.
Péssimo resultado da balança comercial dos químicos no primeiro bimestre exige atenção especial do governo
FONTE: PetroNotícias
Se buscarmos um bom exemplo de desequilíbrio na balança comercial brasileira, a de produtos químicos, setor estratégico para o país, é um modelo. Os principais índices dos produtos químicos de uso industrial encerraram o 1º bimestre de 2023 com resultados negativos, na comparação com igual período do ano anterior. A produção e as vendas internas recuaram, respectivamente, 12,44% e 5,32%, enquanto a demanda interna, medida pelo consumo aparente nacional (CAN), manteve-se praticamente constante, com ligeira queda de 0,3%. Como a produção caiu de forma acentuada e a demanda se manteve, as importações cresceram expressivamente, com alta de 13,2%, sobretudo pelo aumento do volume de compras de intermediários para fertilizantes, petroquímicos básicos e resinas termoplásticas. Já a utilização da capacidade instalada apresentou índice de apenas 67% na média dos dois primeiros meses deste ano, com recuo de sete pontos percentuais em relação a igual período do ano anterior.
Notadamente em razão do recuo das cotações, atribuído a um menor dinamismo da demanda internacional e maior oferta de produtos no mercado, houve deflação de 1,88% nos preços dos produtos químicos medidos pelo IGP Abiquim-FIPE no acumulado dos dois primeiros meses do ano. Vale lembrar a característica da indústria química brasileira de ser tomadora de preços no mercado internacional e não formadora, a exemplo do que ocorre com suas matérias-primas principais, a nafta petroquímica e o gás natural.
Na análise dos últimos 12 meses encerrados em fevereiro de 2023, sobre os 12 meses imediatamente anteriores, os principais índices de volume também são negativos: produção caiu 5,29% e o CAN recuou 4,7%, enquanto as importações foram inferiores em 6,9%. Por outro lado, o índice de vendas internas teve ligeiro acréscimo de 0,17%, mostrando ainda alguma resiliência. Os químicos estão na base de praticamente todas as cadeias industriais e, por essa razão, é crescente e dinâmica sua utilização e efeito multiplicador da economia. Por outro lado, também pela falta de competitividade, as exportações recuaram 15,4% nos últimos 12 meses encerrados em fevereiro de 2023. Já a participação das importações sobre o CAN foi de 44%. Além da elevada penetração de importados no mercado, deve-se registrar o crescimento emblemático do déficit de químicos que, nos últimos doze meses encerrados em fevereiro de 2023 alcançou US$ 62,3 bilhões, valor exatamente igual ao do total do superávit da balança comercial brasileira. Ou seja, “os produtos químicos anulam todo o esforço exportador de produtos mais básicos do Brasil,” diz a Abiquim. O índice de preços teve deflação de 22,6% entre março de 2022 e fevereiro de 2023.
Segundo Fátima Giovanna Coviello Ferreira, diretora de Economia e Estatística da Abiquim, a expectativa do setor é a de que o País caminhe na direção da correção e/ou eliminação dos principais fatores que afetam ou distorcem a competitividade das empresas que produzem localmente: “Será fundamental encaminhar importantes reformas estruturais ainda no primeiro semestre do ano, como a tributária, além de atacar outros custos que afetam a indústria. Vale destacar que a indústria química vê com muito bons olhos o Programa Gás para Empregar, anunciado pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), que pode tornar o Brasil mais competitivo, atraindo inúmeras oportunidades de investimento que estão, há tempos, represadas. O Brasil precisa acelerar a solução dessas questões de competitividade se não quiser perder a corrida da reindustrialização. Estados Unidos e Europa estão liderando ao fazerem investimentos pesados em política industrial com o lançamento do Inflation Reduction Act (IRA) e do Chips Act, que, somados, representam uma injeção de mais de US$ 650 bilhões na economia americana; e o Green Industrial Plan, para reduzir as emissões para zero a partir de produção local, e o European Chips Act, com 43 bilhões de euros na indústria europeia.”