Apetite para novos projetos em energia solar

FONTE: Valor Econômico

Investidores têm interesse no setor, que poderá triplicar a capacidade instalada de elevar a potência da geração para mais de 32,4 GW nos próximos anos

Na última década, as plantas de energia eólica receberam investimentos próximos a US$ 35,8 bilhões, o que permitiu ao setor multiplicar em quase 11 vezes sua capacidade instalada, saindo de 1.524 megawatts (MW) em 2011 para 17.747 MW em 2020, segundo Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica). Atualmente, com 726 parques eólicos em operação, dos quais 630 em Estados nordestinos, e potência instalada de 19.103 MW, representando perto de 11% da capacidade total do sistema elétrico brasileiro, a indústria do setor engatilha investimentos de US$ 14 bilhões entre este ano e 2024, atingindo quase US$ 49,8 bilhões desde o começo da década passada.

Os novos projetos deverão elevar a capacidade para 30.203 MW no fim de 2024, acrescentando 12.456 MW em quatro anos, num avanço de 70,2% sobre 2020. “Os investimentos em fontes renováveis não convencionais (categoria que inclui eólica, solar e parte da biomassa) apresentam trajetória virtuosa de crescimento, sob liderança da eólica”, afirma Gannoum, lembrando que em 2009, quando foram iniciados os leilões exclusivos para a fonte eólica, o setor respondia por menos de 1% da potência total do sistema.

A arrancada ganhou fôlego renovado a partir de 2018, com o aquecimento do mercado livre, movimentado, segundo ela, pelo número crescente de contratos firmados entre parques eólicos e grandes empresas em busca de fontes limpas e renováveis e pelo barateamento nos custos. “Nos leilões de 2017, nossa energia tornou-se a mais barata e foi negociada a R$ 98 por megawatt/hora”, diz Gannoum. Entre 2018 e 2019, as vendas no ambiente de livre contratação responderam por 75% da energia produzida. No ano passado, diante da suspensão dos leilões no ambiente regulado, toda a energia nova gerada pelo setor foi negociada no mercado livre.

Em plena “safra dos ventos”, que vai de julho a novembro, os parques em operação “estão salvando o Brasil de um racionamento”, diz a executiva. A energia entregue pelo setor chegou a representar um quinto da demanda de todo o Sistema Integrado Nacional (SIN). No dia 21 de julho, a energia eólica respondeu por 99,9% da demanda da região Nordeste, significando o fornecimento de 11.094 MW médios no dia.

Na visão de Cláudio Gonçalves e de Rubens Bruncek Ferreira, respectivamente sócio e especialista sênior da Kearney, as fontes de energia renováveis, com destaque para as fontes eólica e solar, vão continuar a desempenhar papel fundamental para o bom funcionamento do sistema elétrico. A busca por sustentabilidade no setor corporativo, prossegue Gonçalves, sugere um “clima propício para a continuidade dos avanços na geração eólica e solar como fontes complementares”. Ambos ponderam, no entanto, que o sistema de geração “precisa ter energia firme em sua base para compensar a intermitência” daquelas fontes.

Um mecanismo de regulação que preveja remuneração para a energia armazenada em baterias ajudaria a reduzir esse caráter intermitente, diz Roberta Bonomi, presidente da Enel Green Power. O uso de baterias, tecnologia disponível, mas não aplicada nos parques brasileiros, ajudaria a prevenir problemas de interrupção da geração como os ocorridos em julho e agosto, quando o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determinou cortes durante alguns períodos por conta de gargalos na transmissão. “O ciclo da geração eólica e solar é mais curto do que o ciclo da transmissão. É preciso que a transmissão siga um planejamento antecipado em direção a um sistema mais moderno e mais estável.”

Maior produtora de energia eólica e solar do país, com potência instalada de 1.498 MW em suas plantas eólicas e mais 979 MW em energia solar, a Enel Green Power investiu em torno de R$ 11 bilhões entre 2016 e 2020 em projetos de energia limpa, multiplicando sua capacidade por seis no período. Mais R$ 5,6 bilhões estão sendo investidos em quatro empreendimentos eólicos e um solar, todos em fase final de construção, somando uma potência instalada adicional de 1,3 gigawatts.

Num investimento pouco abaixo de R$ 1,6 bilhão, o parque eólico de Campo Largo 2, na Bahia, entrou em operação comercial no começo de fevereiro, com a montagem e o comissionamento dos 86 aerogeradores concluídos em agosto, segundo Eduardo Sattamini, diretor-presidente e de relações com investidores da Engie Brasil Energia. O projeto acrescentou 361,2 MW ao portfólio da empresa, elevando sua capacidade instalada para 1,26 GW apenas no setor eólico. No Rio Grande do Norte, a empresa prevê investir R$ 2,3 bilhões no Conjunto Eólico Santo Agostinho, o maior da Engie no país, com capacidade instalada de 434 MW e entrada em operação comercial prevista para março de 2023.

A CPFL colocou em operação no dia 30 de setembro o Complexo Gameleira, instalado no Rio Grande do Norte, num conjunto de quatro parques eólicos com capacidade total para 81,65 MW. O projeto, segundo José Alexandre Almeida Serra, diretor de engenharia e obras da elétrica, contempla 23 aerogeradores e 12 quilômetros de linhas de transmissão. A empresa passa a somar 49 parques eólicos, dos quais 12 no Ceará, 33 no Rio Grande do Norte e quatro no Rio Grande do Sul. A geração eólica corresponde atualmente a pouco mais de 30% da capacidade total da CPFL, próxima de 4.386 MW.

A Casa dos Ventos disparou investimentos de R$ 7,5 bilhões para colocar em operação três parques eólicos com capacidade somada de 1.549,2 MW, diz Lucas Araripe, diretor de novos negócios da companhia. O primeiro deles, o Complexo Eólico Folha Larga Sul, iniciou a operação em abril de 2020, em Campo Formoso, na Bahia, com potência para 15,2 MW. Ainda neste semestre, deverá entrar em funcionamento a primeira fase do Complexo Eólico Rio do Vento, no Rio Grande do Norte, com capacidade para 504 MW. A segunda etapa, com potência prevista de 534 MW, iniciará a entrega de energia em 2023. Localizado na região de Morro do Chapéu, na Bahia, o Complexo Eólico Babilônia Sul deverá entrar em operação em 2022, com 360 MW de potência instalada. A empresa decidiu investir ainda em três novos complexos eólicos entre 2024 e 2025, acrescentando 1,5 GW e dobrando a capacidade atual.