Ultracargo planeja diversificar operação
FONTE: Valor Econômico
Empresa de logística avalia ir além de granéis líquidos e investir também em terminais de grãos e fertilizantes
A Ultracargo se prepara para expandir e diversificar sua operação. Hoje, a companhia de logística do grupo Ultra já opera terminais de granéis líquidos em sete portos do país. Nos próximos anos, a ideia é ampliar a capacidade dessas áreas e passar a movimentar outros tipos de carga, como grãos e fertilizantes, afirmou ao Valor o presidente a empresa, Décio Amaral.
“Estamos estudando algumas oportunidades [de diversificação]. Talvez se materializem em 2022, tudo dependerá da relação risco-retorno. Mas certamente é um caminho que a empresa vai começar a trilhar”, diz ele.
Estão no radar leilões portuários organizados pelo governo federal, além de possíveis Terminais de Uso Privado (TUPs). Dois ativos que serão estudados pela companhia são os terminais, no Porto de Santos, de grãos (STS 11) e fertilizantes (STS 53), cujas licitações estão, a princípio, previstas para o próximo ano.
“O Brasil tem uma carência de fertilizantes, é um setor que tem grandes gargalos logísticos. Também estamos estudando alguns terminais de granéis sólidos e, eventualmente, de GLP [Gás Liquefeito de Petróleo]. É um segmento que vai ter uma boa transformação logística nos próximos anos, também estamos estudando esses fluxos”, afirma.
Outro plano da companhia é investir em terminais no interior do país, por exemplo, ao longo de ferrovias. “O papel da Ultracargo é aliviar o cliente de investir em infraestrutura. A ideia é consolidar a demanda de várias empresas e dar mais eficiência.”
Todos esses movimentos de diversificação poderão ser realizados pela empresa sozinha ou com parceiros, diz Amaral.
A companhia também deverá preparar, ao longo de 2022, o próximo ciclo de ampliações dos terminais atuais. “Até 2021, vivemos um período de muitas obras. Nos próximos anos, queremos expandir em Santos, Aratu, Suape, além de começar a construir o lote novo de Itaqui [conquistado em leilão neste ano]. Será uma nova leva de projetos e licenciamentos. Não vamos construir tudo de uma vez, mas queremos deixar tudo pronto para, tendo demanda, começar a expandir.”
No Porto de Santos, onde a Ultracargo já tem capacidade de 307 mil m3, há um potencial enorme de crescimento. A empresa tem áreas privadas disponíveis que já permitiram dobrar a operação. Antes disso, porém, a ideia é ampliar o que o presidente chama de “capacidade dinâmica”, por meio da construção de um novo ramal ferroviário, conectando o terminal às malhas existentes. A ideia é que a carga, hoje escoada por caminhões, passe para a ferrovia – o que otimizará a estrutura do terminal.
A Ultracargo já fez o pedido ao governo federal para construir esse ramal ferroviário, em regime de autorização (em que a obra é totalmente privada). A lei que autoriza o formato não foi aprovada, mas, como há uma Medida Provisória em vigor, o grupo avalia que já há segurança jurídica para tirar o projeto do papel.
“Hoje, a ferrovia passa na frente do nosso terminal, mas só conseguimos escoar via caminhão. Em dois anos, espero estar com esse novo ramal conectado. A empresa passará a ter uma área de influência muito maior, porque a operação fica mais eficiente e competitiva. Vou reduzir muito o custo do produto”, afirma. A previsão de investimento é de R$ 80 milhões a R$ 100 milhões no trecho, que terá 2 km.
O objetivo para os próximos anos é desenvolver projetos para dobrar o tamanho da companhia, diz ele.
No terceiro trimestre de 2021, o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado da empresa foi de R$ 102,1 milhões.
Para Amaral, o cenário de instabilidade política e econômica não impacta os planos. Primeiro porque 2022 já seria um ano de “tomar fôlego” e renovar projetos executivos para o próximo ciclo de investimentos – então não haveria obras de qualquer forma.
Além disso, ele diz enxergar um cenário positivo no longo prazo. “Apesar de ter um ano de pequena recessão, o agronegócio segue demandando, então imaginamos [para 2022] um ano de consumo [de combustíveis] similar a 2021. O ruído de curto prazo não afeta a visão de crescimento. No caso das oportunidades de leilões, é preciso analisar o cenário estrutural. Talvez se exija um retorno maior pelo ruído, mas não deixaremos de participar.”
Nos últimos dois anos, a Ultracargo conquistou dois terminais portuários em licitações federais. O mais recente foi uma área de granéis líquidos no porto de Itaqui, no Maranhão, onde a empresa já tinha uma operação.
Em 2019, a companhia também já havia conquistado um terminal no porto de Vila do Conde, no Pará, que acaba de receber a última licença necessária para sua operação, e, com isso, começará a movimentar carga ainda neste mês. A obra, que a princípio seria entregue só no início de 2023, foi bastante antecipada.
“É uma nova fronteira que se abre. A região Norte é deficitária [no consumo de combustíveis], então vai se criar um novo polo, que vai receber navios grandes e dar mais eficiência logística, porque hoje a carga chega pelo porto de Miramar [em Belém], que não recebe navios grandes. Para a empresa, será o desenvolvimento de um novo mercado. Temos focado nossos investimentos naquela região”, afirma Amaral.
Inicialmente, a movimentação será de combustíveis, mas a companhia já tem recebido consultas para movimentar também produtos químicos e etanol, diz ele.