CCR e Ecorodovias disputam a joia das rodovias do Brasil
FONTE: Valor Econômico
Leilão define futuro da estrada por onde passa 50% do PIB do país
CCR e Ecorodovias se encontram hoje, às 14 horas, na B3, em São Paulo, para a disputa de um dos melhores ativos rodoviários do país: a BR-116 ou rodovia Presidente Dutra. A CCR chega como favorita, mas com a missão de tentar manter em seu portfólio um ativo com tráfego de veículos intenso e consolidado que ela conhece há 25 anos, desde 1996 quando venceu o primeiro processo de licitação da estrada. A Ecorodovias com o desafio de “roubar” da concorrente a rodovia que liga os dois maiores PIBs municipais do país (São Paulo e Rio) e que em 2019, antes dos efeitos negativos da pandemia de covid-19 no setor, registrou receita bruta de R$ 1,43 bilhão.
Entre as maiores concessionárias nacionais, as duas empresas foram as únicas a entregarem propostas na terça-feira, como antecipou o Valor. A expectativa já era de atrair poucos grupos pelo porte da operação, considerada extremamente complexa apesar do forte potencial de retorno. Nos 30 anos da nova administração estão previstos investimentos de R$ 14,8 bilhões, com custos operacionais estimados em cerca de R$ 11 bilhões.
O critério de escolha do vencedor será híbrido. Os proponentes poderão oferecer um desconto de, no máximo, 15,31% no valor da tarifa de pedágio. Caso persista o empate, a disputa passa a ser pelo maior valor de outorga.
Entre os desafios do novo concessionário está uma obra importante e bastante desafiadora: a duplicação na descida da Serra das Araras (RJ). A nova concessão também foi ampliada. O governo incluiu um trecho da BR-101, entre a zona oeste do Rio e Ubatuba (SP). Mas joga a favor do futuro controlador da rodovia o fato de começar a receber receitas já no dia que assumir o ativo – ao contrário de estradas ainda não pedagiadas, em que há um intervalo até o início da cobrança, além de incertezas quanto ao tráfego futuro.
Duas novidades no edital de licitação causaram receio entre especialistas. A isenção às motocicletas e o “free flow”, um sistema de pedágio sem cancelas e com pagamento de acordo com a quilometragem rodada. A crítica à isenção para as motocicletas é mais política do que econômica. Não tem muito peso em termos de faturamento, mas o mercado entendeu como uma medida meramente política do governo para agradar uma parcela dos motoristas.
Já o sistema “free flow” preocupa mais. A Dutra será pioneira na experiência, que será usada apenas no trecho da chegada a São Paulo e com compartilhamento de riscos pelo governo. Não está claro como lidar com a inadimplência e, apesar de ser adotado em apenas uma parte da rodovia, é justamente um dos trechos que apresenta maior volume de tráfego.
E o momento atual de incertezas sobre a economia, além do cenário político ainda também incerto para disputa eleitoral em 2022, não pesam contra o leilão? Na opinião do professor Marcus Quintella, diretor da FGV Transportes, esse cenário de curto prazo não deve ter impacto significativo na estratégia dos grupos para o leilão. “Esse projeto tem duração de 30 anos. Então há esperança de que o país sairá da crise. Afinal, toda crise é cíclica”, afirma Quintella. Como é esperado que os dois grupos ofereçam o desconto máximo para o pedágio, a outorga vai definir o vencedor e mostrar o tamanho da aposta no futuro da Dutra.