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Celulose tem um novo líder
Após décadas de investimentos pesados em produção, pesquisas e tecnologia, país ultrapassa o Canadá e se torna o maior exportador
FONTE: Valor Econômico
A atividade florestal tornou o Brasil o maior produtor e exportador de celulose em 2022, atingindo marcas históricas que consolidaram a liderança do país no mercado global, com uma receita anual de R$ 250 bilhões. Só no ano passado, a produção da fibra de madeira chegou a 25 milhões de toneladas, alta de 10,9% frente a 2021. Já as exportações deram um salto de 22%, alcançando 19,1 milhões de toneladas embarcadas, segundo dados da Indústria Brasileira de Árvores (Ibá).
Ao todo, o Brasil tem quase 10 milhões de hectares de áreas cultivadas, uma área maior do que o Estado do Rio de Janeiro, e outros 6 milhões de hectares destinados à conservação de florestas nativas.
Com desempenho tão expressivo, o país ampliou a distância em relação ao Canadá, segundo colocado no ranking da Food and Agriculture Organization (FAO) entre os maiores exportadores de celulose. Esse avanço, no entanto, não ocorreu de uma hora para outra. Foram muitas décadas de investimentos pesados em produção, pesquisas e tecnologias, segundo o diretor-executivo da Ibá, José Carlos Fonseca. “Temos várias empresas centenárias e todas investiram muito em melhorias e certificações para que chegássemos a esse nível”, diz.
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Assim, a indústria de papel e celulose no Brasil conseguiu passar ao largo das turbulências econômicas globais nos últimos anos e continua mantendo aportes bilionários. Até 2028 serão investidos R$ 61,9 bilhões em expansão e novas fábricas, incluindo painéis de madeira. Há previsão de que mais R$ 3 bilhões possam ser aplicados, o que coloca o setor entre os maiores investidores privados do país.
Gigante mundial na produção de celulose, a brasileira Suzano vai completar 100 anos e mantém no Mato Grosso do Sul um projeto de R$ 22,2 bilhões. Outra centenária, a Klabin soma R$ 14,5 bilhões em investimentos, e a chilena Arauco tem outros R$ 15 bilhões. Sozinha, a Suzano vendeu 10,6 milhões de toneladas de celulose e 1,3 milhão de toneladas de papéis em 2022. Volumes similares aos de 2021, mas com o câmbio favorável e a elevação de preços internacionais representaram aumento de 22% da receita líquida da companhia no último ano, atingindo o recorde de R$ 49,8 bilhões. O caixa operacional ficou 20% acima de 2021, em R$ 22,6 bilhões. No primeiro trimestre de 2023, a alta na geração de caixa operacional foi de 21%, para R$ 4,7 bilhões. “Mesmo diante dos custos maiores, a empresa aproveitou o aumento de preços e continua competitiva, mantendo o maior ciclo de investimentos de sua história”, afirmou, em conferência, o presidente da Suzano, Walter Schalka.
Especializada em papéis de embalagem, a Klabin terminou em junho o Puma II, projeto que consumiu o maior aporte de sua história, de R$ 12,9 bilhões. A primeira etapa, iniciada em 2019, foi concluída em 2021. Conforme o diretor comercial da Klabin, José Soares, o mercado se manteve firme nos últimos anos, o que sustentou os gastos. “A pandemia elevou a demanda por embalagens”, afirma o executivo. A procura foi tão forte que a máquina, que entrou em funcionamento em junho, precisou ser readaptada para produzir, além do papel kraft, também papel cartão e outros tipos de embalagens.
De acordo com o diretor-executivo comercial e logística da Eldorado Papel e Celulose, Rodrigo Libaber, a demanda global pela celulose cresce em média 1,5% ao ano. “A China continua no topo, consumindo mais de 40% da celulose, seguida pela Europa e pelas Américas”, diz o executivo.
Após a covid, o consumo de papéis higiênicos, ou tissue, disparou. Já o uso de papéis de imprimir está caindo com o avanço da digitalização. Com a guerra na Ucrânia, a Rússia perdeu a certificação da madeira e quase 1 milhão de toneladas saíram do mercado. Houve ainda uma greve de mais de três meses na finlandesa UPM, reduzindo a disponibilidade e elevando preços, beneficiando o Brasil, cuja produtividade é quase duas vezes maior que a das florestas do Hemisfério Norte, segundo a Ibá.
Por outro lado, o setor enfrentou o forte aumento dos custos, principalmente com energia elétrica e insumos. “Isso ajudou a elevar os preços de maneira consistente, atingindo patamares que nunca tivemos”, afirma Libaber. Agora a expectativa é de que a China retome o crescimento normal e os preços caiam, estabilizando o mercado.
Mas nem só de papel vive a indústria florestal. Boa parte da produção vai para manufatura de painéis e móveis. Empresas como a Dexco (antiga Duratex) e a Eucatex dizem que a competição com a indústria de celulose ficou acirrada, elevando o preço de produtos. Há 73 anos, a Duratex trabalha com painéis e viu de perto a evolução do setor. Por ter florestas manejadas, o setor conseguiu produzir a um custo competitivo e com qualidade. Assim, a empresa cresceu muito dentro do grupo Itaúsa, que também mantinha a Deca. Recentemente, as duas se juntaram, criando uma grande empresa de materiais de construção, a Dexco. Líder na produção de MDF, MDP e HDF, ela atende desde o pequeno marceneiro até grandes fábricas de móveis. “Hoje metade vai para a indústria de móveis e outra metade para o varejo, que distribui para os marceneiros”, afirma o vice-presidente da área de madeira Dexco, Henrique Haddad. “Tudo certificado pelo FSC (Forest Stewardship Council).”
Segundo o vice-presidente da Eucatex, José Antonio Goulart, o mercado de painéis sempre foi equilibrado. Mas, com a pandemia, teve um boom, com até 15% de crescimento. “Confinadas em casa, as pessoas começaram a melhorar seus ambientes domésticos, para home office e, em 2023, voltamos ao mercado em situação pré-pandemia”, diz. Para atender a procura maior, a capacidade foi ampliada e o excesso de oferta pressionou os preços. “A saída foi exportar, e cerca de 80% da produção extra tem como destino os EUA.” A empresa está abrindo filial em Atlanta e tem 25% da receita anual, de R$ 2,5 bilhões, vinda da exportação.