Redução do preço do GNL não indica normalização do cenário internacional, aponta S&P Platts
FONTE: Brasil Energia
Preço do GNL recuou para abaixo de US$ 30/MMBtu em novembro, após alta histórica de US$ 56,33/MMBtu, mas probabilidade é que 2022 comece com elevada volatilidade nas cotações
Depois de atingir alta histórica de US$ 56,33/MMBtu no início de outubro de 2021, aumento de US$ 23,83/MMBtu em relação ao valor alcançado durante o inverno de 2020 no hemisfério norte, o preço do Gás Natural Liquefeito (GNL) recuou para menos de US$ 30/MMBtu em novembro, conforme o Platts JKM – sigla para Japan-Korean Market. O indicador, conforme diz o nome, tem como referência o preço à vista do GNL na região Nordeste da Ásia e é apurado pela S&P Global Platts, plataforma independente de informações, preços de referência e análises para os mercados de energia e commodities. Mas, apesar da redução das últimas semanas, nada aponta para uma normalização do cenário internacional de GNL, ao menos a curto prazo.
A avaliação é de Ross Wyeno, analista líder de GNL Américas da S&P Global Platts, para quem as oscilações expressivas ocorridas ao longo deste ano devem permanecer, ao menos por um breve período. É grande, a seu ver, a probabilidade de 2022 começar com um mercado de elevada volatilidade nos preços, tendo pela frente desafios de novas altas recordes, por razões diferentes das anteriores. O aumento nos preços globais do GNL, em 2021, foi impulsionado por um conjunto de fatores, incluindo reduzido fornecimento por meio de gasodutos russos para a Europa, seca histórica na América do Sul e forte recuperação econômica na China.
O desfecho do cenário atual, segundo Wyeno, dependerá da temperatura do inverno já a caminho nos países europeus, asiáticos e da América do Norte. É o rigor do inverno que ditará, em parte, a temperatura dos preços do GNL. Quanto mais frio, mais necessidade de calefação e maior a pressão sobre os preços do gás. Isso, aliado à grave crise de armazenamento vivida pela Europa no momento atual, que tem levado a uma redução da oferta local.
A bem da verdade, o recuo dos preços, desde o aumento recorde de outubro, contribuiu para tranquilizar o mercado europeu em relação ao fornecimento de gás, mas se o inverno que se aproxima for mais rigoroso que o normal, os preços poderão voltar ao patamar histórico de US$ 50/MMBtu, ou mesmo oscilar em faixa superior a essa.
“No caso de um inverno mais rigoroso que o normal, os preços provavelmente retornarão aos máximos históricos e haverá busca por uma redução da demanda para se chegar a um equilíbrio. No caso de um inverno normal, os preços podem cair para as âncoras mais tradicionais”, observou o especialista, destacando que os mercados globais de GNL têm se preparado, com alguma preocupação, para um inverno de oferta restrita, com muitas concessionárias asiáticas aumentando estoques de GNL. A pressão que se viu ao longo deste ano levou a dois movimentos distintos: vários fornecedores de energia interromperam seus negócios e a indústria pesada reduziu sua produção em setores intensivos em energia.
Para o próximo ano, entretanto, passado o inverno asiático e europeu, a expectativa é mais positiva. O especialista trabalha com um cenário de retomada da produção na Bacia do Atlântico em paralelo à ampliação da capacidade de exportação dos Estados Unidos. “A combinação desses dois movimentos poderá levar a um processo de redução nos preços globais de GNL”, afirmou.
Se isso não ocorrer, a volatilidade, bem como pressões para preços recordes afetará a esperada retomada da economia global no primeiro ano após o arrefecimento da pandemia. O aumento do preço do GNL, de acordo com Ross Wyeno, tornou-se um grande obstáculo para indústrias que utilizam o gás como matéria-prima, como o setor de produção de fertilizantes e de refino de petróleo.
Outros segmentos com uso intensivo de energia – como fabricação de aço, papel e produção de alimentos – provavelmente passarão por inflação de preços, devido ao aumento dos custos de insumos. “Em alguns casos, começamos a ver a destruição da demanda (ou seja, redução da produção devido aos altos custos de energia), mas o impacto geral tem sido mínimo até o momento nos países ocidentais”, disse.
O preço do gás natural no Brasil, nos próximos contratos das distribuidoras, está atrelado ao panorama internacional. A dependência de importação de GNL, em detrimento do gás vendido pela Petrobras, também restringe o poder de barganha dos compradores e é fator de pressão tanto sobre a retomada da economia nacional, quanto sobre a inflação no país, já em alta. Ao buscar fornecedores externos, o Brasil se juntará à Europa e Ásia, que respondem, atualmente, por cerca de 95% das importações globais de GNL.