Hidrogênio é nova aposta da Thyssen para a América do Sul
FONTE: Valor Econômico
Grupo traz ao Brasil área de projetos industriais da área química, amônia e hidrogênio verdes
Com operações no Brasil há longo tempo e tendo a Metalúrgica Campo Limpo, de componentes automotivos, como um marco de sua atuação, o conglomerado industrial alemão Thyssenkrupp tem novas frentes para crescer no país e na América do Sul. Em março, estará trazendo para o Brasil a divisão Thyssenkrupp Uhde, que vai focar em projetos industriais da a área química, amônia e hidrogênio verdes, e de instalações voltadas para a área ambiental nas usinas de produção de aço.
Nesse negócio está uma grande aposta do grupo no mundo, e no Brasil por consequência. Por aqui, já há conversas adiantadas com várias empresas que têm projeto de instalação de unidade de produção de hidrogênio ou amônia verdes, seja para o mercado interno seja para exportação.
“Dominamos, mundialmente, com 50% a 60% da base instalada de eletrolisadores voltados para cloro-soda, a tecnologia do hidrogênio verde e já estamos com vários projetos desses produtos anunciados e em andamento – um com a Shell, que fica em Roterdã, outro na Arábia Saudita (projeto Neon), e também nos EUA e Canadá”, disse ao Valor o presidente da Thyssenkrupp na América do Sul, Paulo Alvarenga.
O grupo opera 15 unidades industriais na região, todas instaladas no Brasil, e emprega 4,2 mil pessoas
O escritório de engenharia da Uhde, unidade de negócio controlada pela Thyssenkrupp Industrial Solutions, ficará em Belo Horizonte e começa a funcionar com ao menos 50 profissionais.
A Uhde vai absorver as atividade de siderurgia e químicos, voltadas para projetos diversos. Em siderurgia vai fornecer instalações industriais como coquerias, unidades de dessulfuração de gases e de tratamentos de gases gerados os processo e para projetos voltados para descarbonização -redução das emissões de CO2 – das fabricantes de aço.
Na área química o foco são plantas voltadas a fertilizantes, como amônia verde, produtos químicos básicos, polímeros e cadeias de valor completas para hidrogênio verde. “O Brasil tem um grande potencial. Até 2040, segundo estudos de empresas especializadas, poderá ter um mercado de € 15 bilhões – dois terços para vendas internas e um terço para vendas internas e um terço para exportação”, diz Alvarenga.
O executivo acrescenta que a capacidade de energia renovável do país seria da ordem de 200 gigawatts (GW), com a produção de hidrogênio verde, que requer energia limpa (solar, eólica) no processo da hidrólise. Hoje, o total de toda a matriz energética instalada no país é de 170 GW.
A unidade de mineração da Solutions foi mundialmente vendida para a companhia dinamarquesa FL Smidth e aguarda a aprovação dos órgãos antitruste. Sua divisão de equipamentos para indústria cimenteira continua sob gestão da Polysius do Brasil.
O grupo opera 15 unidades industriais na região, todas instaladas no Brasil. Emprega 4,2 mil pessoas e no ano fiscal 2020/2021 obteve receita de R$ 4,8 bilhões, com aumento de mais de 50% na comparação com o exercício anterior, que foi afetado pela pandemia de covid-19, principalmente na divisão de componentes automotivos e para equipamentos agrícolas.
Segundo Alvarenga, houve uma forte recuperação nesse segmento – que atende desde veículos leves a pesados, com os mais diferentes tipos de componentes. “Em cada dez automóveis, nove tem um componente da Thyssen”, afirma, acrescentado que houve alta de 40%. “Voltamos ao patamar pré-pandemia”.
A principal unidade fabril dessa divisão é a Metalúrgica Campo Limpo, que fica ao lado de São Paulo (Campo Limpo Paulista). É uma das maiores fabricantes de virabrequins do mundo. Há outras unidades espalhadas por São Paulo, ABC Paulista, Taubaté (SP), Minas Gerais (Poços de Caldas e Ibirité) e São José dos Pinhais (PR).
Segundo Alvarenga, a receita dos negócios na região, que engloba Argentina, Chile e Peru, ficou dividida igualmente para cada uma das três divisões: automotiva, defesa naval mais trading de produtos siderúrgicos e engenharia de plantas industriais.
Esta última abrange equipamentos e serviços para mineração, cimento e químicos, além de centros de serviços em Santa Luzia (MG), Parauapebas (PA), no Chile (dois) e Peru (dois) e escritórios em Belo Horizonte, em São Paulo e no Chile e Peru.
O terceiro tripé – Defesa Naval e o negócio de Trading de Aço – ganhou expressão a partir de 2021. A importação de produtos siderúrgicos cresceu muito no ano passado com a demanda aquecida no mercado brasileiro.
A área naval surgiu com a vitória de uma concorrência da Marinha para construção de quatro fragatas. Para a disputa, foi formado o consórcio Águas Azuis, com Thyssen, Embraer e Atech. Trata-se de um contrato da ordem de US$ 2 bilhões, que prevê a entrega das embarcações encomendadas até 2028.
A primeira fragata deve ter inicio de construção neste ano, após a conclusão da réplica. A entrega à Marinha está prevista para 2025. As demais, a cada ano. O consórcio adquiriu um estaleiro em Itajaí (SC), que foi adaptado, para montagem das fragatas. “Vamos transferir tecnologia. A primeira já terá 30% de componentes nacionais; as demais, 40%”. A visão de negócio é que a operação no Brasil seja um cluster para exportação a países da América do Sul, afirma Alvarenga.
Esse negócio veio substituir a perda de outros dois: siderurgia (antiga Thyssenkrupp CSA), vendida alguns anos atrás para Ternium, e a divisão de elevadores, vendida globalmente a fundos de private equity no início de 2020. “No estaleiro, teremos 800 empregos diretos, além dos 1,2 mil de fornecedores e mil indiretos (de empresas subfornecedoras)”.