Saint-Gobain alcança crescimento recorde no Brasil, superior a R$ 15 bi
FONTE: Valor Econômico
Grupo francês registrou alta de 40% no faturamento, em 2021, e estima mais 15% para este ano no mercado brasileiro
O grupo francês Saint-Gobain, gigante na indústria de materiais de construção, conseguiu passar bem pela crise pandêmica da covid-19 no Brasil, que responde por dois terços da sua receita e resultados na America Latina. Informa que fecha 2021 com aumento de 40% no faturamento, depois de ter crescido 20% no ano anterior, mais castigado pelo impacto mundial do coronavírus.
Não havia melhor momento para o espanhol Javier Gimeno assumir o comando das operações no país e na região. A multinacional fechou o ano com faturamento recorde no Brasil, superior a R$ 15 bilhões, e prevê um desempenho positivo de 15% para 2022 sobre o resultado do ano passado. “Crescemos com rentabilidade”, disse Gimeno ao Valor, atribuindo grande parte disso à demanda por produtos para construção civil.
A construção responde por dois terços dos negócios da companhia francesa no Brasil. O grupo prevê aumentar as vendas para o setor apesar da desaceleração do crescimento de vendas de imóveis residenciais para a classe média, que tende a se refletir em redução dos lançamentos por incorporadoras.
Para o executivo, há expectativa de continuidade da demanda do varejo para atender aos consumidores que pretendem reformar suas casas. “E as empresas vão investir na renovação dos escritórios, para que os espaços sejam mais saudáveis”, disse Gimeno, que chegou ao país em julho.
Segundo o executivo, este ano tende a ser “muito melhor” do que 2021 no que diz respeito a vendas para obras de infraestrutura, cujos investimentos voltarão a crescer devido às concessões de saneamento e outros setores.
No negócio de construção, o grupo atua com Brasilit (telhas de fibrocimento e soluções de construção à seco), Quartzolit (rejuntamentos e argamassas e impermeabilizantes), Placo do Brasil (drywall), Pam (tubos, conexões e válvulas), Isover (soluções de isolação termoacústica e em lã de vidro) e Saint-Gobain Glass, Cebrace e Sekurit (vidros planos). No varejo de materiais, sua atuação se dá com Telhanorte e com a Tumelero (focada na região Sul).
Em seguida, nos negócios do grupo, está o setor automotivo, com 20% de participação. O restante se divide em outros segmentos, como o de saúde, no qual a Saint-Gobain atua na produção de tubos para o setor médico. As vendas desse segmento tiveram forte expansão desde o início da pandemia de covid-19.
No Brasil há 90 anos, o grupo francês continua a mirar o longo prazo na tomada de suas decisões de investimento. Anualmente, investe € 100 milhões (mais de R$ 600 milhões) em crescimento orgânico na América Latina. Metade dos recursos é direcionada para inovação, busca de novas aplicações de materiais, melhora de produtividade e redução de custos. Um exemplo de avanço tecnológico, segundo o executivo, são vidros com mais isolamento térmico, que possibilitam menor consumo de energia e menos emissão de gás carbônico.
Os demais 50% dos aportes são destinados às unidades produtivas. No fim deste ano, nova linha de placas de gesso entrará em operação na instalação fabril de Mogi das Cruzes (SP). Em 2022, terá partida fábrica de telhas de fibrocimento em Abadiânia (GO). Em curso, há também a ampliação da capacidade de telhas de fibrocimento em Recife.
A Saint-Gobain tem 56 fábricas no país, e há previsão que mais três ou quatro unidades entrem em operação no decorrer deste ano. Aquisições seguem no radar, e o foco são empresas médias e pequenas. “Estamos buscando tecnologia ou maior presença comercial local”, conta Gimeno.
Na avaliação do executivo, a inflação de materiais de construção ainda pressionará os custos de produção, nos próximos meses, mas o impacto das despesas com mão de obra será maior. “A eliminação da volatilidade do câmbio tornaria o Brasil mais atrativo”, acrescenta o espanhol. Ele deixou a liderança das operações do grupo na região da Ásia-Pacífico para assumir a atual função.
“Morei na Ásia, durante muitos anos, e nunca vi tanto dinamismo na relação da Saint-Gobain com clientes e fornecedores quanto no Brasil”, diz Gimeno. Com predominância na região, a subsidiária brasileira abriga mais de 12 mil funcionários.
No fim de 2020, o grupo assumiu compromisso com a Organização das Nações Unidas (ONU) de zerar as emissões líquidas de carbono até 2050. Há intenção, por exemplo, de autogeração de energia em algumas fábricas. “A Saint-Gobain não pretende ser um ator na produção de energia, mas quer evoluir para utilizar todas as energias verdes”, afirma.