Urânio atinge maior cotação em nove anos e atrai fundos de hedge
FONTE: Valor Econômico
O preço do urânio bruto, conhecido como “bolo amarelo”, subiu para seu nível mais alto desde 2012
Após anos de estagnação dos preços, a alta de 37% das cotações do urânio, usado como combustível nas usinas nucleares, contribuiu para atrair investidores de volta ao setor.
Fundos como o Light Sky Macro, de Ben Melkman, com sede em Nova York, Anchorage Capital e Tribeca Investment Partners têm se mostrado otimistas quanto à perspectiva da matéria–prima, num momento em que o aperto energético mundial destaca o papel da energia elétrica de geração nuclear na transição para o distanciamento em relação aos combustíveis fósseis.
Geração nuclear ganhou espaço na transição para o distanciamento em relação aos combustíveis fósseis
O preço do urânio bruto, conhecido como “bolo amarelo” (já livre das impurezas e destinado ao uso em usinas nucleares), subiu para seu nível mais alto desde 2012, de US$ 50 a libra-peso, no mês passado. O movimento atraiu novos investimentos para o mercado pela primeira vez desde antes da crise financeira, quando as compras dos investidores puxaram o preço a partir de US$ 20 a libra para a alta recorde de US$ 136 a libra, atingida em junho de 2007.
“Esperamos pacientemente, por muito tempo, que algo acontecesse”, disse Ben Cleary, da Tribeca Investment Partners de Cingapura, cujo fundo subiu 345%, já descontadas as taxas, neste ano. “Sem dúvida, há dinheiro especulativo voltando para o setor; houve enormes variações de preços em setembro.”
A gestora de ativos canadense Sprott catalisou a alta dos preços com um movimento significativo de compras de urânio, mas os investidores dizem que a transição energética como um todo está chamando a atenção para o papel fundamental da energia nuclear – considerada uma fonte de energia elétrica com baixa carga de carbono.
O Physical Uranium Trust da Sprott é um dos poucos que compram e armazenam urânio físico. A maioria dos fundos aumentou sua exposição por meio de ações de mineradoras, que subiram 58% neste ano, de acordo com o ETF (fundo negociado em bolsa) Global X Uranium.
A rápida ascensão das cotações do gás natural e do carvão para novos recordes de alta, neste mês, exacerbou uma crise energética na Europa e na China e “reconduziu o urânio para debaixo dos holofotes”, disse Rob Crayfourd, da CQS New City Investment Managers.
“As consequências políticas desta crise energética serão uma maior disposição do Ocidente de prorrogar a vida útil do grupo de reatores já operante”, disse ele. “Ela (crise) focou os governos nas vantagens de garantir a oferta de energia fornecida pelo setor nuclear. Prevemos que isso promoverá a sustentação [dos preços].”
Melkman, o fundador da Light Sky que era anteriormente um dos sócios do fundo hedge Brevan Howard, ganhou mais de 5% neste ano, disse pessoa que teve acesso às cifras.
“A Light Sky Macro vê uma oportunidade imediata e de tamanho considerável no setor do urânio, o que o torna um dos nossos pontos de vista de maior convicção para 2021”, escreveu ele em nota a clientes, no começo deste ano, a qual o “Financial Times” teve acesso.
A diminuição dos estoques durante a pandemia de covid-19 exacerbou o movimento de aperto da oferta, enquanto se prevê que a demanda vai disparar nas próximas décadas, acrescentou Melkman, que investe no setor desde 2018.
“O crescente foco em ‘energia verde’ no nível político e a crescente demanda por ativos [sustentáveis] na comunidade DE investimentos deverão transformar o urânio em um dos negócios mais assimétricos dos próximos anos”, escreveu ele, o que quer dizer que a possibilidade de ganhos potenciais ultrapassa, de longe, o risco de registrar perdas.
Quem também está lucrando é Sean Benson, fundador da Tees River Uranium and Critical Resources Funds, sediada em Londres. Seu fundo, que compra participações acionárias em mineradoras de urânio, subiu 115% neste ano.
Benson argumenta em carta a investidores, obtida pelo “FT”, que um déficit de oferta em relação à demanda e uma agenda de mudança climática “muito propícia” significam que “o atual ciclo do urânio será melhor do que o último, sob todas as métricas fundamentais”. Seu fundo Critical Resources, que investe cerca de 33% dos ativos em urânio, teve valorização de 44% neste ano.