Geração adicional de renováveis como suporte para hídrica
FONTE: Brasil Energia
Biomassa pode se beneficiar com crescimento do mercado livre, que pode até dobrar de tamanho, segundo Ágora Energia
O potencial da biomassa pode ser aplicado como alternativa para complementar o fornecimento de energia em períodos de incerteza quanto ao regime das chuvas e, assim, ajudar a enfrentar crises como a atual. De acordo com José Antônio Sorge, sócio-diretor da Ágora Energia, a ampliação do período da safra da cana-de-açúcar ajudaria a reduzir o impacto da intermitência e sazonalidade da geração renovável. “Você tem hoje excedente de energia na biomassa, cheio de travas regulatórias que impedem que as energias que podem gerar e manter reservatórios acabem sendo desestimuladas”.
Realmente, chama a atenção o fato de que o leilão A-5, realizado em 30 de setembro, teve entre seus destaques a biomassa como fonte mais contratada, totalizando 301,2 MW de capacidade e vendendo 53,1 MW médios entre seis usinas de bagaço de cana-de-açúcar e uma a cavaco de madeira. O preço ficou em R$ 271,26/MWh e o desconto em 25,68%.
Para Sorge, as térmicas a gás são importantes, desde que cada vez menos poluentes e mais competitivas, mas um programa de alternativas com as fontes solar, eólica e de biomassa, para que gerassem energia com maior intensidade, permitiria que a fonte hidráulica funcionasse melhor como uma “bateria” do setor. “Por que não gerar naqueles momentos em que o PLD está baixo, para poder segurar a água no reservatório?”, questionou, durante webinar promovido pela União da Indústria de Cana-de-Açúcar (Unica) e pela Associação da Indústria de Cogeração de Energia (Cogen).
Newton Duarte, presidente da Cogen, apontou que são cada vez maiores as dificuldades na recuperação dos reservatórios no período úmido. “Temos cada vez mais dificuldades, com um CMO (Custo Marginal da Operação) que é incompreensível. Vejo enormes dificuldades. Ter um nível de 60% de geração, cria uma situação crítica”, disse, durante o evento, realizado no início de outubro.
Nos últimos anos, os níveis dos reservatórios jamais têm entrado no período seco acima de 50%, com exceção de 2020, quando foi registrado 56% de armazenamento em junho. “Terminamos o período úmido em 2021 com 35% de armazenamento. A nível de comparação, sobre o momento crítico, em junho de 2001 – ano do racionamento – o nível estava em 32,4%”, disse Sorge.
Esforços concentrados
Além da questão das energias renováveis, para José Antônio Sorge o setor elétrico pode passar por uma revolução se concentrar esforços em tendências mais que necessárias em tempos de crise como os de agora: a inserção de novos produtos no mercado com o avanço da tecnologia, com custos decrescentes que permitirão mais velocidade às mudanças necessárias, como os carros elétricos; o aprimoramento do cálculo do PLD Horário; e a ampliação do mercado livre, entre outras. Tudo isso com o consumidor no centro dos esforços.
“A perspectiva que vejo é de muita incerteza, mas o caminho é esse. Com isso, o setor elétrico pode ter uma sustentabilidade de longo prazo bastante interessante”, afirmou.
De acordo com Sorge, o mercado livre – que tem sido cada vez mais demandado pelos agentes – pode até dobrar de tamanho, com uma legislação que permita esse crescimento, conclusão com a qual concordou Zilmar de Souza, gerente de bioeletricidade da Única, que acredita o segmento biomassas podem se beneficiar desse potencial. “Temos a esperança de que o mercado livre tenha 70% de representatividade no setor elétrico. A biomassa vende mais de 60% de sua produção no mercado livre. Certamente, podemos ganhar competitividade nesse modelo”, afirmou.
Problema antigo
Entre outros pontos, Sorge destacou durante sua apresentação que o setor elétrico brasileiro tem sofrido nos últimos anos com uma distorção estrutural, e que pode ser mais observada em praticamente todos os meses desde 2015. Segundo o executivo, há um descolamento entre a geração hidráulica e a garantia física declarada – o que explica parte do problema é a falta de revisão das garantias físicas das usinas, os crescentes usos consuntivos e a participação crescente de fontes renováveis não hidráulicas.
Mas existe perspectiva de que essas distorções sejam atenuadas a partir de janeiro do próximo ano e os preços possam refletir melhor as condições estruturais de reservatórios e vazões históricas, já que a Comissão Permanente de Análise de Metodologias e Programas Computacionais do Setor Elétrico (Cpamp) já trabalha com uma atualização dos modelos de formação de preços, para que as vazões de mais longos prazos tenham ponderação maior.