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Enseada quer tornar-se hub para setor eólico na Bahia

Estaleiro já recebeu 40 aerogeradores da Ásia e terá projeto piloto para trazer pás de outro porto do Nordeste, criando rota de cabotagem. Projeto prevê ainda construção local de torres para parques eólicos onshore e offshore

FONTE: Brasil Energia

Estaleiro de grande porte instalado em Maragogipe (BA), o Enseada entrou em recuperação judicial no ano passado e está sendo estruturado para uma divisão em três empresas.

A primeira – e mais ativa delas – é o porto usado para exportação de minério de ferro e outras commodities. A segunda envolve as operações originais do estaleiro e a terceira é o complexo industrial pronto, que poderá tornar-se um hub para o setor eólico, fabricando torres metálicas para parques eólicos onshore e offshore, e operando como porto exclusivo para recebimento de aerogeradores completos ou outros componentes como pás.

Ricardo Ricardi, CEO do
Enseada (Divulgação)

“Já temos um complexo industrial e instalações portuárias próprias”, adianta Ricardo Ricardi, CEO do Enseada e responsável pelas negociações.

De acordo com ele, a operação como hub para o setor eólico vem sendo preparada e pode ser concretizada nos próximos três anos. O recebimento de uma carga de 40 aerogeradores completos em 2022 faz parte do processo. A encomenda de um empreendedor da Bahia veio da China e seguiu para o parque eólico no estado, cumprindo um trajeto de 500 km e transportando pás de 75 metros. Se fosse fabricado no Brasil e viesse por via rodoviária, o transporte aumentaria em 1 mil km.

O próximo passo do Enseada é estabelecer a primeira operação de cabotagem para transporte de pás de aerogeradores de outro porto nordestino (Ricardi não informa qual), que também concentra a fabricação de componentes.

A operação envolve a administração do outro porto, armadores e o fabricante do componente. Com a iniciativa, o estaleiro reforçaria sua viabilidade como hub no setor eólico e poderia replicar a operação com outros portos do sul do país. O executivo informa que o Enseada tem capacidade para armazenamento e pode movimentar pás de 85 metros.

O Enseada também se filiou à Abeeólica, a associação que agrega o ecossistema do setor no país e mira na possibilidade fabricar estruturas para os futuros parques eólicos offshore. Para Ricardi, o fato de ter sido concebido como um grande estaleiro para atender o mercado do pré-sal torna fácil a atuação como player do setor eólico, cujos equipamentos são menos complexos do que o segmento de óleo e gás. Em seu auge, o estaleiro movimentava R$ 3 bilhões e empregava quase 9 mil funcionários no ano de 2014.

Menos ativa, a operação original do estaleiro também poderá ser reativada com o memorando de entendimento com a Tenenge, empresa do mesmo grupo controlador Novonor, a antiga Odebrecht. Com isso, o Enseada não entraria em desvantagem como as disputas recentes para fabricação de FPSO, nas quais teria perdido os processos pela falta de mão de obra, na avaliação de Ricardi.

Ele também avalia que o processo inverso pode acontecer. Com a infraestrutura pronta – e não ativa em sua operação original – o Enseada pode servir de base para contratos da Tenenge na área petroquímica.

“Nós temos os ativos, o hardware, e a Tenenge tem a mão de obra”, finaliza.