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Portos, transmissão e regulação são incertezas para eólicas offshore no Brasil
Até dezembro do ano passado, os pedidos de licenciamento no Ibama para instalação de parques eólicos offshore somavam 176,5 GW
FONTE: EPBR
Estudo da Coppe/UFRJ, Abeeólica (associação da indústria eólica) e a consultoria Essenz sobre os desafios para projetos eólicos offshore aponta que nenhum porto brasileiro está completamente pronto para a operação plena e imediata na montagem de parques.
Cabotagem é o modal de transporte preferencial para a indústria eólica offshore, tendo em vista a dimensão e o peso dos equipamentos.
E é aos portos que essas peças vão chegar para compor os parques, quando os projetos começarem a sair do papel.
“Pelo lado bom, se verificou que não há necessidade da construção de novos portos ou terminais”, conta o professor Maurício Tolmasquim, coordenador do levantamento.
Ele explica que o conjunto da infraestrutura portuária brasileira, com as devidas capacitações adicionais, é suficiente para atender a demanda de forma mais rápida e a menor custo do que seria construir uma unidade.
As adaptações mais demandadas são aumento da capacidade de carga dos cais de atracação, maior oferta de área de armazenagem contígua ao cais e capacitação da resistência do solo.
- Na epbr: Portos com eólicas offshore são modelos preferidos para hidrogênio verde no Brasil
O estudo, divulgado na semana passada em workshop da Abeeólica, é composto de onze notas técnicas, analisando diferentes aspectos que precisam ser resolvidos para implantação dessa nova tecnologia no país.
Ainda em termos de infraestrutura, Tolmasquim elenca pelo menos quatro desafios relacionados à transmissão: localização dos projetos, desalinhamento de cronograma, obrigações do proprietário e impacto ambiental.
Até dezembro do ano passado, os pedidos de licenciamento no Ibama para instalação de parques eólicos offshore somavam 176,5 GW.
O potencial é muito maior: a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) calcula que a geração de eletricidade a partir de ventos marítimos pode ser superior a 700 GW.
Toda essa eletricidade dependerá de redes de transmissão para poder ser aproveitada no continente.
No entanto, a indefinição dos pontos de acesso à rede dificulta a previsão da capacidade do sistema de transmissão em absorver esta injeção de energia, alerta o estudo.
“Está previsto um aumento significativo da margem de escoamento de energia para as áreas Norte e Nordeste e que tende a melhorar a condição para o escoamento da energia na região com maior potencial de empreendimentos eólicos offshore. Contudo, ainda é complexo afirmar qual a real a capacidade de absorção do SIN”.
Regulação no meio do caminho
O estudo é favorável à regulação via decreto, como já está ocorrendo.
A análise é que o texto publicado no ano passado já traz “confiança e sinalização adequada aos agentes”, diz Tolmasquim.
“Se criarmos uma lei, o risco dela entrar em choque com o que está no decreto é muito grande (…) considerando que uma lei votada no Congresso, você sabe como entra, mas não sabe como sai”.
A movimentação da indústria é pelo avanço da regulação que começou com o decreto. Elbia Gannoum, presidente da Abeeólica, diz que pretende levar essa posição ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
“Vamos seguir de agora em diante, porque até agora o que construímos está muito bem estruturado”, comentou Elbia.
Para a executiva, voltar atrás na discussão “lei ou decreto” geraria instabilidade.
“Estamos no caminho adequado, faltam alguns poucos mecanismos regulatórios para prepararmos e termos nosso primeiro leilão de cessão de uso. Depois desse primeiro leilão, tem um longo caminho, até pela busca das licenças ambientais”.
A intenção do setor é ter o primeiro leilão ainda este ano.
Brasil precisa se posicionar logo
Em 2021, o Brasil foi o terceiro maior investidor global em eólica onshore, de acordo com dados mais recentes e já é a sexta economia mundial em capacidade instalada.
A eletricidade gerada a partir dos ventos responde hoje por cerca de cinco gigawatts (GW) em operação – a segunda fonte de geração do país.
Na visão de Tolmasquim, o país está em excelente posição em relação a outros mercados emergentes, pelas experiências nos setores de óleo e gás offshore, eólica onshore e construção civil. Além da disponibilidade de matéria-prima.
O material mais usado na indústria eólica offshore é o aço. Mas há também a necessidade de terras raras, como por exemplo o neodímio e o disprósio que são usados nas turbinas eólicas.
“Temos esses minerais, mas temos todas as limitações relacionadas à fabricação e beneficiamento”, observa o professor.
E é justamente essa limitação na fabricação de componentes que adiciona urgência aos projetos.
“O Brasil precisa se posicionar rapidamente porque a cadeia de fornecimento para offshore é reduzida. Se o Brasil demorar a se posicionar, Estados Unidos, Europa e Ásia vão absorver essa cadeia e vamos perder todo esse potencial de investimento”, completa Elbia.
Na Europa, por exemplo, Portugal planeja lançar seu primeiro leilão de eólica offshore também até o final deste ano.
O país quer atingir 10 GW de capacidade instalada até 2030. Esta semana, o governo português lançará uma audiência pública sobre as propostas de delimitação de áreas para os projetos. (Reuters)
Em expansão
Geração centralizada deve crescer 10,3 GW em 2023, de acordo com projeções do Ministério de Minas e Energia (MME). É a maior expansão anual da capacidade instalada de energia elétrica já registrada no país.
Usinas solares e eólicas deverão responder por mais de 92% desta ampliação.
A expectativa é que 298 usinas geradoras entrem em operação ou adicionem capacidade, em 18 estados brasileiros, com destaque para Bahia (3,1 GW), Rio Grande do Norte (2,8 GW) e Minas Gerais (1,8 GW).
72% das usinas estão no mercado livre e a energia deve ser direcionada aos consumidores de maior porte, como indústrias e grandes comércios.
Em 2022, a expansão da centralizada foi de 8,2 GW. Os parques eólicos responderam por 35% da capacidade adicionada, seguidos das usinas solares.
Foco renovável
O Grupo CPFL Energia planeja investir pelo menos R$ 40 milhões em tecnologias de hidrogênio verde nos próximos anos, como parte da estratégia para alcançar neutralidade de carbono a partir de 2025.
Os planos incluem ainda gerar energia 100% renovável, avaliar todos os fornecedores críticos em critérios de sustentabilidade e atingir pelo menos 85% dos gastos com empresas que apresentam práticas avançadas em sustentabilidade. Além de alocar mais de R$ 140 milhões em programas de eficiência energética em hospitais públicos e filantrópicos.