.
Reinjeção de gás natural não pode ser um dogma, defende diretor da Abegás
Marcelo Mendonça pede mais transparência no debate sobre o assunto
FONTE: EPBR
RIO — O diretor de Estratégia e Mercado da Associação Brasileira das Empresas Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás), Marcelo Mendonça, afirmou nesta quarta (2/8) que a “reinjeção de gás natural não pode ser um dogma” e que precisa ser tratada com transparência.
“A reinjeção é um processo produtivo para aumentar a produção de óleo, a gente sabe que ela faz parte [do processo produtivo], mas a reinjeção não pode ser um dogma, algo que a gente não possa discutir e confrontar os números. Os números têm que ser expostos, serem abertos”, disse.
“Temos que discutir realmente o que vale a pena para o país. qual o ‘breakeven’ [ponto de equilíbrio] que é interessante para os produtores – claro que não podemos afastar o interesse dos produtores – mas qual é o ponto interessante para o país”, comentou Mendonça, ao participar dos Diálogos da Transição 2023.
As distribuidoras integram a Coalizão pela Competitividade Gás Natural, grupo liderado pela Abemi (engenharia industrial) que tem se articulado, nas discussões do programa Gás para Empregar, a favor de uma política pública para estimular o uso do gás como matéria-prima.
Um estudo do Instituto de Energia da PUC-Rio, encomendado pela Coalizão, mostra que, mesmo num cenário conservador, sem novas rotas de escoamento no pré-sal, entre 8 milhões de m3/dia e 17 milhões de m3/dia de gás firme poderão ficar sem mercado a partir de 2028 – e poderiam ser orientados para novos projetos no setor químico e de fertilizantes.
Num cenário em que haja investimentos na infraestrutura de escoamento e processamento, para eliminar gargalos, esse volume sobe para entre 12 milhões e 25 milhões de m3/dia.
Segundo o IE-PUC, 47% do volume reinjetado atualmente – ou cerca de 30 milhões de m3/dia – poderia vir para o mercado. É o que os autores chamaram de gás em potencial – uma soma da reinjeção feita para aumento do fator de recuperação de petróleo; de gargalos no escoamento; e ausência de capacidade de separação do CO2 em algumas plataformas, como as do campo de Mero.
O estudo conclui que uma parcela importante da produção brasileira não chega ao mercado devido à reinjeção econômica – como os pesquisadores chamam a parcela de gás usada para aumentar a recuperação de óleo nos reservatórios e que não deve ser confundida, na visão dos autores, como a reinjeção técnica, para separação do CO2.
Essa diferenciação se contrapõe à Petrobras – que, no debate público sobre o assunto, frequentemente associa a reinjeção para recuperação secundária de óleo como técnica.
Reinjeção eleva os ganhos, diz Petrobras
Ao governo, a Petrobras tem buscado demonstrar que essa injeção eleva os ganhos também para o país, com aumento da arrecadação de royalties e participações especiais, que abastecem os cofres de estados, municípios e da União.
Para Mendonça, contudo, o debate sobre o assunto precisa extrapolar a abordagem sobre os ganhos com a recuperação de óleo para a arrecadação de participações governamentais. Segundo ele, usar o gás como indutor da reindustrialização traz benefícios para geração de renda e emprego.
“Não adianta olhar simplesmente para o processo produtivo, mas para a cadeia ampliada do gás: quais os postos de trabalho que o gás poderá criar, quantas empresas serão criadas, quanto vamos movimentar a economia com esse aumento de oferta”, comentou.