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Atlas Lithium prevê começar a produzir lítio em MG em 2025

Empresa americana listada na Nasdaq, do brasileiro Marc Fogassa, é novo projeto em curso no “Vale do Lítio” mineiro, na região do rio Jequitinhonha

FONTE: Valor Econômico

Mais um projeto para extração e industrialização, envolvendo um dos minerais mais cobiçados atualmente no mundo, começa a ser estruturado no ‘Vale do Lítio’ brasileiro, na região nordeste de Minas Gerais. Comandada pelo brasileiro Marc Fogassa, a Atlas Lithium planeja para meados de 2024 o início das obras de instalação do empreendimento em Araçuaí, cidade do Vale do Jequitinhonha, a 600 km de Belo Horizonte.

A Atlas foi fundada em 2011 na Califórnia e um ano depois mudou-se para Boca Raton, Flórida (EUA). Desde janeiro deste ano está listada na Nasdaq. Fogassa, criador da empresa, é o principal acionista e faz uma grande aposta no mercado global de minerais críticos. Além do lítio, foco no momento, há reservas de níquel, titânio, grafita e terras raras.

As projeções de demanda global, segundo informações da companhia, para carbonato de lítio equivalente-LCE (produto destinado às refinarias do mineral) indicam 3,5 milhões de toneladas em 2033. Para este ano, os volumes previstos são de menos de 1 milhão de toneladas de LCE, conforme a Fastmarkets. A grande aplicação do lítio é na fabricação de baterias para veículos elétricos.

No ano passado, os preços do lítio foram às alturas: a tonelada do hidróxido de lítio (material refinado) passou de US$ 84 mil a tonelada. Mas recuou em 2023 – atualmente, está na faixa de US$ 27 mil, na China, conforme dados do Goldman Sachs. O concentrado de espodumênio, com 5,5 % a 6% de lítio – produto a ser feito pela Atlas – é hoje negociado em torno US$ 2,7 mil a US$ 3 mil a tonelada, depois de ter atingido US$ 8 mil em novembro de 2022.

“O custo cash de produção do nosso projeto ficará abaixo de US$ 300 a tonelada do concentrado”, disse o empresário ao Valor. O projeto da Atlas prevê produzir 300 mil toneladas por ano de concentrado de lítio grau bateria, do mineral de espodumênio extraído de mina a céu aberto.

Investimento total no projeto poderá alcançar a cifra de US$ 200 milhões” — Marc Fogassa

“Creio que o projeto da Atlas será o último com mineral aflorado com extração na superfície, no Vale do Lítio, com profundidade de até 250 metros. Os demais estão previstos com lavra subterrânea. É um diferencial de custo e de desenvolvimento do projeto”, afirma Fogassa. A área da Atlas abrange 54 direitos minerais (240 km2) dentro e ao redor dos municípios de Araçuaí e Itinga.

Atualmente, a empresa está numa campanha de perfuração para medição de suas reservas. O relatório final está previsto para o fim de 2023. A empresa diz que o estudo de viabilidade técnico-econômico sairá em meados de 2024.

Segundo o CEO e chairman da Atlas, testes metalúrgicos realizado por empresas especializadas em geologia apontaram teor médio de lítio de 6,04% nas amostras obtidas nas perfurações. “O mercado está apto a comprar material de lítio com teor a partir de 5,5%. Tenho recebido telefonemas de montadoras de veículos buscando informações sobre o projeto”, diz.

Fogassa vê um mercado por lítio bem aquecido ao longo dos próximos dez anos. Segundo ele, na Califórnia (EUA), 25% dos carros novos vendidos no segundo trimestre foram elétricos. “Isso era esperado só para 2025”.

Os investimentos no projeto, informa o executivo, ficarão acima de US$ 100 milhões na sua instalação e teria início de produção no segundo semestre de 2025. “Com outros desembolsos requeridos pelo projeto poderá atingir US$ 200 milhões”, diz.

A tecnologia da planta de concentração do espodumênio, informa, será a que é conhecida há mais de 100 anos e agora utilizada no processo de beneficiamento de lítio – DMS (tratamento pré-químico do minério por Separação de Meio Denso). O concentrado de espodumênio, obtido de rocha dura, é considerado o melhor insumo para fabricação do Hidróxido de Lítio, insumo utilizado nas fábricas de baterias.

O porto de exportação a ser usado pela Atlas será definido no estudo entre os portos de Ilhéus (BA) e Vitória (ES), tendendo mais para o segundo. A vizinha Sigma Lithium iniciou em julho seus embarques pelo porto capixaba.

O empresário, que detém quase 40% do capital da Atlas junto com seu management – ele tem ainda uma ação de classe especial, que lhe garante o controle -, garante que capital para desenvolver e colocar de pé o projeto não será problema. “Há investidores interessados em aportar recursos na empresa e até em serem parceiros”.

Recentemente, a Atlas fez a venda de US$ 20 milhões em royalties para a empresa canadense LRC, que tem mais de 30 negócios em lítio, e em julho captou US$ 10 milhões com entrada de investidores estrangeiros, sendo a metade do fundo institucional Waratah.

De Assis, interior de São Paulo, Fogassa estudou em São Paulo e foi fazer engenharia no Instituto de Engenharia Aeronáutica (ITA). Ficou pouco tempo lá e migrou em 1985, aos 18 anos, para a universidade americana MIT. Estudou também em Harvard, onde se formou em medicina, mas buscando atuar em capital de risco na área de biotecnologia. “Após algum tempo, fechei a primeira operação ainda como aluno e participei de vários ‘deals’. Me tornei um generalista”.

Aos 31 anos, o empresário diz que investiu US$ 2 milhões em uma empresa que chegou a ter valor de mercado de US$ 1 bilhão na Nasdaq. “Então, decidi ser empreendedor e vi que o Brasil tinha uma vantagem competitiva na área de mineração, com muita coisa ainda inexplorada”. O primeiro projeto foi na área de ouro e diamante.

A Atlas começou com ouro aluvionar em Minas Gerais. Em 2018, teve um alerta de um geólogo para o futuro dos minerais e metais estratégicos. Daí começou a requerer áreas de lítio e aquisição de projetos. “Fomos beneficiados pela pandemia, pois muitos investidores estrangeiros ficaram impedidos de vir para cá. Hoje, a Atlas tem a maior área de concessão no Vale do Lítio”, afirma.

Com ação negociada nesta segunda-feira (18) a US$ 25,52 na Nasdaq, a Atlas atingiu avaliação de US$ 272 milhões. A meta de Fogassa é ter uma empresa com valor de mercado de US$ 1 bilhão. “Estou montando um grande time de executivos experientes para desenvolver e executar o projeto da Atlas Lithium”, afirma.

O empresário brasileiro tem diversos fundos institucionais como sócios da Atlas: além do Waratah, o BlackRock, ExodusPoint, Weiss, UBS, BTG Pactual, Polar, Fidelity, entre outros investidores.