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Para estancar crise, Unigel adia projeto e atrasa pagamento a fornecedor, dizem fontes
As dificuldades da Unigel refletem a forte queda dos preços de produtos químicos e da ureia e da amônia no mercado internacional, sem a correspondente redução dos custos com matéria-prima
FONTE: Valor Econômico
A Unigel, uma das mais tradicionais indústrias químicas brasileiras, está adiando um de seus principais projetos de crescimento e renegociando prazos de pagamento a esses fornecedores, numa tentativa de conter a crise desencadeada pela forte compressão das margens nos negócios agro e de químicos desde o segundo semestre de 2022, apurou o Valor.
Segundo duas fontes do setor, a companhia teria atrasado em 60 dias o pagamento a pequenos fornecedores. Outra fonte, próxima ao grupo, afirmou que, de fato, a Unigel está buscando alongar os prazos de pagamento, mas somente junto aos fornecedores do projeto de produção de ácido sulfúrico na Bahia, que foi postergado por causa do momento financeiro delicado. “É pontual”, afirmou.
Com 80% das obras já encaminhadas, a fábrica com capacidade de produção de 450 mil toneladas por ano de ácido sulfúrico entraria em operação no fim deste semestre. Agora, a partida está estimada para o começo de 2024. O grupo emitiu R$ 500 milhões em debêntures de cinco anos, em 2022, com vistas a financiar o projeto.
O outro grande projeto da Unigel, de hidrogênio verde, ainda está fase inicial, de construção dos módulos na Europa, pela Thyssenkrupp Nucera.
Segundo uma das fontes, a companhia também deve buscar a renegociação de compromissos financeiros (covenants) assumidos em determinados contratos de dívida, uma vez que a piora da alavancagem financeira tende se manter ao longo de 2023.
Em março, a dívida líquida de R$ 3,03 bilhões correspondia a 2,16 vezes o resultado operacional (Ebitda) em 12 meses, versus 1,3 vezes três meses antes. No primeiro trimestre, o Ebitda ajustado somou R$ 104 milhões, queda de 82% na comparação anual, com margem de 5,7% (comparável a 22,6% um ano antes).
As dificuldades da Unigel refletem a forte queda dos preços de produtos químicos e da ureia e da amônia no mercado internacional, sem a correspondente redução dos custos com matéria-prima, em um momento de elevados investimentos em expansão.
O grupo tenta desde janeiro renegociar os preços do gás natural junto à Petrobras e outros fornecedores, mas ainda não há desfecho. O Valor apurou que o gás entregue na fábrica de fertilizantes Sergipe operada pela Unigel custa mais de US$ 14 por milhão de BTU, contra US$ 3 o milhão de BTU nos Estados Unidos. Com isso, o fertilizante importado chega ao país com preços mais competitivos.
Enquanto as negociações continuam, a companhia decidiu estender por ao menos mais 90 dias a parada para manutenção na unidade de Sergipe e propôs a suspensão temporária dos contratos de trabalho. A fábrica de fertilizantes da Bahia, que também foi arrendada da Petrobras, segue operando normalmente.
Procurada, a companhia não comentou o assunto.