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Meta do Planares demanda R$ 3,82 bi em usinas de recuperação energética

Segundo Carlos Silva Filho, da Abrelpe, investimento atenderia o uso gradual do tratamento térmico como uma das soluções para o lixo, conforme proposto pelo plano federal

FONTE: Brasil Energia

O Brasil vai demandar R$ 3,82 bilhões em investimentos de usinas de recuperação energética (UREs) até 2040 se quiser pelo menos cumprir meta estabelecida pelo Plano Nacional de Resíduos Sólidos, o Planares, instituído em abril de 2022 para resolver a questão da destinação do lixo no país.

A conclusão é de estudo da Abrelpe, associação que reúne grandes grupos de gestão de resíduos e que anualmente publica um panorama setorial, cuja versão de 2022, concluída no fim do ano passado, detalha os custos e investimentos necessários para atender as metas do Planares, plano de implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010).

O Planares tem como metas centrais até 2040 fazer com que 52% de todos os resíduos sólidos gerados no País sejam destinados corretamente em aterros sanitários (atualmente 39% ainda seguem para lixões) e 48% sejam recuperados. Nesse índice de recuperação, 20% devem ser pela reciclagem da fração seca do lixo (materiais recicláveis), 13,5% por tratamento da fração orgânica (compostagem e tratamentos biológicos) e 14,6% via recuperação energética.

As UREs, portanto, segundo disse ao EnergiaHoje o diretor-presidente da Abrelpe, Carlos Silva Filho, se enquadram nesse percentual da recuperação energética, que com base na projeção da associação significará o atendimento nos fornos das usinas a aproximadamente 17 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos em 2040. Pelos dados da Abrelpe, atualmente o Brasil gera 82 milhões de toneladas de lixo anualmente e na data-alvo do Planares o volume total gerado estará em 110 milhões de t anuais.

Já para atender à meta completa do Planares, incluindo todas as destinações, o cálculo da associação chega a uma necessidade total de investimentos de R$ 28,93 bilhões em capex até 2040 (completando a conta, R$ 8,55 bi seriam para aterros, R$ 15,53 bi em tratamento biológico e R$ 1,03 bi em sistemas de recicláveis secos).

Como o Planares tem metas progressivas, estabelecidas a cada quatro anos, o estudo da Abrelpe considerou também o horizonte até 2028, quando da projeção total a demanda por investimentos envolveria R$ 15,5 bilhões. No caso da recuperação energética, o panorama considera R$ 140 milhões em investimentos em capex. Bom lembrar que a URE Barueri, já em construção e prometida para 2025, envolve investimento aproximado de R$ 200 milhões, segundo divulgado pela Orizon Valorização de Resíduos, proprietária da usina de 20 MW e que tratará 700 t/dia de resíduos de cidades da região metropolitana de São Paulo.

Opex onera mais

O cálculo sobre as necessidades de investimento, segundo Silva Filho, mostrou que o cumprimento das metas é completamente factível, principalmente no referente ao capex dos projetos. “São metas ambiciosas, mas não impossíveis de serem implementadas”, diz.

Na verdade, mais do que o capex, o maior impacto é o custo operacional (opex), calculados no estudo na referência anual. No total das soluções, em 2028 ele chegaria a R$ 19,05 bilhões anuais e, em 2040, a R$ 24,89 bilhões. No caso das UREs, o opex projetado seria de R$ 50 milhões anuais em 2028 e de R$ 1,51 bilhão em 2040.

Complementaridade

Para o presidente da Abrelpe, as UREs, com base nas atuais condições econômicas e ante as características dos resíduos gerados, se mostram mais viáveis em centros urbanos com geração superior a 3.000 t/dia de lixo urbano e em localidades onde haja necessidade de se reduzir o volume de resíduos para otimização de espaço e/ou logística de transporte.

Além desse volume, ainda são importantes as características dos resíduos (principalmente o poder calorífico), os recursos disponíveis para custeio do “gate fee”, o preço de venda da energia e a viabilidade técnica do projeto, em termos de economia de escala. “Além disso, é preciso que o plano de gestão de resíduos esteja elaborado e atualizado, contemplando a prioridade de ações prevista na PNRS (Lei 12.305/2010)”, disse.

Embora acredite na solução como uma das alternativas, Silva aposta na complementaridade de tecnologias como o caminho para o Brasil acabar com a “chaga” dos lixões, ainda adotados por mais de 2300 municípios.

“A reciclagem vai ter que conviver com o tratamento biológico e com o tratamento térmico e sempre vai ser necessário o aterro sanitário. É assim que o mundo funciona e os países mais avançados nos dão esse exemplo. Não vai ter bala de prata. Na elaboração do Planares ficou bastante cristalino que a gestão vai avançar com uma combinação de soluções. Não tem reciclagem de tudo e nem geração de energia de tudo, cada tipo de material e de localidade vai ter sua opção”, explica.

Outro ponto levantado pelo dirigente tem a ver com a competitividade da geração de energia a partir de resíduos. No caso brasileiro, argumenta, fica difícil para as URES competirem com a alta disponibilidade de energia renovável barata, caso das eólicas, solares e hídrica. Isso já não ocorre, por outro lado, com países europeus, que veem na alternativa de térmicas com resíduos uma forma viável economicamente para cumprir suas metas de descarbonização.

Dessa forma, Silva vê mais similitude da gestão de resíduos a ser adotada pelo Brasil com o caso dos Estados Unidos. Isso tanto por conta da formação territorial dos dois países, com espaço para aterros sanitários bem geridos e com aproveitamento de biogás, como por ter também grandes regiões metropolitanas que permitem soluções de maior escala, caso das usinas de recuperação energética. “Esta é uma combinação que a gente vai precisar fazer acontecer no Brasil”, finaliza.