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Estaleiros defendem volta de programas de apoio da Petrobras à indústria naval
Sinaval pleteia retomada ou reformulação de iniciativas como o Prorefam e Promef
FONTE: EPBR
RIO – O secretário executivo do Sindicato Nacional da Indústria da Construção e Reparação Naval e Offshore (Sinaval), Sérgio Leal, defende que a Petrobras retome — ou reformule — antigos programas de promoção do setor, como o Programa de Renovação da Frota de Apoio Marítimo da Petrobras (Prorefam), e o Programa de Modernização e Expansão da Frota da Transpetro (Promef).
Mira, assim, o aumento da demanda por serviços de construção de barcos de apoio e embarcações de transporte de cargas, como petroleiros e gaseiros.
E defende um aumento da quantidade de encomendas de integração de módulos de plataformas, de forma que, progressivamente, os estaleiros brasileiros consigam construir FPSOs.
“O papel indutor da Petrobras de progresso não pode nunca ser negligenciado no Brasil. E esperamos, realmente, que as promessas e as intenções – tanto do presidente da Petrobras, quanto do próprio presidente da República – tenham frutos”, disse Leal ao programa antessala, da agência epbr.
Na última década, as grandes encomendas de plataformas migraram para os estaleiros asiáticos. Dados do Sinaval mostram que, em 2014, a indústria naval brasileira somava cerca de R$ 9,5 bilhões em projetos contratados. Em 2021, esse valor era de R$ 570 milhões.
A crise do setor, desencadeada a partir de 2014, quando os estaleiros brasileiros entram na mira das investigações de corrupção da Lava Jato, refletiu-se na geração de empregos: desde o ápice de postos de trabalho, de 82 mil em dezembro de 2014, o país perdeu mais de 60 mil vagas. Em maio de 2022, eram cerca de 21 mil.
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Frente parlamentar
Com o apoio do Sinaval, o deputado estreante na Câmara, Alexandre Lindenmeyer (PT/RS), recolhe assinaturas para criar a Frente Parlamentar em Defesa da Indústria Naval Brasileira.
Uma das sugestões do parlamentar é usar justamente o “poder de compra estatal” para aumentar o fluxo de encomendas, principalmente da Petrobras, por meio de exigências de conteúdo local.
“Temos que trabalhar muito com o Congresso e com o Executivo de forma que possamos ter um arcabouço legislativo forte, retomando as atividades que tivemos no passado e que foram abandonadas de 2014 para cá”, afirmou Leal.
Ele defende uma política setorial que transcenda os governos de turno. “A construção naval não pode ficar à mercê de políticas que acontecem somente durante determinados governos ou durante a vigência daquele governo. Precisávamos de uma política nacional, que fosse uma política de Estado”.
A dependência da Petrobras
Na avaliação do especialista em logística de óleo e gás, Marcus D’Elia, da Leggio Consultoria, a dependência do setor naval da Petrobras é um “calcanhar de Aquiles”.
“Olhar para a Petrobras como o grande indutor da indústria naval sempre gera uma vulnerabilidade, principalmente se a empresa tiver uma estratégia diferente”, ressaltou D’Elia, em entrevista ao antessala epbr.
Ele lembrou justamente a situação financeira da Petrobras em 2014, que levou a companhia a enxugar seus investimentos.
“A indústria naval que estava apoiada na Petrobras ficou sem demanda”, diz. “É claro que a Petrobras é um grande contratante e com certeza pode participar também dessa indústria, mas focar nisso não seria prudente”, avalia o especialista.
Ele acredita que a indústria naval no Brasil ainda possui enorme potencial de crescimento. D’Elia cita que o desenvolvimento de novas fronteiras exploratórias, como a margem equatorial, pode demandar novas plataformas, navios de apoio offshore, bem como de embarcações para transporte e exportação de petróleo e derivados.
Petrobras defende política pública
O novo CEO da petroleira, Jean Paul Prates, disse, no início do mês, que a companhia buscará aumentar, em seus projetos, os índices de conteúdo local. Mas ponderou que a retomada do setor depende de um esforço coletivo.
“Não basta a Petrobras querer fazer isso [aumentar o conteúdo local]. Tem que haver condições para isso”, disse.
Prates destacou que falta competitividade aos estaleiros nacionais. Segundo ele, a Petrobras, hoje, “praticamente não tem opção” no mercado nacional.
“Quando há uma discrepância desse nível [de competitividade], precisamos de política pública, outro tipo de abordagem a esse problema. Mas vamos participar ativamente dessa abordagem”, comentou.
Prates citou, ainda, que outra possibilidade para a retomada do setor naval pode vir de oportunidades geradas pela transição energética — como, por exemplo, a demanda potencial por montagem de equipamentos para eólicas offshore.