.

Casa dos Ventos vai acelerar expansão via aquisições

A empresa entrou em nova fase com a conclusão da compra, pela TotalEnergies, de 34% do seu braço de geração

FONTE: Valor Econômico

A Casa dos Ventos quer aproveitar oportunidades de aquisição de projetos que façam sentido para a companhia, a fim de acelerar seu crescimento. A empresa entrou em nova fase com a conclusão da compra, pela TotalEnergies, de 34% do braço de geração da Casa dos Ventos por R$ 4,2 bilhões, entre pagamento (capital) e assunção de dívida.

A operação foi aprovada no início do mês pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e teve cumprimento de condicionantes, como o aval por credores. Com a aquisição, a Cada dos Ventos ganha musculatura financeira, comprando projetos em operação ou que venham a ser desenvolvidos e que façam sentido para o portfólio.

Eólicas no mar e hidrogênio verde são temas em que a empresa quer aproveitar as sinergias com a Total

Segundo Lucas Araripe, diretor de novos negócios da Casa dos Ventos, com o aumento da capacidade de alavancagem, a empresa passou a considerar a aquisição de projetos para cumprir metas ambiciosas de crescimento, aproveitando oportunidades de ativos que estão disponíveis no mercado. “Talvez a gente comece a olhar oportunidades de M&A, o que não fazíamos no passado”, disse Araripe.

A Casa dos Ventos é uma das principais desenvolvedoras de projetos eólicos do país, elaborando projetos próprios e para outras companhias. A pressa, porém, se justifica: a TotalEnergies tem planos de alcançar 100 GW em geração renovável até 2030 e ser neutra em emissões de carbono até 2050.

Com o desfecho da operação, surge uma plataforma de 6,2 gigawatts (GW) de projetos eólicos e solares, sendo 1,7 GW de usinas em operação ou em construção e 4,5 GW de ativos. Um dos primeiros passos após a entrada da Total é maximizar as sinergias, que inclui a troca de conhecimentos e a realização de estudos em áreas como hidrogênio verde e eólicas no mar.

A operação abre ainda espaço para que a TotalEnergies adquira participação adicional de até 15% após cinco anos, o que faria a petroleira deter até 49% de participação na Casa dos Ventos.

O foco será mais intensivo na expansão da capacidade instalada de eólicas terrestres, ainda com grande potencial de negócios, além de serem bem competitivas. Dois projetos que somam 1,3 GW de potência instalada – um na Bahia e outro no Rio Grande do Norte – são os primeiros parques eólicos da parceria. Eles já contam com pequena parte da energia negociada em um leilão. A usina na Bahia terá 550 megawatts (MW) de potência, e a do Rio Grande do Norte, de 750 megawatts.

Ambos têm previsão de iniciar as operações comerciais em 2025. O diretor da companhia conta que a empresa está negociando a aquisição dos aerogeradores, entre outras tratativas. Em paralelo, a empresa deve iniciar neste ano a estruturação dos primeiros parques solares da Casa dos Ventos. Araripe conta que um primeiro parque solar, de 400 MW, deve ser construído no Sudeste, cuja área ainda está em fase de definição.

Ele salienta que o momento atual é favorável para a energia solar, com queda na curva de investimentos verificada nos últimos meses, o que abre espaço para que a companhia desenvolva os chamados projetos híbridos – instalados nos terrenos das usinas eólicas da empresa.

Os parques híbridos estão na pauta da Casa dos Ventos porque a iniciativa isenta a empresa de custos de transmissão, uma vez que os novos parques solares vão aproveitar a infraestrutura existente para escoar a energia gerada. Esses novos projetos podem elevar o portfólio solar a um montante da ordem de 700 MW, calcula Araripe.

Ainda de acordo com o executivo, eólicas no mar e hidrogênio verde são temas em que a empresa quer aproveitar as sinergias para entender como funcionam os dois segmentos. No primeiro caso, diz ele, eólicas no mar, apropriadas para empresas de petróleo, como a Total, ainda apresentam custos de investimento e preços de geração elevados na comparação com as usinas construída em terra.

Além disso, é preciso aguardar a regulamentação da fonte antes de realizar novos projetos. A percepção, porém, é de que esse segmento é um caminho sem volta, no Brasil e no mundo e a Casa dos Ventos quer estar posicionada.

No caso do hidrogênio verde, afirma o executivo, a empresa quer estudar como atender a essa demanda crescente pelo combustível renovável, especialmente de olho em clientes que querem ou precisam ter esse tipo de energia (ou subprodutos, como a amônia) como parte de suas respectivas estratégias.

Para Araripe, a Casa dos Ventos pode ser até mesmo indutor de uma possível reindustrialização. “A gente quer tentar trazer demanda para o Brasil. Nós temos energia limpa e barata, diferente da realidade de muitos países na Europa ou os Estados Unidos. O Brasil está vivendo um momento muito diferente do de outras geografias”, concluiu.