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Brasil necessita de investimentos em infraestrutura para potencializar mercado de gás natural
País tem reservas para explorar e monetizar, possibilitando a geração de emprego e renda na cadeia de valor do gás natural que é ator importante na transição energética
FONTE: Valor Econômico
A importância estratégica do gás natural ficou ainda mais evidente quando a guerra na Ucrânia se iniciou, há pouco mais de um ano. Os países europeus, em geral, utilizam o energético não apenas nas indústrias e termelétricas, como também nos sistemas de calefação residencial e transporte de veículos pesados. Mas muitos deles são totalmente dependentes da importação, como é o caso da França, por exemplo. O Brasil está muito bem-posicionado nesse cenário: tem suas próprias reservas, muitas delas ainda a explorar. Mas precisa de ações estruturais para reduzir sua exposição à necessidade de importação e volatilidade da oferta internacional, a fim de reforçar a segurança de abastecimento, competitividade energética e desenvolvimento econômico.
“Não basta contar com reservas, é fundamental realizar os investimentos certos para garantir a disponibilidade do energético”, avalia Ovidio Quintana, diretor Comercial e Regulatório da Transportadora Associada de Gás – TAG, empresa proprietária e gestora da mais extensa rede de gasodutos de transporte de gás natural do país, distribuídos entre as regiões Norte, Nordeste e Sudeste.
Em 2021, a produção de petróleo e gás natural do Brasil atingiu um recorde, alcançado novamente em 2022. Segundo a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), no ano passado a produção bruta de gás natural atingiu a média anual de 138 milhões de metros cúbicos por dia, 2,98% acima da marca de 134 milhões de metros cúbicos por dia registrada em 2021. Destes volumes, respectivamente 51,49 e 47,56 milhões de metros cúbicos dia foram destinados ao mercado em 2021 e 2022 (oferta nacional líquida).
O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) estima que o país tem potencial de alcançar os 111 milhões de metros cúbicos por dia em oferta doméstica líquida no início da próxima década. “A descoberta de novos campos em águas ultra profundas no litoral de Sergipe e de Alagoas, que abre a mais importante fronteira de exploração e produção no país depois do pré-sal, contribui para o cenário otimista — desde que se garanta o acesso deste gás ao mercado por meio da conexão integrada à rede de transporte, assegurando liquidez e competição em nível nacional”, aponta Quintana.
Vantagens estratégicas
“O Programa de Revitalização da Atividade de Exploração e Produção de Petróleo e Gás Natural em Áreas Terrestres (REATE) tem proporcionado um dinamismo importante para o mercado. E há outras regiões com grande potencial, em especial o Maranhão, e áreas na Bahia, Alagoas, Sergipe e no litoral do Rio Grande do Norte”, descreve Quintana. “Para garantir a monetização da produção, precisamos pensar estrategicamente, planejando o investimento em infraestrutura com visão de longo prazo. O custo para o país da falta de infraestrutura logística adequada é muito superior ao valor dos investimentos necessários para construí-la. Quando se investe corretamente, o retorno da monetização das reservas para a sociedade é muito alto”, analisa.
O gás natural apresenta uma série de vantagens, lembra o diretor: “Ele é amigo da transição energética. Entre os combustíveis fósseis, é o mais limpo. Oferece flexibilidade e segurança sendo armazenável, favorecendo o gerenciamento da intermitência de fontes renováveis”. Fonte energética importante, competitiva e eficiente, o gás natural pode contribuir para a redução das emissões, especialmente nos casos de substituição de outros combustíveis fósseis para uso industrial, transporte pesado e para a geração elétrica.
De acordo com a Agência Internacional de Energia, na comparação com o carvão, o gás natural gera 44% menos gás carbônico por unidade de energia gerada. Em relação ao óleo combustível empregado pelo setor industrial, emite 33% menos gás poluente – além de ser mais eficiente.
Essas características viabilizam o transporte para diferentes localidades, assim como o fornecimento de energia para empreendimentos industriais de alta demanda de consumo, como termoelétricas e produtoras de vidros e cerâmica, além da indústria siderúrgica, petroquímica, entre outros players. “Quando se busca o net zero, ou seja, o equilíbrio, o gás natural é estratégico. Pode reduzir a dependência do Brasil de fertilizantes importados, por exemplo”, afirma o diretor da TAG.
Na comparação com o carvão, o gás natural gera 44% menos gás carbônico por unidade de energia gerada, segundo a Agência Internacional de Energia — Foto: Getty Images
Abastecimento do mercado
O setor privado vem participando ativamente do desenvolvimento da cadeia do gás natural no Brasil. No que tange ao segmento de transporte, a TAG trabalha para conectar múltiplas fontes de suprimento para atendimento da demanda nacional, gerando um ciclo virtuoso que oferece ao mercado um cardápio diverso de escolha entre diferentes supridores da molécula. Nesse sentido, a transportadora de gás atua para fortalecer um ambiente de ‘Market Place’ oferecendo liquidez, flexibilidade, segurança de abastecimento e competição em favor do desenvolvimento sustentável do Novo Mercado.
Em Sergipe, em especial, a TAG se posiciona para fortalecer esse conceito, investindo na conexão do terminal de gás natural liquefeito (GNL) existente, gerando empregos e impulsionando a economia. “O gás natural ofertado a partir de Sergipe pode atender a qualquer mercado do país conectado à malha integrada de transporte. É fisicamente conectado em Sergipe, mas comercialmente disponível para todo o Brasil”, diz Ovidio Quintana.
Desde meados de abril deste ano, foram iniciadas as atividades de construção e montagem do gasoduto de interligação do terminal, que abrange cerca de 25 quilômetros de extensão além de infraestruturas de acesso necessárias, como pontos de recebimento e entrega de gás natural. Os investimentos previstos são de aproximadamente R$ 340 milhões. No local das obras já estão armazenados mais de 90% dos tubos fabricados em aço carbono de liga especial.
— Foto: Divulgação/TAG
— Foto: Divulgação/TAG
Com a conexão do Terminal de GNL em Sergipe, o gás natural ofertado a partir deste Estado pode atender qualquer mercado do país conectado à malha integrada de transporte de gás natural. As obras de construção e montagem do gasoduto foram iniciadas em abril deste ano — Foto: Divulgação/TAG
Com início das operações previsto para 2024, o projeto é um marco na retomada da ampliação da rede de transporte nacional e mais um importante avanço no processo de abertura e expansão do mercado de gás natural no Brasil, viabilizando o acesso de uma significativa fonte de suprimento para atendimento à demanda do energético no país. Atualmente, a TAG possui cerca de 350km de gasodutos em operação no Estado de Sergipe, atendendo a partir de seus pontos de entrega de gás natural conectados à malha da distribuidora de gás canalizado, o fornecimento do energético aos mercados locais e planta de fertilizantes.
Com o objetivo de fortalecer a integração das malhas entre as regiões Nordeste e Sudeste, bem como permitir a ampliação da capacidade e da flexibilidade do sistema para a movimentação do gás efluente dos diferentes pontos de oferta, a TAG direciona seu plano de investimentos para a manutenção e integridade dos ativos (segurança e desempenho operacional), bem como para atendimento ao crescimento do mercado.
O mercado se beneficia, com a retomada dos investimentos no setor e geração de empregos em diferentes estados, além do acesso a um cardápio diversificado de opções de gás natural para consumo industrial, termoelétrico, veicular e residencial.
— Foto: Arte/GLab