Fusões e aquisições devem manter ritmo forte
FONTE: Valor Econômico
Avaliação é do sócio-líder de consumo e varejo da KPMG no Brasil e América do Sul, Fernando Gambôa
Depois de crescer fortemente em 2021, o número de fusões e aquisições nos setores de consumo e varejo no Brasil não deve perder ritmo neste ano, mesmo com o cenário macroeconômico ainda mais pressionado por indicadores internos e pelos desdobramentos da guerra na Ucrânia, avalia o sócio-líder de consumo e varejo da KPMG no Brasil e América do Sul, Fernando Gambôa. Os valores movimentados, porém, podem diminuir.
Em 2021, os setores de consumo e o varejo tiveram um aumento de 64,6% no número de fusões e aquisições no mercado brasileiro (107 transações) em comparação com o ano anterior. Os dados são resultado de uma pesquisa feita trimestralmente pela KPMG, que abrange todas as transações anunciadas no país, classificadas em segmentos da economia.
Foram 53 transações realizadas no varejo, sendo 10 delas de supermercados e o restante de outros segmentos. Já no setor de consumo constam os números dos segmentos de vestuário e calçados (3), alimentos, bebidas e fumo (43), eletroeletrônicos (7) e higiene (1), o que equivale a 54 transações.
De acordo com Gambôa, esse avanço expressivo nas transações se deve ao fato de que muitas companhias estavam capitalizadas e foram buscar capilaridades no mercado.
“Dinheiro ainda tem. O que ouvimos de investidores é que tem muito mais dinheiro do que oportunidade no mercado nesse momento. Muito fundo está buscando boas alternativas, buscando ativos para engordar. E algumas empresas estão buscando complementariedades [aumentar portfólio ou melhorar rentabilidade]”, diz.
Para ele, o número de operações em 2022 deve continuar no patamar visto no ano passado, mas deve haver “uma ‘quedinha’ no valor de transação pelo contexto do mundo hoje”. “Todo mundo que está em movimento de M&A [sigla em inglês para fusões e aquisições] fica monitorando o mercado para ver se chegou no piso”, afirma, acrescentando que as transações, nesse início de ano, podem ficar mais no compasso de espera.
Ele pondera, porém, que o cenário de guerra e incertezas já trouxe mais dinheiro para o Brasil. Embora o movimento de aumento de juros no país atraia mais recursos para investimentos em renda fixa, Gambôa diz que os bloqueios sobre um “player” importante como a Rússia podem tornar os ativos no Brasil mais atrativos.
Entre as principais apostas sobre o que deve movimentar fusões e aquisições neste ano, o sócio da KPMG aponta as movimentações dos grandes marketplaces, como Magazine Luiza, Americanas e Via, e dos grandes conglomerados de moda, que iniciaram um movimento de criação de “ecossistemas” no ano passado. “Mas ainda tem muitos capitalizados que não se movimentaram muito e precisam ir às compras para tirar esse atraso [em relação aos competidores]”.
Gambôa acredita que boa parte das transações será para buscar ferramentas de análise do comportamento do consumidor. “Todo o setor de varejo, enfim, começa a olhar muito mais para receita e principalmente para o cliente. As principais empresas lidam muito pouco com indicadores vinculados a clientes, como fazem Netflix e Facebook.” A capacidade de captação e análise de dados dos clientes ainda é muito limitada dentro das próprias companhias e muito mais desenvolvida em startups, que devem ser os principais alvos das empresas dispostas a irem às compras.
Outra tendência importante em fusões e aquisições, diz ele, é o metaverso. A complexidade, porém, é grande, pois não está claro como contabilizar ativos do tipo nos balanços. “Se compro um terreno no metaverso, em criptomoeda, onde eu contabilizo? No metaverso ou no balanço real? E como pagar imposto sobre isso?”, questiona.