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Siderúrgicas jogam expectativas de alta nas vendas para 2024

Aço Brasil revisou a projeção que fez em novembro de crescimento de 1,5% no consumo aparente de aço em 2023 para uma retração de 1%

FONTE: Valor Econômico

Após um início de ano fraco no consumo de aço no mercado brasileiro, as expectativas para o setor foram jogadas para 2024. Os fabricantes de aço revisaram nesta segunda-feira (17) as projeções de um cenário de crescimento, ainda que modesto, em 2023, para um ano negativo em vendas e no consumo de material.

Jefferson De Paula, presidente do conselho diretor do Instituto Aço Brasil e executivo-chefe do grupo ArcelorMittal no Brasil, apontou vários fatores para o setor siderúrgico vir com desempenho positivo no próximo ano.

Em primeiro lugar, está a estimativa de PIB para 2024, de expansão de 2% a 2,5%, ante os 0,9% ou 1% deste ano. “Consideramos ainda que a reforma tributária vai passar, o juro vai cair, os programas de obras de infraestrutura que o governo está anunciando, o programa de saneamento já resolvido no Congresso e a aceleração do programa habitacional Minha Casa, Minha Vida”.

Para o executivo, 2023 será um ano de transição, que vai carregar a inércia que existe até a reforma tributária passar. “Isso ocorrendo, vai influenciar positivamente o ambiente de negócios do país”, afirma De Paula.

O cenário deste início de ano, e que promete continuar para o restante de 2023, envolve questões conjunturais – locais e do exterior – afirmou Marco Polo de Mello Lopes, presidente-executivo do Aço Brasil Ele pontua, por exemplo, no país, os juros elevados, o crédito escasso e a inflação. “A reforma tributária será um divisor de águas para o país”, diz.

Representando 11 grupos, donos de 31 usinas produtoras de aço, a entidade revisou as projeções feitas em novembro. A nova estimativa para o ano é de queda de 1% no consumo aparente, descendo a 23,2 milhões de toneladas. A anterior previa crescimento de 1,5%. O juro elevado é visto como um motor de desaquecimento.

“Não temos nenhum indicador para otimismo neste ano de 2023”, diz Lopes. Ele aponta que dois dos três grandes consumidores de aço no país – construção civil e máquinas e equipamentos – mostram recuo nas suas atividades. Junto com automotivo, que deve crescer sobre uma base baixa, os três respondem por 82% do aço consumido no país. O setor imobiliário desacelerou o ritmo de lançamentos de imóveis.

Conforme o Aço Brasil, o primeiro trimestre ainda mostrou recuperação em março – principalmente por formação de estoques nos distribuidores – e maior número de dias úteis. Terminou com alta de 2% nas vendas das usinas e de 3,4% no consumo aparente, na mesma base de comparação.

Uma certa compensação do recuo da demanda interna é esperada nas exportações, que registraram 6,1% de retração até março, mas que projeta alta de 7,6% no ano, indo a 12,85 milhões de toneladas. “As empresas, com a retração interna, vão buscar mercados para vendas spot onde houver comprador”, observou De Paula.

A produção de aço bruto indica fechar o ano com alta de 2%, em 34,65 milhões de toneladas.

As importações, um fantasma que ronda a siderurgia no país, deram um salto de 22,2% de janeiro a março, mas a projeção para o ano indica acomodação, ficando em 2,5%, em 3,4 milhões de toneladas – quase o volume de vendas locais de uma siderúrgica como a CSN. No ano, para as vendas internas das usinas, a projeção do Aço Brasil é de queda de 0,7%, ficando em 20,1 milhões de toneladas.

De Paula disse que a visão do setor, apesar do momento difícil, é de longo prazo. “Continuamos confiantes no potencial do Brasil e fazendo investimentos da ordem de R$ 10 bilhões ao ano, de agora até 2026”. Os aportes envolvem novos projetos, modernização e expansões de usinas existentes.

A capacidade produtiva do setor é de 51 milhões de toneladas de aço bruto por ano, mas o índice de utilização foi de 64% em março. “Há uma concorrência global, com excesso gigantesco de capacidade, principalmente na China, país que responde por 54% de todo aço que entra no Brasil”, afirmou Lopes.

O setor vê como agenda de prioridades a retomada do crescimento econômico, recuperação da competitividade sistêmica (reduzir custo Brasil) mais reforma tributária e transição energética (sucata, gás natural e energia renovável).