Busca por independência energética na Europa deve elevar preços da energia renovável
FONTE: Energia Hoje
O impacto da guerra da Ucrânia no setor energético ainda é incerto, mas já se pode prever algumas consequências do conflito. Entre elas está a busca por independência energética dos países europeus, que deverão tentar atrair todo projeto de geração de rápida construção, a fim de evitar a dependência do gás russo, previu Celso Dall’Orto, gerente de Projetos da PSR, que participou do webinar “Perspectivas para energia nuclear no Brasil”, promovido na última terça-feira (16/03) pelo Centro Brasileiro de Relações Internacionais (Cebri) com o objetivo de discutir o papel da energia nuclear na segurança energética brasileira e na transição para uma economia de baixo carbono.
“Essa alteração do mix de projetos, com a tentativa de atrair cada vez mais projetos de geração a partir de fontes renováveis deverá afetar o preço, a logística e a dinâmica de todas as cadeias deste segmento”, previu Dall’Orto. “No curto prazo, todos os preços, não somente o de petróleo e combustíveis, mas também de fontes renováveis, devem subir.
Nesse cenário, avalia, as tecnologias consideradas caras deverão passar a ser vistas com outros olhos, tendência que deverá abranger tantos as usinas nucleares convencionais, como as pequenas centrais nucleares modulares, que estão em discussão. “No longo prazo, será preciso olhar todas as fontes, e forma a se alcançar um equilíbrio no portfólio de projetos”, disse ele.
De acordo com o diretor-presidente da Eletronuclear, Leonam Guimarães, o setor nuclear tem dificuldade de sobreviver em um ecossistema de juros elevados. Esse foi um dos problemas enfrentados pelo setor nuclear nos anos 70 e 80, o que incluiu o Brasil, influindo para o insucesso do Programa Nuclear Brasileiro.
Segundo ele, projetos de geração nuclear exigem grande investimento inicial, imobilizado por muito tempo, o que tira a sua competitividade econômico-financeira. “Acredito que isso não mude para os pequenos reatores nucleares. Deve haver alguma melhora, mas eles deverão continuar a perder na comparação com fontes renováveis como a geração solar e eólica, que tem um custo inicial bem baixo”, disse Guimarães.
O executivo destacou, no entanto, que não se deve levar em conta a comparação individual entre os preços das fontes. Segundo ele, embora a eletricidade seja uma commodity, a comparação de preços deve levar em conta onde e quando a energia foi produzida. Em um sistema com alto grau de interligação, como o caso brasileiro, o que importa é o custo da energia, o custo do sistema como um todo, recorda.
Segundo ele, considerando-se o custo de Angra 3, desde 2017 a Eletrobras faz avaliações com base nos dados do despacho do ONS, considerando a hipótese de operação da usina nuclear. “Temos observado praticamente em todos os anos que a introdução da usina teria efeito positivo no sistema, com uma redução”, diz ele. Segundo ele, embora Angra 3 deverá ter um custo elevado, são despachadas termelétricas com custos mais altos, dependendo das condições hídricas do país.