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Rumo conclui Norte-Sul e prevê diversificar carga
Com entrega de último trecho, Brasil passa a ter corredor ferroviário direto entre o Porto de Santos (SP) e Itaqui (MA)
FONTE: Valor Econômico
A Rumo, empresa de logística do grupo Cosan, inaugura nesta sexta-feira (16) o último trecho da Ferrovia Norte-Sul. Com isso, o país passa a ter uma conexão ferroviária direta desde o Porto de Santos (SP) até Itaqui (MA). O tramo central operado pela Rumo, que vai de São Paulo a Tocantins, era o elo que faltava para completar o corredor logístico. A concessão já estava em operação desde 2021, mas restava um pequeno pedaço da via, na região de Anápolis (GO), a ser construído, o que foi feito apenas agora.
Com a conclusão do empreendimento, a concessão da Malha Central deverá ampliar sua área de influência em 20%, até 2030, e diversificar as cargas transportadas para além dos grãos, afirmou o presidente da Rumo, Beto Abreu, em conversa com o Valor.
“Goiás é o segundo maior produtor brasileiro de etanol, é o terceiro maior produtor de biodiesel, tem um polo industrial super relevante na região de Anápolis, o que gera muitas oportunidades para carga geral. Hoje, de Goiás para Santos, descem cerca de 45 mil contêineres em caminhões. Há oportunidades na área de fertilizantes, combustível, grãos, carga geral e até mesmo minério”, disse o executivo.
Em 2022, a Malha Central movimentou 9 bilhões de TKU (tonelada por km útil), principalmente de soja e milho, mas também fertilizantes e açúcar. A companhia não revela a projeção de crescimento a partir do novo trecho inaugurado.
A Rumo conquistou a concessão do tramo central da Norte-Sul em um leilão em 2019, com o objetivo de concluir a obra, iniciada pelo governo federal, e operar a via por 30 anos.
O novo corredor que interliga o Brasil de Norte a Sul é composto por um total de quatro concessões: ele começa em São Luís no Maranhão, no Porto de Itaqui, de onde parte a Estrada de Ferro Carajás, da Vale. Em Açailândia (MA), a via se conecta ao tramo norte da Norte-Sul, que é operado pela VLI e vai até a cidade de Porto Nacional (TO). É neste momento que entra a nova concessão da Malha Central, da Rumo. O trecho sai de Tocantins, passa por Goiás e chega ao norte de São Paulo, em Estrela D’Oeste (SP). Por fim, neste ponto, a via se interliga à Malha Paulista, também da Rumo, que desemboca em Santos (SP).
Ao todo, foram R$ 4 bilhões investidos pela Rumo, tanto para finalizar a obra do trecho central quanto para construir terminais ao longo da ferrovia. Já há quatro terminais em operação na via, que começou a funcionar de forma parcial em março de 2021.
A empresa prevê ao menos outros quatro terminais que ainda serão implantados ao longo da malha. Dois deles, voltados a grãos, deverão ser construídos em 2024, no norte de Goiás e sul de Tocantins, em sociedade com um grupo que ainda não pode ser revelado. Há também previsão de uma unidade em Rio Verde (GO) para combustíveis, em parceria com a DTC (Dinâmica Terminais de Combustíveis). Outro projeto a ser implementado é o terminal de contêineres da Brado, subsidiária da Rumo voltada a contêineres, em Davinópolis (MA), próximo a Imperatriz, ainda sem data para começar a operar.
Com a conclusão desse projeto, a Rumo deverá focar em seus outros planos de expansão: a prorrogação da Malha Norte no Mato Grosso, até Lucas do Rio Verde (MT), cujas obras da primeira etapa do projeto tiveram início no fim de 2022, e a renovação antecipada da Malha Paulista, firmada em 2020.
Segundo o presidente, não há previsão de novos contratos no curto prazo – tanto de leilões de novas concessões quanto de autorizações de projetos privados, como o do Mato Grosso. “Hoje, estamos muito concentrados em executar o que temos no ‘pipeline’. Não é estratégia da companhia trazer novos investimentos.”
Em relação à revisão que o governo federal diz estar fazendo das renovações antecipadas de concessões ferroviárias – entre elas, a da Malha Paulista -, Abreu afirma que não espera “nenhuma mudança em contratos assinados”, o que é o “coração da segurança jurídica”, diz ele. No acordo, a Rumo se comprometeu a fazer R$ 6 bilhões em obras e com o pagamento de uma outorga de R$ 2,9 bilhões.
“O caderno de obras sempre pode ser alvo de discussões, porque as necessidades de mercado mudam, então é natural que você converse sobre mudanças de prioridades. Isso não significa mudar questões estruturais do contrato”, afirma o executivo.
Já em relação à renovação antecipada da Malha Sul, processo que ainda está em curso na ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres), Abreu afirma que as discussões estão mais lentas, porque se trata se uma concessão hoje deficitária e, para a renovação, seria necessário garantir termos que garantam a rentabilidade do ativo. “Temos interesse em renovar, mas dentro de parâmetros que possam conciliar uma maior rentabilidade com os interesses do governo e dos atores locais”, diz. Caso não haja a renovação, o contrato vence em 2026.
Outra pendência da Rumo é a devolução da Malha Oeste, para que a concessão seja novamente leiloada a outro grupo. Embora hoje o governo federal esteja buscando alternativas à relicitação – um processo que se mostrou bastante lento e complexo -, como a repactuação dos contratos para que estes se tornem viáveis, a Rumo deixa claro que não está interessada nesse caminho. “A companhia já deixou claro que essa é uma concessão que não quer manter no seu portfólio”, afirma o presidente.