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Meta global é reduzir dependência da China
FONTE: Revista Minérios & Minerales
A invasão da Ucrânia pelas forças russas abalou os mercados globais de energia, fertilizantes e alimentos, cujos efeitos são sentidos ainda hoje. Até o movimento de transição energética para diminuir o uso de combustíveis fósseis sentiu o baque, porque as termelétricas a carvão precisam continuar gerando energia no novo cenário político, e as que estão em stand by passaram a ser vistas como reserva estratégica, e programas de manutenção foram reforçados. Até as usinas nucleares foram reclassificadas e há analistas que passaram a chamá-las de “verdes”. O veículo elétrico é o carro chefe da transição energética preconizada pelos países industrializados, que depende de alguns metais críticos para produzir as baterias recarregáveis. A Associação Internacional de Energia estima que a demanda por veículos elétricos vai depender de 50 novas minas de lítio, 60 de níquel e 17 de cobalto operando por volta de 2030.
Os países industrializados precisam reduzir a dependência com relação à China, que mantém a estratégia de buscar fontes de metais críticos há muitos anos ao redor do mundo – 90% de terras raras e 60% de lítio são processados hoje na China. O governo americano promulgou em 2022 a lei US Inflation Reduction Act, que dá US$7,5 bilhões de crédito fiscal para compradores de veículos elétricos se as baterias utilizarem matéria prima produzida ou processada nos EUA, países parceiros comerciais ou via reciclagem. A lei provocou uma verdadeira corrida para realocar as cadeias de produção para lá, com investimentos das empresas que já somam US$13,5 bilhões!!! A lei também prevê agilizar as licenças de novas minas no país.
No Canadá, o governo lançou um programa estratégico para minerais críticos para fomentar a produção local, acelerando as licenças de novas minas e projetou investimentos para infraestrutura destinada a dar acesso a novos depósitos. Foi criada uma barreira legal para empresas estatais estrangeiras participarem de mineradoras de minerais críticos – e três grupos chineses terão que vender suas participações em mineradoras canadenses. A Austrália e a Comunidade Européia aprovaram estratégias similares, incluindo expandir as reservas locais de lítio e terras raras. A nova política industrial em gestação no governo brasileiro deve incluir necessariamente a produção dos metais críticos, como mostra a matéria sobre os projetos de lítio na região de Araçuaí, ao norte de Minas Gerais, que já atraíram sete empresas. Algumas delas se valem de recursos levantados através da Bolsa de Toronto, no Canadá. Brasil já entrou no cenário mundial dos insumos minerais para baterias recarregáveis. Ao Itamaraty re-empoderado cabe articular o novo “não alinhamento” do País com relação às potências globais. A equidistância vai engrossar o fluxo de novos investimentos em busca de países “seguros”. Que a nova âncora fiscal não demore e fique a salvo do fogo amigo e inimigo.