Brasil pode ser exportador em energia renovável, diz Enel

FONTE: Valor Econômico

O presidente da companhia elétrica no país, Nicola Cotugno, acredita que o Brasil pode ser fornecedor do insumo e de tecnologias do setor

O presidente da Enel Brasil, Nicola Cotugno, acredita que o Brasil tem potencial para exportar energia renovável e tecnologias relacionadas a esse setor. O executivo lembrou, em conversa com jornalistas na sede da companhia no Rio de Janeiro, na manhã de ontem, que o desenvolvimento do setor de energia eólica no Brasil, por exemplo, se deu com a produção de equipamentos no país.

“O Brasil tem um papel regional, é o país com mais capacidade de desenvolver indústrias na região. Baterias, por exemplo, também poderiam ser produzidas no Brasil, por que só ficar na China? É uma grande oportunidade para o desenvolvimento econômico do país e das empresas que estão aqui se colocar no amanhã. Ser ativo na transição energética é importante para desenhar o futuro”, apontou.

Cotugno reconheceu que o país tem forte potencial para exportar energia renovável, por meio, por exemplo, do hidrogênio verde, que pode ser produzido a partir da geração de energia eólica em alto-mar (offshore), e exportado em navios. Apesar disso, a Enel Brasil não vislumbra investir nos segmentos de eólica offshore e hidrogênio verde por enquanto, diz Cotugno.

Ele explicou que os preços dessas fontes ainda são muito mais altos do que de outras energias renováveis. “Quando falamos dos nossos investimentos, não vamos na direção do offshore [em alto-mar], porque hoje temos alternativas mais baratas e nossa missão é fornecer energia ao preço mais baixo o possível”, explicou.

Sobre as eleições presidenciais de 2022, o executivo afirmou que o tema da transição energética deve seguir como prioridade para o país. “Espero que, qualquer que seja o próximo governo, possamos trabalhar abertamente e conjuntamente esse tema, que é fundamental. Confio que o governo do Brasil vai ser sensível a isso no futuro, como é hoje”, apontou.

A Enel Brasil lançou ontem uma parceria com a Deloitte para um estudo que vai recomendar políticas públicas para a transição energética, a partir dos compromissos voluntários assumidos pelo Brasil no Acordo de Paris. A parceria vai entregar ao governo contribuições para que o país atinja os compromissos nacionalmente determinados (NDC) de reduzir em 50% as emissões de gases de efeito estufa até 2030 e atingir a neutralidade de emissões até 2050. A versão final do estudo será entregue a representantes do governo antes da próxima Conferência do Clima, a COP 27, em novembro de 2022.

A cerimônia de lançamento da iniciativa contou com a participação do Ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite. Em apresentação virtual, o ministro afirmou que o Brasil tem potencial para gerar 1780 gigawatts (GW) em eólicas offshore. Segundo ele, há solicitação de autorização para projetos nessa modalidade com capacidade para gerar 130 GW. “Serão, provavelmente, mais de 50 ‘Itaipus’ que poderiam ser instaladas [na costa brasileira] para a geração de eólicas offshore. Além disso é possível utilizar essa energia para a geração de hidrogênio verde e amônia verde. O presidente está dando toda força a esse tema, entendendo que o Brasil pode ser um ponto de segurança energética, com energia limpa, para vários países que não tem a capacidade e as características naturais que nós temos”, disse Leite.

O ministro afirmou, ainda, que o “boom” de eólicas offshore à frente vai trazer investimentos da ordem de US$ 200 milhões para o país nos próximos anos, montante ao qual podem se somar mais US$ 100 milhões focados na utilização dessa energia para a geração de hidrogênio ou amônia verde. Segundo ele, a eólica terrestre tem margens mais vantajosas que a offshore, mas há “potencial gigantesco a ser explorado no pré-sal azul”.

De acordo com o Leite, a política ambiental do governo Bolsonaro é voltada a “soluções climáticas lucrativas para o empreendedor, para as pessoas e para a natureza”. “É sair daquele tema de punir, reduzir, proibir e culpar para empreender, inovar e incentivar”, disse, antes de listar uma série de ações da pasta que comanda. Leite não citou medidas para combater diretamente o desmatamento ilegal, um dos compromissos brasileiros no Acordo de Paris.