Consumo de gás natural cresce 28% no país em 2021

FONTE: Energia Hoje

Boa parte da expansão do ano passado foi resultado da crise hídrica pela qual o Brasil passou, a pior dos últimos 90 anos, com aumento de despachos térmicos, salienta Abegás

O consumo de gás natural no Brasil cresceu 28% em 2021, ano em que a demanda alcançou 76 milhões de m³/dia na média acumulada. Em 2020, de acordo com levantamento da Associação Brasileira das Distribuidoras de Gás Canalizado (Abegás) realizado entre as distribuidoras do país, a média acumulada foi de 59 milhões de m³/dia. Boa parte da expansão do ano passado foi resultado da crise hídrica pela qual o Brasil passou, a pior dos últimos 90 anos. A escassez de chuvas e os baixos níveis dos reservatórios das usinas hidrelétricas ao longo dos meses de 2021 levou a aumento de 51,7% dos despachos termelétricos, que atingiram 33,9 milhões de m³/dia na média acumulada, ante uma demanda de 22,4 milhões de m³/dia médios em 2020.

A expansão do acionamento de termelétricas, necessário para assegurar o abastecimento de energia elétrica no país e compensar a queda na geração hídrica, resultou no maior número de centrais térmicas em operação, cerca de 3 mil, em 2021, conforme a Aneel. Tal desempenho, de acordo com o presidente executivo da Abegás, Augusto Salomon, demonstra a importância do gás natural para a segurança energética do país. 

“É preciso acelerar condições para que o Brasil tenha uma matriz energética mais equilibrada. A integração do gás natural com o setor elétrico é essencial para que os brasileiros possam ter acesso a uma energia firme e competitiva, dando retaguarda para a expansão das fontes renováveis intermitentes e contribuindo para recuperação dos reservatórios das hidrelétricas. Não podemos ter uma matriz tão dependente do clima”, disse Salomon. 

Além da geração elétrica, a demanda do setor industrial por gás natural também contribuiu para os resultados de 2021. O consumo subiu 15%, saindo da média de 25,6 milhões de m³/dia em 2020 para 29,5 milhões de m³/dia na média acumulada de 2021. O volume adquirido pela indústria brasileira no ano passado chegou mesmo a superar o de 2019, período anterior à pandemia, quando a média acumulada somou 27,9 milhões de m³/dia. 

“O ano de 2021 marcou uma firme retomada do consumo de gás natural depois do susto registrado em 2020, com o forte impacto da pandemia, principalmente nos meses iniciais. Em 2021, a indústria manteve a demanda, mesmo durante a segunda onda de Covid-19. Nos demais segmentos, o avanço da vacinação foi determinante para a flexibilização das restrições, abrindo condições para a recuperação do segmento comercial e do consumo de GNV”, ressaltou Salomon. Todos os demais setores tiveram crescimento de demanda, com destaque para a recuperação do consumo de GNV (15,4%) e do segmento comercial (15,5%). Já́ o consumo do segmento residencial avançou 2,7%.

As perspectivas para este ano, entretanto, não são tão promissoras. Salomon avalia que o conflito no leste europeu pode ter impacto no custo do gás natural no mercado internacional. Diante disso, o Brasil deve reduzir sua exposição à importação de GNL. “O Brasil tem imensas reservas de gás natural no pré-sal, mas vem devolvendo praticamente metade do que produz – a reinjeção tem ultrapassado os 60 milhões de m³/dia cúbicos diários, o que equivale ao dobro do consumo industrial brasileiro. O país não pode ficar à mercê”, disse. 

A seu ver, é urgente a adoção de políticas públicas que estimulem investimentos em infraestrutura essencial, como rotas de escoamento, unidades de processamento, gasodutos de transporte e termelétricas inflexíveis na base do sistema elétrico. Salomon também enfatizou a necessidade de atuação mais assertiva da ANP a fim de atrair novos projetos. “A invasão de competências que constitucionalmente pertencem aos estados, como na questão da classificação dos gasodutos de distribuição, apenas criam insegurança jurídica e inibem investimentos”, concluiu o presidente da Abegás.

Na comparação trimestral, o destaque foi o crescimento do consumo de GNV. No último trimestre de 2021, a alta foi de 8% ante o trimestre anterior e de 10,9% em relação aos três últimos meses de 2020. Em dezembro, o número de unidades consumidoras de gás natural alcançou 4 milhões, equivalentes à quantidade de medidores na indústria, no comércio e em residências e outros pontos de consumo. Hoje, a rede de distribuição espalhada pelo país chega a 40 mil quilômetros, número duplicado em 11 anos em função dos investimentos das distribuidoras.