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‘Brasil deixou de ser queridinho de exploração de petróleo’, diz IBP
Aumento das atividades em países vizinhos representam maior competição
FONTE: Valor Econômico
Ainda que a geologia brasileira tenha sido beneficiada por grandes campos produtores de petróleo, o país precisa oferecer bons fundamentos e segurança jurídica para garantir a sustentabilidade dos investimentos. É o que diz Julio Moreira, diretor de exploração e produção do Instituto Brasileiro de Petróleo (IBP). “O Brasil deixou de ser o queridinho no mundo da exploração de petróleo”, diz o especialista. “O aumento das atividades em países vizinhos, como Guiana e Suriname, além de outros com formações geológicas semelhantes às do Brasil, como os do continente africano, passaram a representar uma maior competição.”
Segundo o especialista, o modelo regulatório do Brasil é transparente e conhecido, e a qualidade dos ativos também contribui para a busca por investidores. “Mas ainda assim existe preocupação de alertar o governo sobre possíveis situações que causem estresse, como o que ocorreu quando instituíram o imposto sobre exportação, em março.”
De acordo com o IBP, são esperados US$ 183 bilhões em investimentos em exploração e produção de petróleo até 2031, sendo US$ 62 bilhões por ano em participações governamentais.
O debate da exploração da Margem Equatorial tem potencial para acelerar os investimentos no Brasil e reduzir o risco de perda de espaço para os mercados que se desenvolvem nas proximidades, explica Moreira. “A região é estratégica para a reposição de reservas e de segurança energética. São bacias distintas e com áreas que foram pouco exploradas.”
Eduardo Raffaini, sócio de infraestrutura e projetos de capital da Deloitte, afirma que é crucial acelerar o processo decisório para viabilizar a exploração da Margem Equatorial, com “diálogo técnico mais profundo sobre os riscos ambientais e como podem ser mitigados e controlados”. “Cabe ao governo organizar a discussão de forma técnica, equilibrando as agendas políticas e a expectativa da sociedade sobre o que é o melhor a fazer”, diz Raffaini.
De acordo com ele, “a promoção ativa de práticas de exploração de baixo impacto, investimento em tecnologias limpas e a implementação de estratégias de conservação ambiental” é importante para que o Brasil recupere a posição de liderança ante os demais mercados de petróleo.
O especialista da consultoria também destaca a importância das chamadas “junior oils”, as companhias de petróleo independentes e de menor porte, no sentido de promover um desenvolvimento mais sustentável do setor. “Com a expansão das fronteiras exploratórias, há uma grande oportunidade para crescer de forma responsável. Incentivos específicos para tecnologias limpas, treinamento em melhores práticas ambientais e apoio à inovação podem catalisar o crescimento das ‘junior oils’, contribuindo para uma indústria de exploração e produção mais sustentável e competitiva. No entanto, para capitalizar totalmente esse potencial, é crucial que essas empresas tenham acesso a financiamentos e investimentos de longo prazo.”
O presidente da Prio, Roberto Monteiro, defende que o momento é de adaptação do ambiente de negócios de exploração e desenvolvimento de petróleo para um cenário com mais atores: “No Brasil, tanto os fornecedores como a infraestrutura sempre atenderam a grandes empresas e projetos maiores, com foco em exploração e desenvolvimento, deixando de lado projetos de redesenvolvimento, muitas vezes mais simples, que exigem custos e prazos menores”, explica.
“Com o aumento da demanda de serviços e com o estilo de operar de empresas independentes como a Prio, há uma necessidade constante de adaptação, de toda a cadeia de suprimentos.”
Monteiro diz que a Prio, antiga PetroRio, tem focado na revitalização de dois campos: Albacora Leste, comprado da Petrobras, e Frade, em que a Chevron era operadora. A companhia também investe no desenvolvimento do campo de Wahoo. A empresa tem um plano de investimento com o qual espera aumentar a produção própria em até 50% nos próximos 18 a 24 meses.
Por outro lado, os grupos internacionais ainda sustentam interesse em atuar no Brasil. O grupo Repsol, por meio da Repsol Sinopec Brasil, tem o país como estratégico para a posição mundial. A empresa é uma joint venture entre a espanhola Repsol (60%) e a chinesa Sinopec (40%).
Alejandro Ponce, presidente da Repsol Sinopec Brasil, diz que a companhia investiu US$ 5 bilhões no Brasil entre 2011 e 2022. Ponce reforça que a previsibilidade e a segurança regulatória, jurídica e tributária do país são “essenciais para consolidar um ambiente de negócios maduro e preservar a atratividade de investimentos”. “Estas são conquistas fundamentais para o desenvolvimento desta indústria tão relevante para a economia nacional.”