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Investimentos em etanol de trigo no RS já somam R$ 1 bilhão
BSBios, Cotrijal e CB Bioenergia anunciaram três projetos no ano passado; unidades terão capacidade de produzir 300 milhões de litros por ano
FONTE: Valor Econômico
No ano passado, duas empresas e uma cooperativa anunciaram projetos de três usinas de etanol à base de trigo que, somadas, receberão investimentos de R$ 1 bilhão. As três unidades darão ao Estado uma capacidade de produção de 300 milhões de litros do biocombustível por ano, segundo dados compilados pelo Itaú BBA.
Os anúncios dos investimentos ocorreram após o governo gaúcho lançar o programa Pró-Etanol, em 2021, que garantiu crédito presumido de ICMS para o etanol produzido no Estado. O maior empreendimento é o da BSBios, que desembolsará R$ 556 milhões para erguer uma planta em Passo Fundo, onde a companhia já produz biodiesel. A cooperativa Cotrijal anunciou que investirá R$ 300 milhões em uma usina em Não-Me-Toque, e a CB Bioenergia vai desembolsar R$ 75 milhões para construir uma planta no município de Santiago.
A oferta adicional de etanol poderá atender pouco mais de 30% da demanda pelo biocombustível no Estado, segundo o Itaú BBA. Hoje, quase todo o consumo no Rio Grande do Sul é de etanol anidro (aditivo à gasolina) — o hidratado tem uma fatia de apenas 1%.
A limitada produção local reduz a competitividade do biocombustível nas bombas. O etanol hidratado costuma ser vendido por 90% do valor da gasolina nos postos do Rio Grande do Sul, um patamar muito distante do necessário para torná-lo competitivo, entre 70% e 75%.
Na avaliação do banco, a oferta adicional do etanol de trigo deve pressionar os preços do biocombustível, a não ser que as usinas locais tenham capacidade de tancagem, capital de giro e liquidez para evitar a pressão vendedora de curto prazo. A falta de correlação entre o preço do trigo e o do complexo energia, que orienta os preços do etanol, é outro fator de risco, diz o Itaú BBA. “É possível que haja ocasiões em que os preços do trigo subam por causa de um choque de oferta, por exemplo, e as cotações do etanol permaneçam em patamares baixos”, avaliou o banco.
A instalação das usinas também criará uma nova demanda pelo trigo, o que pode ter impacto sobre os preços do cereal no Estado. Para a produção dos 300 milhões de litros por ano, as usinas precisarão de 790 mil toneladas de trigo, volume que corresponde a 16% da colheita no Rio Grande do Sul e a 8% da nacional.
Atualmente, o Brasil ainda depende do trigo importado para abastecer sua indústria moageira. Em 2022, 55% do consumo nacional de trigo veio de importações, que alcançaram mais de 11 milhões de toneladas. Para que a produção nacional de trigo abasteça as usinas de etanol e mais importações sejam evitadas, a produção do cereal no Rio Grande do Sul teria que crescer 17%.