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Sengi Solar pretende ser mais que só uma alternativa à China

Companhia pode ajudar a abrir a porta de entrada de fornecedores do setor no Brasil

FONTE: Valor Econômico

Com a inauguração da primeira fábrica de módulos fotovoltaicos 100% nacionais, a Sengi Solar quer ser mais do que alternativa à China, responsável por mais de 90% da oferta mundial de equipamentos. A companhia quer abrir a porta para outros fabricantes de componentes para a energia solar entrarem no Brasil, que vê a fonte energética aumentar a capacidade instalada de forma acelerada. A Sengi, do grupo paranaense Tangipar, atuante na distribuição de equipamentos fotovoltaicos, investiu R$ 440 milhões na construção de duas fábricas de módulos.

A primeira, em Cascavel (PR), será oficialmente inaugurada nesta sexta-feira (21), já com operação em um turno, e a empresa espera abrir os outros dois turnos de produção no início do ano que vem. A segunda fábrica, em Ipojuca (PE), tem previsão de começar as atividades em meados de 2023. Somadas, as duas fábricas terão capacidade de produzir 1 gigawatt (GW) por ano, conta Everton Fardin, diretor-geral da companhia.

Para atender à produção, a Sengi ainda depende de importação de matérias-primas, todas de fornecedores de primeira linha, mas a empresa já busca suprimento nacional. A Sengi firmou negociações, por exemplo, com uma fabricante multinacional de vidros com produção brasileira, cujo nome não foi divulgado por questões estratégicas. O vidro é uma das principais matérias-primas dos painéis, e hoje é importado da China.

“A empresa viu espaço e disse que se garantíssemos demanda de 1 GW, ela forneceria o vidro necessário”, disse Fardin. Recentemente, a energia solar passou a marca de 20 GW, sendo 14 GW de pequenas centrais de geração distribuída, e se tornou a terceira fonte de eletricidade mais utilizada no Brasil, atrás da energia eólica (24 GW) e da hidrelétrica (109 GW). O avanço no país deve ser ainda maior nos próximos anos, mas a evolução pode ser afetada com a desorganização das cadeias produtivas.

Para o executivo, o atual cenário mundial propiciou a tomada de decisão pela fábrica no Brasil. “Entendemos que a China estava iniciando um processo de desindustrialização, esse é um produto muito estratégico para o Brasil e que é o momento certo de desenvolver esse produto no país”, disse. A iniciativa da Sengi, avalia, pode estimular a aposta de outros empreendedores do segmento no país como um polo produtivo, competitivo. Diferentemente da geração eólica, que conta com cadeia local de fornecedores, a geração solar não conseguiu formar um polo nacional fotovoltaico.

Fardin afirmou que viu o nível de evolução da tecnologia desacelerou em relação ao passado, o que facilitou a decisão da produção nacional ao adotar a tecnologia mais atualizada para a fabricação, cujos ciclos de atualização têm intervalos entre seis e sete anos. Cada um dos processos de montagem dura 25 segundos, em média.

“A tecnologia do módulo chegou a um patamar tal que as mudanças são pequenas [entre os ciclos]. Já dimensionamos a fábrica de modo que nos próximos seis ou sete anos, ela ainda esteja competitiva”, disse. Fardin afirmou que a empresa está em tratativas com institutos de pesquisa, universidades e empresas de consultoria para realizar projetos de pesquisa e desenvolvimento (P&D) de tecnologias solares nacionais.

Parte dos recursos para a implantação das fábricas veio do Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Semicondutores (Padis), para formação de uma indústria nacional de semicondutores, que estabelece como contrapartida a aplicação de 5% da receita bruta em projetos de P&D. Um dos objetivos neste caso, conta Fardin, é o desenvolvimento de uma célula solar 100% brasileira, o que tornaria o país menos dependente da China e com um produto mais adequado às condições climáticas brasileiras.

A célula é o componente que converte a luz solar em energia elétrica a partir do efeito fotovoltaico, com uso de materiais semicondutores, especialmente o silício cristalizado. Várias células formam um módulo solar e vários módulos compõem um painel solar. “A gente pensa em desenvolver um módulo especialmente para o mercado brasileiro, que atenda a todos os requisitos do nosso país.”