação judicial da Novonor, mas ações da empresa de petróleo e gás foram dadas em garantia pela empreiteira ao BNDES. Em novembro de 2020, a Novonor iniciou negociações relativas a uma das dívidas com o banco de fomento, no valor de R$ 2,8 bilhões. Foi o BNDES quem coordenou o processo de venda da Ocyan, iniciado há cerca de dois anos. Além da EIG, o fundo Mubadala e a gestora americana Oaktree estavam entre os interessados no negócio, segundo fontes de mercado.

Em nota, o BNDES disse que a transação foi fruto de extenso processo competitivo, viabilizando “importante recuperação de créditos para a BNDESPar”. Segundo o banco, a transação avaliou a empresa em US$ 390 milhões, sendo US$ 283 milhões referente à fatia acionária detida pela Novonor e o remanescente destinado à liquidação de debêntures de participação no lucro da companhia, sem direitos políticos. “A parcela referente ao equity da Novonor será direcionada à BNDESPAR para liquidação parcial de dívida do Grupo Novonor garantida pelas ações da Companhia. O fechamento do negócio está sujeito a condições precedentes usuais, com previsão para ocorrer no 1º trimestre de 2024”, informou o banco.

Do total da operação, a EIG vai pagar metade da transação com recursos próprios, disse o diretor-geral da EIG no Brasil, Flávio Valle. A gestora local da EIG, em parceria com a Lake Capital, foi responsável pela captação dos recursos. É a primeira vez que a maioria dos recursos de um fundo da empresa foi captada no Brasil. Os principais alocadores foram grandes investidores individuais. A outra metade será financiada pelo BNDES, que estruturou project finance de sete anos voltado para a aquisição das ações da Ocyan pela EIG. No último ano, 40% do empréstimo será ser quitado.

Com a assinatura do contrato, a EIG, dona do Porto do Açu (RJ), se tornará o único acionista da Ocyan. A direção da companhia, liderada pelo presidente Roberto Prisco Ramos, será mantida. Um novo conselho de administração será montado. Entre os integrantes devem estar Valle, diretor-geral da EIG no Brasil, e também investidores da empresa americana e conselheiros independentes especializados no setor.

Há oportunidades na joint venture entre Ocyan e Brookfield” — Flávio Valle

Um dos principais focos de interesse da EIG no negócio é a joint venture entre Ocyan e Brookfield, chamada Altera & Ocyan. Essa empresa é proprietária e operadora de plataformas do tipo FPSO e é a única, com sede no Brasil, especializada nesses navios de petróleo, segundo Valle. Entre os clientes, estão a empresa australiana Karoon e a Petrobras. Além dos contratos serem de longo prazo e em dólar, a demanda por combustíveis fósseis se manterá alta pela próxima década, de acordo com o executivo.

“A EIG tem parcerias com a Brookfield mundo afora. Isso nos dá grande segurança para trazer um plano estratégico alinhado para novas investidas no setor dentro da Ocyan e pode, eventualmente, nos levar a um jogo maior, internacionalmente, na área”, disse Valle, em entrevista ao Valor. A ideia é adicionar mais duas plataformas nos próximos cinco anos. Isso poderá ser feito por meio de novos fundos levantados localmente.

A Ocyan tem outros dois ativos. Um deles é a participação de 6,5% na Foresea, criada no processo extrajudicial de reestruturação da dívida da própria Ocyan em que houve a cisão de cinco sondas de perfuração que têm como principal cliente a Petrobras. O outro é uma área de manutenção de sondas e serviços para a indústria de óleo e gás.

Além do setor tradicional de óleo e gás, a EIG vai buscar oportunidades para a Ocyan em energia renovável, uma área que a empresa americana atua. “Nosso principal objetivo são eólicas offshore. Há possibilidade de pré-fabricarmos turbinas, pás e torres. Passaremos a participar de um jogo que não participamos”, afirma o presidente da Ocyan, Roberto Prisco Ramos.