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Venda da Braskem aguarda aceno de Petrobras

Controladora Novonor não descarta formatos diferentes para negociar sua participação na petroquímica

FONTE: Valor Econômico

As negociações para venda da Braskem estão em compasso de espera, uma vez que os potenciais investidores ainda não têm clareza quanto as novas diretrizes da Petrobras, sob a gestão de Jean Paul Prates, para a petroquímica. Segundo uma fonte a par do assunto, potenciais interessados pela parte da Novonor não veem com bons olhos uma sociedade com a estatal sob a gestão do PT.

Ainda assim, apurou o Valor com fontes ligadas a um dos bancos credores, a Apollo mantém a “due diligence” (auditoria) e, no movimento mais recente, pediu à petroquímica para ter acesso ao seu plano plurianual de negócios – o planejamento estratégico propriamente dito.

A gestora americana ainda não chegou à etapa mais cara e importante deste processo, a ambiental, e pode ter seus planos barrados pela Petrobras. Segundo pessoas a par do assunto, sob nova gestão, a estatal também não se empolga em ter um sócio estrangeiro como co-controlador de um negócio considerado estratégico para o país.

Uma parte dos bancos credores que tem as ações da companhia como garantia apostava que a empresa pudesse atrair mais investidores este ano, inclusive estrangeiros. Mas, por enquanto, não há novos interessado, assim como não há negociações em andamento para a venda da parte da Novonor na petroquímica.

A antiga Odebrecht conseguiu mais tempo para vender a Braskem. O prazo acertado com os credores venceu em setembro passado e foi prorrogado inicialmente por 60 dias, com períodos adicionais de 30 dias que passam a valer automaticamente se nenhuma das partes se manifestar contra. A Novonor não descarta diferentes formatos para a venda de sua participação na empresa.

Um dos pontos críticos da operação da Braskem é Alagoas, onde o afundamento do solo na capital foi associado à extração de sal-gema da companhia. A companhia reservou mais de R$ 10 bilhões para fazer frente aos gastos gerados pelo evento geológico e tem importado o sal usado no processo de produção do PVC, mas a preocupação não é só com os dispêndios, disse uma fonte.

Com a queda dos preços da resina, não está claro se essa operação está rodando no azul. Ainda assim, Alagoas não deve ser um impeditivo a venda da Braskem. Na avaliação de fontes do setor, um grande player de vinílicos, como Orbia, poderia ter interesse em assumir esse ativo. É questão de preço, avaliou uma fonte.

Dos demais interessados na petroquímica, J&F também pediu acesso ao data room de Braskem e a Unipar ainda não apresentou nova proposta. A oferta que a companhia paulista levou à Novonor pelos ativos da Braskem em São Paulo, com exceção da fábrica de polipropileno (PP) em Paulínia (SP), expirou no ano passado e não foi renovada.

Ainda não está claro se a Unipar voltará ao jogo, conforme uma outra pessoa a par do assunto. Mas houve alguns desdobramentos importantes. O novo governo já deixou claro aos potenciais compradores e vendedores que não vê com bons olhos a venda do controle da Braskem para um grupo estrangeiro.

Segundo fontes, diferentes interlocutores tiveram contato com os interessados e sinalizaram que não agrada a ideia de ceder o controle da principal petroquímica do país, um ativo considerado estratégico, a um grupo de fora. Ou seja: a Apollo até poderia ser acionista ou comprar algumas operações da Braskem, não a totalidade, como está prevista na proposta apresentou à Novonor no ano passado.

A leitura de um dos participantes do processo é que a estatal pode ter interesse em ficar com os ativos de base gás da Braskem – Riopol, em Duque de Caxias (RJ) e a fábrica de PP em Paulínia -, que estão mais integrados a suas operações. Dentro do novo governo, há quem defenda que a Petrobras deve manter um braço de atuação na petroquímica.

Do lado operacional, 2023 e 2024 tendem a ser anos bem difíceis para a Braskem. Os preços das matérias-primas petroquímicas recuaram, mas as cotações das principais resinas termoplásticas e petroquímicos básicos caíram mais, reduzindo fortemente os “spreads” (que dão a margem do negócio).

Para se preparar para esses tempos mais difíceis, a Braskem aproveitou uma janela no mercado de dívida no exterior e captou US$ 1 bilhão no início do mês para fortalecer seu caixa. A forte desvalorização das ações da companhia reflete esse ambiente e as incertezas quanto ao processo de venda.

No fim de janeiro do ano passado, a companhia estava planejando levantar até R$ 8 bilhões em uma oferta subsequente de ações (“follow-on”), mas os acionistas Novonor e Petrobras desistiram da operação. À época, a maior demanda dos investidores pelos papéis estaria concentrada com o preço da ação a R$ 40, valor considerado insatisfatório peles controladores. Quando a operação foi anunciada, o papel era negociado a R$ 52.

Hoje, os papéis PNA são negociados a R$ 19,86, com queda de 56,7% nos últimos 12 meses, segundo o Valor Data.

Procurada, a Novonor ressaltou em nota que, até o presente momento, não houve qualquer evolução vinculante e material nas alternativas que envolvem o endereçamento de sua participação na Braskem. “A empresa segue empenhada no processo, atendendo às demandas de todos os potenciais interessados nessa transação.”

A Unipar disse que não comenta rumores de mercado. J&F, dona da JBS, também não comentou o assunto.

Em nota, a Petrobras informou que não está conduzindo nenhuma estruturação de operação de venda no mercado privado. “A companhia manterá o mercado informado a respeito de eventuais informações relevantes sobre o assunto.” A Apollo não retornou os pedidos de entrevista até o fechamento desta edição.