Dependência externa de insumo para adubo pode cair com amônia verde

No longo prazo, o insumo de baixo carbono tende a substituir integralmente a amônia cinza para a produção de fertilizantes

FONTE: Valor Econômico

A amônia verde, feita a partir do hidrogênio verde, tende a substituir parte ou até mesmo todo o insumo importado pelo país em algum momento entre 2035 e 2050, com vantagens econômicas e ambientais, nas projeções da consultoria Bain & Company. “As curvas de custos mostram uma tendência muito forte de aumento da competitividade da amônia verde em relação à amônia cinza e essas curvas tendem a se cruzar rapidamente”, diz António Farinha, sócio e líder da prática de utilities & renewable da Bain na América do Sul. O Brasil é grande dependente da amônia, insumo que integra a fórmula de fertilizantes agrícolas.

O custo potencial de produção de amônia verde no Brasil pode ficar abaixo de US$ 600 por tonelada nos próximos anos, reforça Wagner Costa, especialista em energia, recursos naturais, petróleo, gás e química da consultoria. Para comparação, os preços futuros de amônia cinza, produzida a partir de gás natural, carvão e outras fontes não renováveis, têm flutuado entre US$ 600 e US$ 1.000.

Até 2030, o potencial de oferta de amônia verde para a produção de fertilizantes nitrogenados no país tende a se aproximar de 6 milhões de toneladas anuais, demandando US$ 25 bilhões em investimentos, nos cálculos da consultoria. até 2050 serão 20 milhões de toneladas e US$ 90 bilhões, respectivamente. No mesmo período, a Bain vê potencial para investimentos de mais US$ 30 bilhões para produção de 7 milhões de toneladas destinadas ao mercado externo, numa reviravolta em relação à dependência observada hoje.

A Bain identifica 15 a 20 projetos de H2V que podem entrar em operação no país de 2026 a 2027, praticamente a metade destinada à produção de amônia verde. A primeira etapa de planta de hidrogênio verde da Unigel no Polo de Camaçari (BA) deve ser inagurada no segundo semestre de 2024, com capacidade anual inicial de 10 mil toneladas de H2V e 60 mil toneladas de amônia de baixo carbono.

Conforme Luiz Antonio Mello, head de vendas da thyssenkrupp Uhde para o Brasil, quando a planta for acionada, “muito provavelmente será a maior operação de amônia verde do mundo” e a primeira do gênero em escala industrial no país. A multinacional alemã fornecerá três eletrolisadores com potência total de 60 megawatts e tecnologia de hidrólise alcalina de água para a fábrica. “Essa planta será um benchmark nos mercados nacional e internacional, proporcionando a segurança necessária para futuros investidores”, acrescenta Mello.

A Yara Brasil espera iniciar no segundo trimestre de 2024 o processo de ramp up de seu projeto de produção de amônia verde na unidade de Cubatão (SP), diz Daniel Hubner, vice-presidente de soluções industriais da empresa. A Raízen inicia no mesmo período a entrega diária de quase 20 mil metros cúbicos do biometano que será usado como matéria-prima pela Yara, substituindo em torno de 5% do gás natural utilizado hoje. “A planta na Baixada Santista produz perto de 210 mil toneladas anuais de amônia, e vamos fazer um pouco menos de 15 mil toneladas de amônia verde. Será um passo pequeno, mas que trouxe muito aprendizado”, diz Hubner. A companhia tem a perspectiva de substituir todo o gás natural pelo biometano produzido a partir de resíduos da produção de etanol e açúcar, a depender da viabilidade econômica e da sustentabilidade do investimento ao longo do tempo.

A empresa estuda ainda alternativas para iniciar um projeto de hidrólise destinado à produção de hidrogênio verde, com aplicações na fabricação de fertilizantes e em outros setores da indústria.