Noruega mira energia verde e amplia aposta no Brasil

FONTE: Valor Econômico

Investimento no setor cresce 67% e deve avançar mais

A Noruega considera o Brasil um parceiro estratégico na transição para uma economia de baixo carbono e no desenvolvimento de tecnologias verdes. O setor de energia, em especial óleo e gás, ainda é predominante nas relações entre os dois países e representou 71% dos US$ 7 bilhões investidos pelas empresas norueguesas no país entre 2019 e 2020. O valor é 67% superior aos aportes do biênio anterior. E as empresas estão dispostas a investir mais nos próximos anos.

Do total aportado pelas empresas nórdicas, 4% foram destinados a iniciativas ligadas a fontes renováveis e combustíveis limpos. Mas a expectativa é que cresça nos próximos anos, já que a agenda verde está entre as prioridades do governo norueguês. Os números fazem parte do relatório “Investimentos Noruegueses no Brasil”, produzido pelo Consulado Geral da Noruega no Rio em parceria com a Innovation Norway e obtido com exclusividade pelo Valor.

A Noruega é uma nação que vai continuar produzindo óleo e gás, mas entende que essa indústria é parte dos problemas climáticos e ambientais. “Vamos produzir dentro dos melhores meios possíveis. As empresas estão focadas na transição energética”, disse o embaixador da Noruega no Brasil, Odd Magne Ruud. O tempo que essas mudanças vão levar ainda é indefinido e qualquer esforço que se faça é válido, acrescenta. “Todos os pequenos passos são importantes. A transição tem que começar.” Para isso, o apoio dos governos é fundamental, defende. Os veículos elétricos representaram quase 80% das vendas de carros novos em setembro na Noruega, com incentivos fiscais.

Segundo a cônsul-geral da Noruega no Brasil, Marianne Fosland, o país é parte integrante das estratégias de transição global designadas para empresas norueguesas visando uma economia de baixo carbono. Há investimentos em desenvolvimento de novas tecnologias e operações sustentáveis para reduzir emissões e realizar a descarbonização. Além disso, investimentos em energia eólica, solar, hidrogênio e novas tecnologias de combustíveis limpos posicionam a Noruega na liderança do desenvolvimento de tecnologias.

A partir de 2022, a régua vai ficar mais alta para as empresas norueguesas. Vai entrar em vigor uma nova lei no país, Transparency Act, que requer que companhias norueguesas façam a devida diligência para garantir que suas operações e da cadeia de fornecedores estejam operando de forma responsável, respeitando os direitos humanos e condições de trabalho decentes.

Dados de Investimentos Diretos no Brasil (IED) mostram que em 2020 os valores atingiram US$ 24,7 bilhões, ante US$ 65,4 bilhões um ano antes. Para 2021, a projeção é que cheguem a US$ 51,1 bilhões, projeta o presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais (Sobeet), Luís Afonso Fernandes Lima. A participação das empresas da Noruega no Brasil está crescendo, junto com países como Itália e Hong Kong. Isso na visão dele é positivo, porque os investimentos sempre foram muito concentrados nos cinco primeiros países – atualmente Holanda, EUA, Luxemburgo, Suíça e Bélgica. “O fluxo global ganha consistência se tiver mais países participantes do ingresso de recursos”, diz Lima.

O compromisso das empresas norueguesas com o Brasil é de longo prazo, diz a cônsul-geral da Noruega no Brasil. Talvez uma das maiores provas tenha sido a pandemia. Os investimentos feitos no biênio 2019-2020 foram programados bem antes do coronavírus e, mesmo com todas as incertezas que o problema trouxe, os aportes foram mantidos, disse ela.

O relatório apontou que, das empresas pesquisadas, 93% aumentarão ou manterão investimentos após a pandemia. “O Brasil é um mercado importante”, disse Marianne. Em janeiro de 2021, a norueguesa Equinor e os sócios ExxonMobil e Petrogal anunciaram investimento de US$ 8 bilhões no projeto de Bacalhau (ex-Carcará), na Bacia de Santos, o primeiro campo do pré-sal a ser desenvolvido por petroleira estrangeira.