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As Direções de Descarbonização

Perspectivas de futuro no Brasil

FONTE: Redação TN Petróleo/Eduardo Aragon – Brainmarket Inteligência de Negócios Ltda.

O aquecimento global não é mais uma dúvida. Mesmo os mais resistentes já reconhecem que as ações humanas têm uma grande parcela de responsabilidade nos aumentos na temperatura do planeta, que vem causando sérias mudanças nos padrões de clima dos países e afetando a pecuária, a agricultura e a vida no planeta.

As pressões sociais para que empresas sigam os caminhos da descarbonização só crescem. Países definem leis e diretrizes para que esse caminho seja trilhado e grandes empresas já se organizam nesse sentido.

Ainda iremos conviver com fontes fósseis por algumas décadas. Mas parece que todos já entenderam que é preciso uma guinada nos caminhos da indústria.

Estamos acompanhando também as iniciativas de prestadores de serviços no Brasil, a entrar nos programas nacionais de redução de CO2 que estão no centro das atenções globais, cujas metas de zero carbono já estão em vigor em mais de 70 países. Ou seja, focar em soluções norteadas ao estabelecimento de metas estendidas para ESG, passou a ser crucial para novos investimentos que a cada dia estarão relacionados a restrições ou facilidades nos financiamentos necessários ao crescimento das empresas.

Os prestadores de serviços, bens e materiais de todos os portes e das cadeias produtivas de todos os segmentos industriais deverão implementar ferramentas que ajudem a determinar e acompanhar o progresso no alcance destas metas.

Em sintonia com essa agenda da descarbonização, o SEBRAE-BA promoveu seu Café com energia no dia 30 de novembro último, sob o título BIOCOMBUSTÍVEIS. Além da abertura do SEBRAE e da participação da BRAINMARKET que mostrou o cenário atual de biocombustíveis no Brasil, o evento apresentou duas palestras focadas nesse tema.

Aproveitando a oportunidade, entrevistamos os palestrantes Manoel Carnaúba da MM Consultoria Empresarial e Carlos Corrêa do Grupo de Estudos de Bioeconomia da Universidade Federal do Rio de Janeiro sobre os caminhos da bioeconomia e da descarbonização no país.

Até poucos anos ainda se debatia se o planeta estava mesmo se aquecendo devido às ações dos humanos. Hoje o tema descarbonização faz parte dos principais debates sobre o futuro do planeta. O que mudou?

Manoel Carnaúba: O avanço da tecnologia possibilitou medições mais acuradas desse aquecimento além disso, os eventos climáticos recentes, tais como o derretimento das calotas polares, chuvas e secas extremas, dentre outros, já não deixam mais dúvidas sobre o aquecimento do planeta.

Os processos de descarbonização atingem a todos os setores. Desde os setores industriais, passando pela mobilidade urbana e chegando à agricultura, entre outros. Em quais desses setores o tema da descarbonização está avançando com maior desenvoltura?

Manoel Carnaúba: Todos os setores estão avançando na conscientização de que a descarbonização é fundamental e urgente. O fato é que temos velocidades distintas entre os diversos setores e entre os Países e Continentes. No Brasil, que já possui uma matriz energética das mais limpas do mundo, temos avançado na indústria, com processos mais eficientes em termos energéticos, na agricultura, principalmente no aproveitamento de resíduos, gerando energia elétrica e biogás, na mobilidade urbana, com a utilização de etanol e biodiesel e com uma frota nascente de carros elétricos, dentre outras iniciativas muito importantes.

Com o crescimento do uso de combustíveis de base renovável, o uso do carvão e do petróleo vai acabar?

Carlos Corrêa: Infelizmente para o meio ambiente, não! Somos muito dependentes da energia produzida por essas fontes. Tanto para geração de energia elétrica quanto para produção dos combustíveis que movem os meios de transporte. Há cem anos, o petróleo deslocou o carvão, como principal fonte de geração de energia e mesmo assim, até hoje, o carvão ainda é responsável por aproximadamente 20% da geração mundial de energia. Com o desenvolvimento de novas fontes renováveis que aos poucos se tornarão técnica e economicamente competitivas com os derivados do petróleo, o petróleo deixará de ser a principal fonte, mas acredita-se, que estará presente, pelo menos, pelos próximos 100 anos.

Por que, no Brasil, o uso de fontes solares e eólicas vem se desenvolvendo com mais rapidez do que o uso de biomassa?

Carlos Corrêa: Poucos países desenvolvidos têm a abundância e a diversidade de biomassa que temos no Brasil. Consequentemente, a biomassa não é uma opção tão atraente para eles quanto é para nós. Por isso, entendo eu, eles têm se empenhado em desenvolver tecnologias para o uso de fontes energéticas que podem resolver seus problemas, como a solar, a eólica e fontes para movimentar veículos elétricos. O crescimento do uso de fontes renováveis para geração de energia elétrica no Brasil, não está sendo feito com tecnologia nacional e sim com tecnologia importada desses países. Daí haver mais disponibilidade tecnológica para o uso do sol e dos ventos. Não que não sejam muito importantes para nós também: São! Mas continuamos dependentes tecnologicamente.

Para o aumento do uso de biomassa, acredito que será necessário a criação de políticas públicas no Brasil que apoiem seu desenvolvimento tecnológico. Nenhuma tecnologia nasce rentável. É preciso seu uso em grande para trazer melhorias incrementais que as tornarão economicamente competitivas. Foi assim com o carvão e o petróleo. E, também será assim com a biomassa.

Entre os assuntos mais debatidos no tema da descarbonização está o hidrogênio verde. Em qual dos setores o hidrogênio verde será mais importante?

Manoel Carnaúba: A tecnologia para utilização do hidrogênio gerado a partir de fonte renovável ainda está numa fase bem inicial, mas nos parece muito promissora. A utilização de Célula de Combustão, a partir de etanol, gerando hidrogênio, pode ser um caminho muito promissor para atender a frota de veículos leves em Países como Brasil e Índia, que são grandes produtores de biomassa e etanol. A utilização de E-Metanol, produzido com hidrogênio, nos parece ser o caminho mais promissor para substituir o diesel marítimo nos navios. Nesse momento é importante que as tecnologias de produção de hidrogênio verde ganhem escala e eficiência para poderem tornar-se mais seguras e competitivas economicamente.

A biomassa será importante apenas para produzir combustíveis para veículos de transporte?

Carlos Corrêa: Não! No Brasil, cada vez que os períodos de estiagem ameaçam os níveis dos reservatórios de água que alimentam as hidrelétricas, recorremos às usinas termoelétricas. Que, em sua maioria, queimam óleo, gás natural ou carvão. Todas elas poderiam queimar biomassa, tornando essas alternativas tão renováveis quanto as hidrelétricas.

Mas para isso, é necessário desenvolver esse novo mercado (de disponibilização e comércio de biomassas) além de se realizar estudos logísticos sobre custos de transporte de diferentes tipos de biomassa, além de sistemas de alimentação dessas biomassas nas usinas existentes. Não que sejam “tecnologias de foguete”, mas, mesmo assim, precisam ser desenvolvidas.

Da mesma forma que a energia solar de geração descentralizada, o uso de pequenas termelétricas movidas a biomassa pode tornar viável o fornecimento de energia elétrica para comunidades afastadas, que ainda não tem acesso às redes de distribuição.

O que é uma biorrefinaria?

Manoel Carnaúba: Com a chegada dos conceitos de sustentabilidade, aconteceu um avanço muito grande na indústria como um todo. Na indústria de combustíveis renováveis, por exemplo, a tecnologia possibilitou a transformação de correntes, que até então eram resíduos, em produtos, contribuindo para o conceito da biorefinaria. Olhando na indústria de etanol que utiliza o milho como matéria-prima, temos um conjunto de tecnologias, que geram além do etanol, que utiliza o amido na sua produção, vários tipos de ração animal, produzidas a partir dos resíduos proteicos do milho, o biodiesel, produzido a partir do óleo do milho e temos ainda a produção de metanol, a partir do gás carbônico gerado na fermentação da produção de etanol.

Vários outros processos estão utilizando o conceito de efluente zero para produzir mais e de forma mais eficiente para o planeta.

Os carros movidos com combustíveis à base de biomassa também terão potencial para substituir o carro elétrico?

Carlos Corrêa: As soluções mais adequadas para o Brasil não serão as mesmas soluções aplicadas em países como os Estados Unidos e países da Europa. Na Europa, a falta de disponibilidade de biomassa, não fará dela sua principal fonte. O carro elétrico movido a bateria poderá vir a ser sua principal alternativa. Apesar de diversas questões técnicas e ambientais que ainda precisam ser solucionadas. Na Europa, talvez não seja tão complexo montar uma rede de postos de abastecimento com conexões para carros elétricos ao longo das estradas. Sua infraestrutura mais robusta deverá permitir isso.

Já no Brasil, a construção de tal infraestrutura não seria tão simples assim. Se temos problemas para manter nossas estradas asfaltadas adequadamente, imagine construir toda uma infraestrutura elétrica que permita que veículos leves e pesados possam trafegar com a mesma desenvoltura atual. Sem considerar que o tempo de abastecimento de um carro elétrico está estimado atualmente entre 3 e 8 horas. Isso poderia dobrar o tempo de viagem entre Salvador e o Rio de Janeiro, por exemplo.

Já para que os veículos possam rodar com combustíveis à base de biomassa, toda a infraestrutura já está pronta: são os mesmos postos de combustíveis atuais! Os combustíveis já existem (etanol e biodiesel). Além disso, tecnologias inovadoras estão sendo desenvolvidas no Brasil para veículos híbridos que serão movidos com etanol e/ou células de combustíveis movidas a etanol reduzindo substancialmente seu consumo.

A tecnologia de uso de biomassa para geração de energia é a grande oportunidade para que o Brasil assuma seu merecido papel de destaque no cenário tecnológico internacional. A biomassa é nosso passaporte para um futuro sustentável e tecnologicamente desenvolvido.

É necessário que o uso etanol seja estimulado para incentivar cada vez mais sua produção. A relação custo-benefício entre abastecer carros de passeio com gasolina ou como etanol, o Brasil, já não está naqueles famosos 70% e isso precisa ser divulgado. Faça o teste em seu próprio carro. Você vai ver que essa relação já está entre 80 e 85%. Ou seja, se o preço do etanol estiver abaixo de 80-85% do preço da gasolina (como acontece na maioria dos postos) você já estará economizado. Além disso, o etanol é mais limpo, ambientalmente sustentável, melhora o desempenho do seu carro e gera emprego e renda para o país.

Abasteça com etanol!

Abaixo, seguem anexos dos links das Apresentações:

As Direções da Descarbonização

Biocombustíveis – Perspectivas de Futuro

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Fonte: Eduardo Aragon – Brainmarket Inteligência de Negócios Ltda