Oferta de ureia não deve ser problema para a safrinha de milho, mas preço disparou
FONTE: Valor Econômico
Em volume, a cultura, que será semeada apenas em 2022, só é menor que a soja
A preocupação com a disponibilidade de fertilizantes para as lavouras brasileiras em 2022 e o aumento dos preços desses insumos neste ano são temas frequentes nas rodas de conversas do agronegócio – e talvez também fora dele. É possível que pouca gente nos centros urbanos conheça o formulado 20-00-20 (uma mistura de nitrogênio e potássio, que tem pesado no bolso do produtor agrícola), mas, como tudo que se reflete em alta de preços nos supermercados, não será estranho se o tema despertar cada vez mais curiosidade também entre quem não tem os fertilizantes em seu cotidiano.
A demanda dos agricultores é forte e varia conforme o cultivo e a época do ano. Parece ser consenso entre especialistas e o governo federal que há riscos relacionados à disponibilidade em um horizonte além do médio prazo – ou a partir da próxima safra de grãos (22/23). No curto prazo, o próximo plantio importante para o país é o de milho segunda safra (ou “safrinha”), que ocorre no início de cada ano após a colheita de soja.
Estimativas oficiais e de consultorias projetam a próxima produção da safrinha em cerca de 85 milhões de toneladas, uma alta de mais de 40% em relação ao ciclo anterior. A safrinha é o cultivo mais volumoso do cereal no ano, e o segundo mais importante para o país depois da soja. Ademais, o milho integra a base alimentar de aves, suínos e rebanhos bovinos de corte e leite.
Para a safrinha não deverá faltar adubo, acreditam fontes. Um produto que se destaca entre as demandas do produtor de milho é a ureia (um nitrogenado). “É que diferentemente dos fosfatados, por exemplo, os nitrogenados não criam um ‘banco’ no solo entre as safras”, diz Marcelo Mello, diretor de fertilizantes da consultoria StoneX.
Segundo ele, as importações de ureia totalizaram 6,2 milhões de toneladas até outubro. Além disso, ao menos até a segunda semana de novembro, havia mais 1,4 milhão de toneladas do produto em navios esperando desembarque. Ao todo, as 7,6 milhões de toneladas são quase 10% mais que o volume importado de ureia em 2020. Há, ainda, produção local de cerca de 1 milhão de toneladas.
A ureia é o carro-chefe em nitrogenados, grupo de produtos que representa um terço do volume de fertilizantes entregue ao produtor rural todos os anos. Ao lado de fosfatados e potássicos, os três grupos formam a base de adubos utilizados nas lavouras do país, que importa a maior parte do que consome.
Parcela das preocupações sobre disponibilidade futura vem de restrições anunciadas pela Rússia, um importante fornecedor desse insumo e também de potássio. As medidas válidas a partir de dezembro criam cotas de exportação para fertilizantes complexos e nitrogenados.
Segundo a StoneX, os russos fornecem 20% da ureia, 100% do nitrato de amônio e 30% do MAP (fosfatado). A Conab avaliou ontem que a entrega de fertilizantes está assegurada em médio prazo. Na semana passada, a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, reuniu-se com autoridades russas.
Em nitrogenados, sobretudo ureia, há outros países exportadores como Argélia, Catar, Nigéria e Emirados Árabes, comenta o pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada, Mauro Osaki. Mas se não há problemas de falta, há de preço. A ureia, um dos adubos usados em milho, tem o gás natural como matéria-prima, um insumo que disparou em 2021.
Cálculo recente de Osaki mostra que a relação de troca entre milho e ureia é a pior para o produtor desde setembro de 2008. No início deste mês, o agricultor precisava de 3,35 toneladas de cereal para comprar 1 tonelada do adubo.