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ANP considera necessário investir mais na exploração de petróleo

Agência vê declínio significativo na produção de hidrocarbonetos antes de 2030

FONTE: Valor Econômico

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Para sustentar o atual nível de produção de petróleo e gás natural no país, é fundamental elevar o investimento na exploração de novas áreas para repor e mesmo ampliar as reservas da commodity, para atender as necessidades do país. Essa é a avaliação da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), que enxerga declínio significativo da produção de hidrocarbonetos no Brasil antes de 2030, considerando o atual nível de reservas provadas.

Na semana passada, a ANP apresentou um balanço da exploração de petróleo no país em 2022. Exploração é a atividade que avalia a eventual existência de petróleo ou gás natural em jazidas. Nesta etapa, petroleiras contratam equipamentos específicos para perfurar poços em busca de novos reservatórios.

No documento, Claudio Jorge de Souza, diretor da ANP, diz que é urgente vencer os obstáculos que ainda impedem a exploração em novas fronteiras, como as da Margem Equatorial. “É imperioso dar atenção ao elevado potencial existente nas bacias de nova fronteira, seja em mar ou em terra”, disse.

A agência salienta o “baixo desempenho” da área de exploração, especialmente nos últimos três anos. Segundo a ANP, 2022 foi o terceiro ano seguido sem a conclusão, pelas petroleiras, de análises e estudos para confirmar a existência de hidrocarbonetos, como levantamentos sísmicos 2D e 3D. “Tal fato, ainda que indesejável, não significa que não possam ter sido iniciadas campanhas em 2022, mas que nenhuma campanha foi concluída nesse ano”, ressalta a ANP. É com os resultados dos estudos que se declara a comercialidade.

A ANP registrava 295 blocos de petróleo e gás natural sob contrato no país no fim de 2022, somando mais de 186 mil quilômetros quadrados (km2) de bacias. Do total, 138 são localizados em bacias marítimas, 55% da área contratada, e 157 estão situados em bacias terrestres (45% do total).

Dos 295 blocos contratados, 246 estão ativos e 49 com operações suspensas, sendo 20 deles localizados na Margem Equatorial, de acordo com o levantamento da ANP. “Em grande maioria, a suspensão devia-se ao atraso no processo de licenciamento ambiental”, destaca o estudo da agência.

O especialista no setor, Marcus D’Elia, da Leggio Consultoria, afirma que o principal ponto é que os investimentos para os próximos cinco anos garantam que o país alcance o nível máximo de produção dos 5 milhões de barris por dia em 2030. Hoje em dia, o patamar está em torno de 4 milhões de barris de óleo equivalente (BOE) por dia.

“Nos últimos anos, os investimentos desaceleraram como efeito da pandemia, já que não tínhamos uma previsão clara de quanto ficaria o valor do barril de petróleo. Agora, acreditamos que o barril fique em torno de US$ 60 a US$ 80 pelos próximos oito anos. Mas hoje algumas outras forças de mercado se colocam na equação, como a transição energética, que se torna uma nova variável na avaliação de projetos.”

Para D’Elia, o Brasil tem vantagens competitivas neste momento, por oferecer boas condições de investimentos em cenário de transição energética.

A ANP registrou também assinatura, no ano passado, de 63 contratos, todos no regime de concessão, sendo 58 relativos ao terceiro ciclo de oferta permanente e cinco da 17ª rodada de licitação de blocos. É o maior número desde 2017.

O ponto de vista e os números da ANP foram divulgados em meio a um debate sobre a exploração de novas reservas de petróleo na Margem Equatorial brasileira, no momento em que projetos de descarbonização ganham corpo no país e no mundo, num esforço para cumprimento de metas para reduzir emissões de gases de efeito estufa.

A Petrobras tenta obter licenciamento ambiental no Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) para a perfuração de um poço localizado na Bacia da Foz do Amazonas, no Amapá. Depois de ter a licença negada pelo Ibama, a empresa enviou novo ofício sobre o tema ao órgão há duas semanas, após o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir, no início de julho, não ser necessária a apresentação de uma Avaliação Ambiental de Área Sedimentar (AAAS) para explorar áreas que foram leiloadas.