3R Petroleum prepara estreia no refino

FONTE: Valor Econômico

Empresa abriu capital em 2020 e já comprou 60 campos, a maioria na venda de ativos da Petrobras

A petroleira 3R Petroleum se prepara para assumir, no primeiro trimestre de 2023, o primeiro ativo da empresa fora do setor de exploração e produção de petróleo e gás, a Refinaria Potiguar Clara Camarão (RN), comprada no processo de desinvestimentos da Petrobras. Depois de uma intensa campanha de aquisições nos últimos anos, a companhia iniciou ontem a operação de mais um ativo de produção, o Polo Recôncavo, também comprado da estatal. Com a incorporação dos novos ativos, a companhia conduz plano de investimentos de US$ 1,2 bilhão que inclui trabalhos para aumento da produção nos campos. Cerca de 40% dos investimentos irão para o Polo Potiguar, onde está a refinaria.

A Refinaria Clara Camarão, de pequeno porte, tem capacidade para processar 40 mil barris por dia (barris/dia) e abastece o Rio Grande do Norte e a Paraíba, além de parte do Ceará. “Há opção de incrementar a capacidade de produção de derivados, mas ainda não temos definição”, diz o presidente da 3R, Ricardo Savini.

Maior ativo comprado pela 3R até o momento, o Polo Potiguar inclui também uma unidade de processamento de gás natural (UPGN), além de um parque de tancagem. O polo tem três subpolos de campos de produção terrestres e marítimos, com a infraestrutura de produção e escoamento e o Ativo Industrial (ATI) localizado no município de Guamaré (RN).

A companhia avalia alternativas para o novo operador logístico do ativo, que até então era a Transpetro. “A Petrobras usa o próprio sistema para trazer produtos refinados à Clara Camarão, por meio da cabotagem de óleo diesel e nafta de maior qualidade, para misturar com a gasolina que sai da refinaria. Estamos discutindo com tradings como trazer esses produtos”, diz o diretor financeiro da 3R, Rodrigo Pizarro. Ele acrescenta que a infraestrutura torna possível exportar combustíveis na região.

Sobre o impacto da política de preços da Petrobras na 3R, caso a estatal pratique preços abaixo do mercado externo, Savini diz que a demanda da Refinaria Clara Camarão é cativa. “É um mercado isolado e difícil de ser abastecido por outra refinaria. Mas vamos ver como a Petrobras vai se comportar nos próximos anos”, aponta.

A 3R negociou o Polo Potiguar com a Petrobras por US$ 1,38 bilhão, com o pagamento de US$ 110 milhões na assinatura do acordo, e US$ 1,04 bilhão no fechamento da operação, além de quatro parcelas anuais de US$ 235 milhões, a partir de 2024. A companhia estuda alternativas de estruturação financeira para concluir a aquisição, que marcará a saída da Petrobras das operações terrestres no Rio Grande do Norte.

Enquanto não assume os ativos potiguares e após a conclusão da aquisição do polo baiano, a 3R trabalha na finalização dos trâmites para assumir o Polo Fazenda Belém, no Ceará, também comprado da Petrobras. A transferência da área para o portfólio da 3R também deve ser concluída neste mês. A empresa vai iniciar, no segundo semestre, os trabalhos de aumento da eficiência operacional na área.

A 3R nasceu em 2014, controlada pela Starboard Restructuring Partners, gestora de private equity. Posteriormente, a companhia passou por uma reestruturação, com a incorporação da Ouro Preto, de Rodolfo Landim. A oferta inicial de ações (IPO) na bolsa, em novembro de 2020, captou R$ 690 milhões. Atualmente, 76% do capital é disperso entre diferentes acionistas, com o restante dividido entre o fundo Esmeralda (9,8%), BTG Pactual (7,2%), Gerval Investimentos (6%) e os próprios administradores (1%). A 3R encerrou 2021 com receita líquida anual de R$ 727,8 milhões. A empresa comprou 60 campos de óleo e gás agrupados em nove polos, mas vai reduzir o ritmo de aquisições agora. “Compramos quando o preço do petróleo estava baixo e vamos produzir quando está alto”, afirma Savini.

O plano de trabalho atual vai levar a uma produção de 94 mil barris de óleo equivalente por dia (boe/dia) até 2027, volume dez vezes maior que o de abril. Segundo o executivo, a previsão é concluir em 2022 a transferência do Polo Peroá, na parte marítima da Bacia do Espírito Santo. Também este ano, a 3R deve passar a operar Papa-Terra, na Bacia de Campos.

A expectativa nos ativos marítimos é de redução de custos de até 30% em relação ao antigo operador, por meio da renegociação de contratos. As conversas com fornecedores estão mais avançadas em Peroá, onde a empresa deve conectar uma descoberta de gás à plataforma instalada no campo, de modo a evitar declínio na produção de gás. Em Papa-Terra, a companhia vai iniciar um novo modelo de desenvolvimento. O campo nunca atingiu toda a produção esperada desde que entrou em operação, em 2013. “Não estamos comprometidos com os erros da Petrobras e Chevron no projeto original. Vemos modelo geológico e de engenharia de reservatório distinto do que a Petrobras via.”

Nas áreas terrestres que opera há mais tempo, os polos Rio Ventura (BA) e Macau (RN), a 3R vai iniciar perfurações de seis a doze poços no quarto trimestre. “Estamos contratando as sondas que vão estar trabalhando na virada do ano.”