A hora e a vez do SURF em águas brasileiras

FONTE: Brasil Energia

Aquecimento do segmento de FPSOs da Petrobras impulsiona contratações de SURF no Brasil, projetando pico de atividades offshore recorde para 2025/2026

É muito, mas não para por aí. A petroleira está em vias de fechar outros três contratos, que juntos somarão quase um montante ao redor de US$ 3 bilhões, além de já ter garantido a assinatura de negócios nesse segmento no valor total de cerca de US$ 5 bilhões.

Para se ter uma ideia do agito e da reviravolta que a Petrobras vem provocando no setor e da atual relevância do Brasil no segmento de SURF, o país figura hoje como principal polo de contratação de negócios, à frente até mesmo dos vizinhos Suriname e Guiana, com suas mega descobertas em desenvolvimento.

Depois de um  cenário mundial crítico, pautado por baixas nas frotas de barcos e nas equipes por conta da crise do preço do barril, além da consequente queda das campanhas das petroleiras, o setor volta a respirar mais aliviado apoiado, sobretudo, pela agilização dos processos de contratações e desenvolvimento dos megaprojetos de Búzios, Mero e Tupi.

Enquanto Austrália, Noruega, Golfo do México, Oeste da África e alguns lugares do Extremo Oriente dão sinais ainda tímidos de retomar suas primeiras licitações de maior porte de subsea, a Petrobras trabalha em ritmo frenético, liberando um bid atrás do outro, sem deixar espaço para que as empresas de serviço consigam respirar ou até mesmo montar cronogramas de trabalho mais integrados. A lista de projetos de SURF por licitar é grande, envolvendo pelo menos 14 sistemas submarinos de grande e médio portes nas bacias de Santos, Sergipe e Campos, sem contar com os projetos das IOCs.

Além do sistema de Búzios 8, cuja licitação foi lançada em julho, tendo entrega de propostas marcada para 8 de dezembro, a Petrobras tem no radar os sistema subsea de Mero 4, Mero Fator de Recuperação (FR), Búzios 9, Búzios 10, Búzios 11, Búzios 12, TIPT Búzios 1, 2, 3 e 4, TIPT de Berbigão, Sergipe Águas Profundas, Hisep de Mero e ainda o Integrado do Parque das Baleias, cujo FPSO acaba de ser afretado da Yinson.

A expectativa é de que até o fim do ano, a Petrobras libere os editais de Mero 4, Mero Fator de Recuperação (FR), que juntos devem assegurar contratos da ordem de US$ 2 bilhões, além do Hisep de Mero. Já para 2022, é esperada a megalicitação para contratação de SURF do 9º módulo de Búzios, que tem entrada em operação prevista para 2026 e será explotado pela P-80, FPSO em processo de licitação pela Petrobras.

Parte dos planos e cronogramas para contratação dos novos serviços de SURF será melhor definida a partir do Plano Estratégico 2022-2026, previsto para ser divulgado no fim de novembro.

Afora os bids por vir, a Petrobras tem engatilhado três contratos por fechar, oriundos das licitações dos SURF de Búzios 6, em processo de negociação final com a Saipem, Búzios 7, com o grupo TechnipFMC, e Tupi, voltado à campanha de substituição de parte dos risers flexíveis do campo por linhas rígidas, que está sendo discutido com a McDermott. 

O aquecimento do segmento de SURF no Brasil vem a reboque do boom do mercado de FPSOs, que, após um longo período de baixa, vive seu melhor momento de encomendas em função, principalmente, da demanda da Petrobras por unidades gigantes para o cluster. Depois de contratar, recentemente, a P-78, P-79, ambas para Búzios, e o FPSO Alexandre Gusmão, que será alocado a Mero, a petroleira prepara a contratação nos próximos meses meses da P-80, do FPSO de Sergipe Águas Profundas, além das demais unidades que integrarão o programa de desenvolvimento do campo de Búzios. 

Largada antecipada

A estratégia adotada pela Petrobras foi de se antecipar ao aquecimento do mercado e aproveitar o cenário de preços de serviços favoráveis às petroleiras em função do patamar de preço do barril do petróleo em queda. A estatal detinha demanda expressiva por subsea para o cluster, tendo, por outro lado, certeza de que o mercado voltaria a aquecer em algum momento e que a disponibilidade de barcos de grande porte para contratos de EPCI poderia se tornar um problema futuramente.

O mercado de SURF de águas ultraprofundas é atendido por um grupo restrito de empresas limitado à Saipem Subsea 7, McDermott, TechnipFMC e Sapura. A frota mundial de barcos competitivos direcionados a contratos EPCI  gira em torno de dez embarcações.

Em 2020, enquanto as IOCs reviam suas estratégias em função do patamar do Brent e da discussão em torno da transição energética, a Petrobras deu o pontapé na iniciativa de inundar o mercado com licitações, respaldada pela resiliência dos projetos de Búzios e Mero. A primeira ação ainda tímida da Petrobras nessa diretriz foi realizada em 2019, com os bids do SURF de Mero 1 e Sépia. 

As iniciativas da Petrobras garantiram negócios já firmados para o SURF de Mero 1 e 2, com a TechnipFMC, Mero 3, com a Subsea 7, Sépia, com a mCDermott, e mais Búzios 5, com a Saipem.  

A outra petroleira que também decidiu se antecipar à retomada do aquecimento da demanda foi a Equinor. A petroleira acertou a contratação da Subsea 7 para o SURF de Bacalhau 1, que será executado pelo barco Seven Vega, no primeiro semestre de 2023. 

Pico das atividades

Com a aceleração do desenvolvimento dos projetos de Búzios e de Mero pela Petrobras, o Brasil viverá um pico da atividade de SURF nunca visto por aqui até então. A projeção é de que o trabalho comece a se intensificar a partir de 2024, atingindo níveis bastante altos entre os anos de 2025 e 2026, quando estima-se que cinco a seis barcos estejam operando simultaneamente no Brasil em contratos de EPCI, afora os navios de lançamento afretados sob contrato de longo prazo com a Petrobras.

A confirmação do cronograma de pico das atividades de SURF no Brasil dependerá essencialmente do cumprimento do primeiro óleo dos projetos da Petrobras. A crise da Covid-19 afetou o ritmo das obras de construção de muitos FPSOs da petroleira no exterior, o que pode acabar alterando o plano original de algumas campanhas de subsea.

No passado, o pico das atividades de SURF da Petrobras foi registrado em 2012, durante o desenvolvimento dos primeiros campos do pré-sal. Na época, a petroleira manteve três barcos operando simultaneamente.

Os mega contratos de SURF da Petrobras têm sido firmados com valor médio de US$ 1 bilhão. Em geral, os negócios envolvem prazo total de três anos e meio, sendo cerca de oito a dez meses de fase de execução offshore.

Expectativa IOCs

Além dos negócios da Petrobras, o Brasil tem pela frente outras oportunidades de SURF no curto prazo que serão colocadas por algumas das IOCS. A Shell e a TotalEnergies devem liberar bids para os projetos de Gato do Mato e Lapa Sudoeste, respectivamente, possivelmente até o fim do primeiro trimestre de 2022.

A Equinor tem ainda o desafio de tirar do papel o megaprojeto do BM-C-33, na Bacia de Campos, e Bacalhau 2, que, muito possivelmente, deve ser executado pela Subsea 7.

Há toda uma expectativa também junto às petroleiras de médio e menor porte que adquiram projetos no programa de desinvestimento da Petrobras. Ainda que o volume de trabalho seja infinitamente menor, certamente essas companhias irão ao mercado para contratar campanhas de SURF.  

A estratégia da Petrobras de se antecipar ao aquecimento do mercado pode impor dificuldades às IOCS e às médias petroleiras. Existe a percepção de que, a partir de 2022, os preços começarão a subir e a disponibilidade de barcos não será algo tão simples quanto foi até o momento.

Diante de tantas campanhas e da demanda por tantos barcos simultaneamente no Brasil, há quem diga que no fim das contas haverá necessariamente uma acomodação de cronograma de campanhas.

Embora o aquecimento do mercado venha sendo comemorado pelas empresas de serviço, a questão do financiamento tem sido vista como um ponto de preocupação extra. Com a Petrobras adotando a política de fluxo de caixa negativo e diante claro indicativo de migração dos fundos de investimentos para projetos de energia renováveis em função do movimento de transição energética, será preciso buscar um novo arranjo econômico para os novos negócios.

“As empresas de serviço absorveram essa estratégia, mas estão chegando ao seu limite. A capacidade financeira mesmo dos grandes grupos está se esgotando e isso independente da área de atuação”, afirma uma fonte do setor.

Futuro X transição

Apesar da pressão sobre a aceleração da transição energética, executivos apostam que o reaquecimento do mercado de SURF no Brasil se manterá estável pela próxima década. Não havendo queda brusca do preço do barril do petróleo, a aposta é de que as contratações sigam em alta alavancadas por novos projetos.

Parte da aposta do mercado se volta ao sucesso exploratório de novas áreas como Sergipe, Aram, na Bacia de Santos, e até mesmo a Margem Equatorial, apesar da dificuldade de licenciamento enfrentada até momento.   

No que diz respeito ao movimento do mercado fora do Brasil, recentemente, a ExxonMobil fechou contrato com a TechnipFMC para fornecimento do sistema subsea do próximo projeto no campo de Payara, na Guiana. A petroleira norte-americana também lançou bid para a contratação de serviço de SURF voltado ao ativo de Yellow Tail.