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“Sergipe está se posicionando como um player habilitado para receber investimentos”
FONTE: Só Sergipe
Durante essa semana, Sergipe sediou três eventos importantes no setor de petróleo e gás que, sem dúvida, serão um divisor de águas para a economia: a assinatura de um protocolo de intenções entre o Governo do Estado e a Petrobras; assinatura de contrato de conexão de acesso para interligação do Terminal de Gás Natural Liquefeito (GNL) das Centrais Elétricas de Sergipe (Celse) com a rede Transportadora Associação de Gás (TAG); e, por fim, o Sergipe Oil & Gas que, durante dois dias, reuniu cerca de 380 pessoas para debater o futuro deste segmento em Sergipe.
Em todos esses eventos, que ocorreram entre os dias 13 e 15 de junho (segunda a quarta-feira), o superintendente executivo da Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e da Ciência e Tecnologia de Sergipe (Sedetec), Marcelo Menezes, esteve presente e em um deles teve sua atuação destacada pelo deputado federal Laércio Oliveira, que foi relator da Lei do Gás. Na assinatura do contrato entre a Celse e a TAG, Laércio quebrou o protocolo e convidou Marcelo para falar um pouco sobre sua atuação no setor e o trabalho que culminou com assinatura daquele acordo. “Laércio é um amigo de muito tempo. Eu o conheço há 20 ou 30 anos e sempre tivemos uma relação muito próxima”, pontuou.
Marcelo atuou bastante, também, junto com Laércio Oliveira, na formatação da Nova Lei do Gás (Lei nº 14.134), que completou um ano em vigor no dia 8 de abril. Ele reconhece que se não fosse essa lei o acordo entre Celse e TAG não teria acontecido. “Hoje nós percebemos claramente um avanço muito grande em função da aprovação da Nova Lei do Gás”, e completa: “Sergipe está se posicionando com um player habilitado para receber investimentos”.
De fato, o protocolo de intenções entre o Governo de Sergipe e a Petrobras vai viabilizar a construção de um duto que irá transportar, no futuro, gás natural extraído de sete campos localizados na costa sergipana. A previsão é que a produção de gás natural dê um salto a partir de 2026, quando a Petrobras deve iniciar a operação do projeto Sergipe Águas Profundas (SEAP). O primeiro módulo da unidade será a P-81, que terá capacidade de produzir 120 mil barris de óleo e 8 milhões de m³ de gás por dia. O empreendimento inclui também a construção de um gasoduto com capacidade de transporte de 18 milhões de m³/dia.
Um outro ponto importante foi o acordo entre TAG e Celse. A TAG ficará responsável pela implementação de um gasoduto de aproximadamente 25 quilômetros e das infraestruturas necessárias para conectar o terminal de GNL da Celse à sua malha transportadora de gás, num investimento estimado em R$ 300 milhões. “Esse acordo teve um impacto muito forte no sentindo de aumentar a disponibilidade de gás no Estado, que é um terminal que temos na nossa costa com capacidade ociosa de 14 milhões de metros cúbicos de gás que passará, a partir da construção deste gasoduto, a estar disponível para atender possíveis demandas de indústrias, comercializadores e servirá para dar suporte à malha de transporte”, explicou Marcelo Menezes.
Diante deste cenário, ele lembra que já fez duas viagens ao pólo ceramista de Cordeirópolis, em São Paulo, que produz 60% da cerâmica brasileira para atrair novas empresas. “Fui com Laércio visitar os donos de cerâmicas e falar das nossas potencialidades. Cada fato novo desse que conseguimos viabilizar é mais um atrativo que estamos criando para Sergipe”, ressalta.
Esta semana, entre uma palestra e outra na Sergipe Oil & Gas, Marcelo Menezes, que é engenheiro civil da Cehop (Companhia Estadual de Habitação e Obras Públicas) há 36 anos, e há seis é superintendente executivo da Sedetec, conversou como Só Sergipe.
Confira a entrevista.
SÓ SERGIPE – O Estado de Sergipe vive um momento econômico importante por conta da perspectiva de exploração de gás natural no mar. Esta semana, houve eventos relevantes. Como o senhor analisa este momento?
MARCELO MENEZES –Na realidade, é um momento muito especial que estamos vivendo. A Petrobras declarando a intenção de comercializar o gás que vai produzir no futuro, e isso foi um atendimento à demanda do Estado. O governador Belivaldo Chagas encaminhou um ofício à Petrobras mostrando a preocupação sobre a destinação do gás e da necessidade de políticas de estímulo ao desenvolvimento, para que tenhamos um alinhamento de produção e consumo. A Petrobras compreendeu essa colocação do Estado e se dispôs a assinar aquele protocolo, que servirá para nós do Estado como um chamariz para aquelas empresas com as quais nós estivermos tratando de oportunidades em Sergipe, especialmente aquelas que sejam consumidoras intensivas de gás.
SÓ SERGIPE – Em Sergipe já temos empresas que consumem bastante gás, a exemplo da Unigel.
MARCELO MENEZES – Sim, consome bastante; a exemplo, também, das indústrias de vidro, petroquímica, fertilizantes em que o gás, em alguns casos, representa 60% a 70% do custo de produção, como é o caso da Unigel. As empresas precisam buscar gás competitivo e é nisso que estamos trabalhando para termos aqui, além da garantia de suprimentos com contratos de longo prazo, com início de entrega no futuro. Com isso, há tempo para que as indústrias possam ser implantadas no Estado e quando estiverem precisando de gás, que estejamos com essa produção chegando. É tentar casar a chegada da oferta e da demanda.
SÓ SERGIPE – Um ponto positivo foi a assinatura entre a Celse e a TAG, na semana passada.
MARCELO MENEZES –Sim, e teve um impacto muito forte no sentindo de aumentar a disponibilidade de gás no Estado, que é um terminal que temos na nossa costa com capacidade ociosa de 14 milhões de metros cúbicos de gás que passará, a partir da construção deste gasoduto, a estar disponível para atender possíveis demandas de indústrias, comercializadores, e servirá para dar suporte a malha de transporte. Você tem um terminal, estabelece um contrato e passa a ficar de prontidão para, no caso de eventualidade na área de transporte, poder dar esse suporte. Além de tudo isso, todo gás importado por Sergipe tem a receita tributária. É um ganho em todas as frentes.
SÓ SERGIPE – O Estado sediou também a “Sergipe Oil & Gas”, evento muito importante para o setor.
MARCELO MENEZES – O Sergipe Oil & Gas, na minha opinião, teve dois objetivos. Dar visibilidade a tudo isso que está acontecendo no Estado. Inicialmente eram 300 inscrições, mas foram 380, uma procura grande; e no final tinha mais gente querendo. Isso mostra que existe uma percepção da importância do momento pelo qual o Estado está passando, e que essas oportunidades que estão sendo apresentadas têm atratividade, daí essa grande procura. O outro aspecto seria de buscar, estruturar, organizar, qualificar, envolver as pequenas e médias empresas de Sergipe para que elas possam vir a ter algum espaço neste trabalho que será desenvolvido pelas grandes empresas. Nem sempre essas grandes empresas vão contratar uma pequena, mas terá uma segunda empresa que contratará a pequena. Para isso é preciso que as empresas estejam qualificadas, tenham as certidões necessárias e que se apresentem. Elas precisam ter um portal para sabermos quem são essas empresas e que tipo de serviço desenvolvem para que venham a ter participação nesse trabalho, valorizando a mão de obra local, desenvolvendo tecnologia local. Plantamos uma semente importante com a Sergipe Oil & Gas para que um trabalho maior possa acontecer a partir daí, com o apoio do Estado e do Sebrae.
SÓ SERGIPE – Recentemente foi vendido o polo Carmópolis e me parece que, com estes eventos, tudo será favorável. Estou certo?
MARCELO MENEZES – Um momento muito rico para o Estado, dando-lhe bastante visibilidade que somado com a venda do Polo Carmópolis e a perspectiva da nova empresa venha assumir isso nos próximos 60 a 90 dias, vai contratar mais gente, investindo nos campos que hoje estão com produção de gás muito baixa. Imaginamos que essa produção poderá triplicar ou quadriplicar, à custa de investimentos. A Carmo Energy comprou esses ativos no valor de US$ 1,1 bilhão e não é para tirar esse pouquinho. Para ter retorno precisará investir ainda mais para aumentar a produção e ter retorno.
SÓ SERGIPE – O senhor falou da Carmo Energy, mas tivemos, também, a compra da Celse pela Eneva.
MARCELO MENEZES – A Eneva é uma empresa grande que vem expandindo. Nós já tivemos contato com a Eneva após o anúncio da comercialização e as informações que nos passaram é de absoluta disposição de investir. Querem ampliar a capacidade de geração termoelétrica. Então, ao invés de ser somente uma termo naquela área, teremos mais duas ou três que, obviamente, depende da participação em leilões. Como também o terminal que hoje não está conectado, mas a partir da conexão requer que o operador tenha um interesse na comercialização de gás, o que eles nos garantiram que farão. Então, esse conjunto de fatos cria um cenário extremamente favorável para Sergipe.
SÓ SERGIPE – O senhor teve uma forte atuação como superintende da Sedetec para muitas coisas se resolvessem, segundo o deputado federal Laércio Oliveira. Como se deu esse processo?
MARCELO MENEZES – Laércio é um amigo de muito tempo. Eu o conheço há 20 ou 30 anos e sempre tivemos uma relação muito próxima. Quando surgiu essa questão da Lei do Gás, com a perspectiva de ele assumir a relatoria, ele me disse que ia atuar e que eu iria com ele para ajudá-lo, e assim foi feito. Eu passei umas 10 semanas em Brasília, no período da pandemia, quando a gente saiu de carro para Salvador a fim de pegar um avião. Aquela história que ele falou que de noite não tinha o que comer, aconteceu daquela forma. Nós chegávamos num hotel e o café da manhã só poderia ser servido no quarto, os restaurantes fechados. Foi um período muito difícil. Nem por isso descuidamos do tema, e a coisa evoluiu. Tivemos muitos embates, mas foi um trabalho e tanto, a lei foi aprovada e hoje nós vemos os resultados acontecendo. Esse gasoduto da conexão do terminal da Celse com a malha da TAG, se não fosse a lei do gás isso não estaria acontecendo. A quantidade de novos supridores de gás dentro do mercado é fruto da Lei do Gás que vai provocando uma abertura gradual, pois as coisas não acontecem do dia para a noite. Nós hoje percebemos claramente um avanço muito grande em função da aprovação da Lei do Gás que completou um ano há pouco tempo.
SÓ SERGIPE – O fato da Celse e TAG terem feito esse acordo, significa que ela pode comprar todo o gás? Como vai atrair as empresas para Sergipe?
MARCELO MENEZES – Não, não é isso. É o seguinte: o investimento é da TAG, mas o que esta empresa diz é que não faria um gasoduto para não transportasse gás. Então a Celse vai pagar pelo uso do gasoduto, mesmo que não o use. Isso termina gerando um estímulo ou pressão a mais para que a Celse seja intensiva na comercialização deste gás. A medida que ela vai estar usando esse gás não teria nada a pagar, porque a capacidade estaria sendo usada. O que a TAG não quer é fazer um investimento que amanhã não tenha uso, ficando com o dinheiro parado. Ela quer o comprometimento da Celse de que esse gasoduto estará sendo movimentado e vai ter um uso intensivo, o que para o Estado é muito bom.
SÓ SERGIPE – Como fica a Sedetec para atrair novas empresas dentro deste cenário que se descortina? Já começou?
MARCELO MENEZES – Começou há muito tempo. Nós estamos agora é colocando mais atrativos. Na hora que estamos dizendo que a Petrobras já tem uma garantia de suprimento de gás, na hora que estamos criando mais uma alternativa de gás através do terminal de GNL – que vai estar conectado na malha – são atrativos a mais para o que já vinha sendo feito. Nós já vínhamos procurando a indústria de cerâmica. Já fizemos duas viagens ao pólo ceramista de São Paulo, que é na região Cordeiropólis, perto de Jundiaí, onde se produz 60% da cerâmica do Brasil. Fui com Laércio visitar os donos de cerâmicas e falar das potencialidades de Sergipe. Cada fato novo desse que conseguimos viabilizar é mais um atrativo que estamos criando para Sergipe.
SÓ SERGIPE – O fato de o gás ir para outros Estados não atrapalha a chegada de novas empresas?
MARCELO MENEZES – É muito gás, e o consumido em Sergipe há uma redução ou até isenção do ICMS para o consumo industrial. E o gás que for para outro Estado vai pagar 12% de ICMS. Então a empresa vai escolher se vem para Sergipe, que vai pagar um ICMS menor, ou se vai para outro Estado, e pagar 12%. É todo um conjunto de medidas que está sendo criado para que a empresa venha se instalar aqui. Não estou dizendo que todas virão para Sergipe, pois temos algumas dificuldades, como a falta de uma ferrovia e a questão do porto. São limitações que temos no Estado, mas que estamos trabalhando para tentar melhorar. E a melhoria da logística vai se dar com o aumento da produção. Eu estive, junto com Laércio Oliveira, uma reunião com o ministro Tarcísio Freitas, da Infraestrutura, e nós falamos todos os assuntos; e ele nos disse: ‘tenha a produção que a logística chega, produza que a ferrovia e o porto chegam’. Mas ninguém vai fazer porto e ferrovia se você não tiver mercadoria para escoar. Nós estamos cuidando para aumentar a produção e a partir daí acreditando que a logística vai melhorando aos poucos de acordo com a própria demanda do mercado. E aí vem os empregos. Esse é um trabalho permanente, os negócios vão surgindo, cada coisa a seu tempo. Todas as ações que estão sendo desenvolvidas são observadas pelo mercado. Sergipe está se posicionando como um player habilitado para receber investimentos e não tenho dúvidas de que eles estão chegando. Mas não tenho dúvida que vários investimentos vão estar chegando ao Estado por conta destas condições que estão sendo criadas.