GranBio tem novo prejuízo, mas inicia aposta em bioquerosene de aviação
FONTE: Valor Econômico
Perda atribuída aos controladores da companhia ficou em R$ 170,3 milhões em 2021, valor similar ao registrado no ano anterior
A GranBio Investimentos, da família Gradin, que possui uma usina de etanol celulósico “puro sangue” — não integrada com outras indústrias — em Alagoas, continua a patinar na tentativa de equilíbrio de sua situação financeira mesmo passados mais de dez anos desde que ela foi criada, mas ainda tenta buscar notas rotas biotecnológicas para aproveitar o movimento global de transição energética e descarbonização, como a do bioquerosene de aviação.
Em 2021, a companhia teve prejuízo pelo segundo ano consecutivo, reflexo de sua tentativa de acertar dívidas com o BNDES e o Banco do Nordeste e de um faturamento que ainda não conseguiu decolar. O prejuízo atribuído aos controladores da companhia no ano passado ficou em R$ 170,3 milhões, bem parecido com o prejuízo do ano anterior, que havia sido de R$ 169,1 milhões. No ano, a GranBio teve que arcar com um pagamento de R$ 280 milhões aos bancos públicos, após vencer o período de stand-still.
Os controladores vêm apoiando financeiramente a companhia. Em 2021, eles concederam um mútuo de R$ 155,6 milhões para apoiar a GranBio no pagamento de seus empréstimos, e neste ano concederam um novo mútuo, de R$ 14,8 milhões, além de terem quitado um financiamento de R$ 12,6 milhões de capital de giro. Também compraram R$ 56 milhões em debêntures da própria companhia, eliminando parte das dívidas financeiras.
Mas o processo de renegociação das dívidas restantes segue em curso. Neste mês, a empresa concluiu uma renegociação com o Banco do Brasil. Falta agora renegociar dívidas com o Bradesco e o Itaú. A dívida com estes três bancos era de R$ 202 milhões no fim do ano passado.
Bioeconomia
Enquanto tenta aliviar sua situação financeira, a GranBio segue buscando formas de aproveitar a onda da bioeconomia. No ano passado, ela e outras duas empresas agrupadas em um consórcio foram eleitas pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos para um projeto de construção de uma planta integrada de bioquerosene de aviação (SAF) de segunda geração. Junto com a Petron e a Byogy, a Granbio desenvolveu uma rota de produção do renovável a partir do álcool. Dos US$ 3,8 milhões aprovados pelo DoE, a empresa já recebeu US$ 311 mil.
Além disso, a companhia começou um projeto para expandir a capacidade da Bioflex, a usina de etanol 2G em Alagoas, e segue apostando em sua parceria com a NextChem — subsidiária do grupo italiano Maire Tecnimont — para sublicenciar o pacote tecnológico da Bioflex a outros investidores.
Busca de capital
Para que os planos de crescimento avancem, porém, a GranBio também continua buscando mais capital. No ano passado, a companhia tentou realizar um IPO, mas a iniciativa foi postergada indefinidamente, e agora a companhia voltou a focar na busca por R$ 250 milhões para financiar as obrigações que ainda estão pendentes e por um investidor estratégico para atuar no licenciamento de tecnologias.
A GranBio chegou a ter lucro em 2019, mas desde sua fundação, em 2011, a empresa acumula prejuízos de R$ 740 milhões. Em alguns momentos, como na safra passada, a companhia destina a palha da cana coletada nas lavouras para a cogeração de energia ao invés de usar para a produção de etanol celulósico.
A receita do ano passado, de R$ 33,6 milhões, segue aquém do custo operacional contábil, pressionado pela depreciação. No ano, as operações consumiram um caixa líquido de R$ 86 milhões. Na safra atual, a empresa informa que pretende voltar a produzir o etanol 2G com o bagaço e a palha, que obteve uma certificação como etanol avançado para venda à Europa.