Atlas e Albras levantam US$ 450 milhões com BNDES para usina em MG

Crédito atrelado à moeda estrangeira é o maior já feito pelo banco designado para um dos maiores projetos renováveis da América Latina

FONTE: Valor Econômico

Para colocar de pé um dos maiores complexos solares da América Latina construída em fase única, a Atlas Renewable Energy e a Albras fecharam com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) um empréstimo de US$ 447,8 milhões, o maior até então em moeda estrangeira já feito pelo banco voltado para energia renovável.

O megaempreendimento é composto por 18 usinas fotovoltaicas, 22 quilômetros de transmissão e uma subestação coletora e fica no município de Janaúba, em Minas Gerais. Com uma capacidade instalada de 902 MWp, equivalente a 768 MW, a previsão é que a construção dure 33 meses e produza uma média de 2 terawatt-hora (TWh) por ano. Esse é um dos maiores contratos privados (PPA, na sigla em inglês) da América Latina dedicado a um único cliente, com 21 anos. Em equivalências energéticas, a operação poderia suprir o fornecimento de energia para mais de 3 milhões de pessoas.

Entretanto, a planta não vai abastecer casas populares. Ao contrário, será destinada exclusivamente a Albras, produtora de alumínio primário e intensa em energia. Neste segmento de fornecimento de eletricidade conhecido como autoprodução, o consumidor passa a deter uma participação acionária na usina e recebe outorga para produzir energia elétrica.

Além de garantir competitividade e previsibilidade à gestão energética, o formato deste arranjo contribui para uma produção sustentável. Contudo, é importante notar que projetos desta natureza sofrem críticas do setor porque deixam de pagar alguns encargos, transferindo esses custos para outros consumidores e, consequentemente, elevando a tarifa deles.

O diretor da Atlas no Brasil, Fábio Bortoluzo, destaca que os PPAs em dólares têm se fortalecido como uma solução de proteção cambial a exportadores, cujas receitas são em moeda estrangeira. Além disso, auxilia os clientes na obtenção de suas metas de sustentabilidade.

“O contrato visa a reforçar a presença da Atlas no Brasil, já que recentemente a empresa fez uma rotação de capital recente [com a Engie]. vendemos 550 MWp, mas estamos colocando no portfólio 902 MWp com este projeto de Vista Alegre. Há outro projeto em fase avançada de desenvolvimento que vamos divulgar futuramente”, diz.

A diretora de infraestrutura, transição energética e mudança climática do BNDES, Luciana Costa, explica que o custo total do projeto será de R$ 3,2 bilhões. O banco financiará 68% desse valor, ou seja, R$ 2,18 bilhões. Os outros R$ 1,02 bilhão serão aportados com recursos próprios.

“Este é o terceiro financiamento em dólar do BNDES e o maior que já fizemos em energia”, diz Costa. Os outros foram o projeto solar Boa Sorte, com potência de 438 MWp, e a usina termelétrica a gás natural Novo Tempo Barcarena, com capacidade instalada de 624 MW. “O financiamento em moeda estrangeira é uma diversificação importante, pois dá acesso a novos bolsos”, acrescenta a executiva.

É o terceiro financiamento em dólar do BNDES e o maior em energia”

— Luciana Costa

O banco tem sido o principal vetor de expansão do setor elétrico. Nos últimos 22 anos, o BNDES financiou 78 GW de potência instalada, mas a estratégia recente tem sido viabilizar projetos renováveis voltados ao mercado livre.

Por parte da Albras, a meta é produzir um alumínio com menor pegada de carbono, necessidade ampliada no atual contexto. A parceria da Albras com a Atlas ocorre nos projetos de Boa Sorte e Vista Alegre, contratos que em 2025 devem suprir cerca de 30% da demanda da produtora de alumínio.

O diretor de metais e energia da Albras, Evaldo Batista, explica que o foco da companhia são os investimentos na diversificação da sua matriz energética, agregando o uso de energias de fontes renováveis (eólica e solar).

A geração fotovoltaica em grandes parques já alcançou 10,8 GW na matriz elétrica. Entretanto, este projeto chamou atenção de autoridades por fazer parte do Novo PAC, em parceria com a iniciativa privada e com o banco de fomento. Apesar do uso de recursos públicos da sociedade, o BNDES não revelou as taxas do financiamento.

Ao Valor, o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, disse que “esses investimentos [referindo-se ao empréstimo do BNDES] devem criar 2.500 empregos, só na fase de implantação para moradores da região, em Minas Gerais.