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EDP inaugura primeiro projeto-piloto de hidrogênio verde do Brasil, no CE
Produto será utilizado para verificar impactos da injeção do gás, em escala experimental, na co-queima com óleo diesel e carvão na térmica de Pecém
FONTE: Valor Econômico
No contexto em que o Brasil pode se tornar líder mundial em hidrogênio gerado a partir de fontes renováveis, a EDP Brasil dá o pontapé na produção da primeira molécula em sua nova unidade de geração localizada em São Gonçalo do Amarante, no Ceará. A planta é um projeto piloto de P&D no Complexo Termelétrico do Pecém (UTE Pecém) já em operação e recebeu investimento de R$ 42 milhões.
A unidade será apresentada nesta quinta (19) e contempla uma usina solar com capacidade de 3 megawatts (MW) e um módulo eletrolisador para produção do combustível com capacidade de produzir 250 Nm3/h do gás.
A escolha de Pecém como local para a produção é estratégica, já que o complexo reúne características singulares para o processo de introdução do energético, como enorme potencial solar e eólico – fundamental para a produção do gás – e boa localização para escoamento ao mercado internacional.
A planta fica a poucos metros da térmica a carvão da EDP e é uma iniciativa de descarbonização no processo da usina, já que será usado para substituir óleos pesados de motores da térmica.
A ideia é que o hidrogênio seja utilizado para se verificar os impactos da injeção do gás, em escala experimental, na co-queima com óleo diesel e carvão mineral, atuando como incremento da eficiência energética da combustão nas caldeiras da UTE Pecém. Ao Valor, o CEO da empresa, João Marques da Cruz, conta que o Brasil reúne as condições ideais para produzir a energia que faltava para pavimentar a transição para uma economia de baixo carbono.
“É um projeto de P&D que foi útil para aprendermos, mas nós temos uma pauta de desenvolver projetos de grande dimensão de 100 MW em vários Estados do Brasil (…) estamos em diálogo e assinamos acordos de confidencialidade para ver se chegamos a um acordo das condições de preço, porque o hidrogênio verde é mais caro do que o hidrogênio produzido por fontes não renováveis e substancialmente mais caro que o gás natural”, diz.
O desafio agora é obter escala de produção e viabilidade econômica em relação aos combustíveis fósseis (como petróleo e carvão). Cerca de 70% do custo de produção é com energia elétrica, ou seja, é uma indústria eletrointensiva. “E se fosse 100 MW em Pecém para a nossa usina a carvão, teria viabilidade econômica?”, indaga Cruz. “Não teria”, responde o executivo, ressaltando que seriam necessários outros investimentos.
Na expectativa de atender a futura demanda de energia baseada em energias renováveis e de baixo carbono, o que a EDP busca agora são clientes que aceitem ter um custo industrial mais elevado em troca de uma produção limpa. A companhia portuguesa diz estar em conversas com uma grande empresa internacional que atua no Brasil utilizando fornos na produção e que está interessada no hidrogênio verde.
A viabilidade ambiental está dada, já a econômica entrou no horizonte dos empresários na medida em que os Estados Unidos e Europa anunciaram subsídios ao insumo, fato que coloca o Brasil como um potencial exportador. De acordo com a consultoria alemã Roland Berger, a capacidade do mercado interno brasileiro em absorver todo o potencial de geração que têm é baixa, o que coloca o país como um grande hub de exportação de energia limpa.
“Estamos olhando para os dois mercados. Estamos olhando a possibilidade de participação em leilão na Europa, nomeadamente na Alemanha, com projetos vindos do Brasil”, afirma.
Por outro lado, dentre os principais fatores limitantes da exploração de todo o seu potencial de produção estão os custos de utilização da rede elétrica e de transporte do hidrogênio. Importante destacar que o primeiro e mais simples elemento da tabela periódica, e também o mais abundante em todo o universo, terá que utilizar fontes renováveis, como solar, eólica, biomassa, biogás e etanol, por exemplo, para pavimentar a transição para uma economia de baixo carbono.
No caso da EDP, o foco é o uso da fonte solar fotovoltaica. Cruz acredita que o custo unitário da produção deve cair substancialmente no curto prazo numa rota parecida com a fonte solar, que em uma década deixou de ser a mais cara e hoje ocupa a segunda posição na matriz elétrica do país com custos muito competitivos.