Consolidação da petroquímica pode girar de R$ 23 bi a R$ 40 bi
FONTE: Valor Econômico
Setor vive ‘desnacionalização’ e deve atrair grandes grupos e fundos estrangeiros
A indústria petroquímica brasileira está passando por um novo ciclo de consolidação e deve atrair, ao contrário de boa parte de outros setores econômicos do país, capital estrangeiro ao negócio. O movimento de desnacionalização reflete, em grande medida, as dificuldades de crescimento enfrentadas por grupos tradicionais no setor após o estímulo às campeãs nacionais – a Braskem foi resultado desse modelo com a formação da sociedade entre Petrobras e o grupo baiano Odebrecht (agora Novonor) -, além de problemas estruturais que minaram a competitividade do setor na última década.
Além da venda da fatia de 38,3% da Novonor na maior petroquímica brasileira, a família Geyer Abubakir, controladora da Unipar, contratou a assessoria da Essentia Partners e avalia combinar seus ativos com uma rival ou atrair um fundo de “private equity” (que compra participação em empresas) – a gestora Apollo chegou a apresentar à holding uma proposta pelo ativo antes dos Geyer buscar um assessor.
“Empresas brasileiras perderam a competitividade nos últimos anos e buscam atrair investidores”
A Petrobras também está vendendo sua fatia de quase 28% na química Deten e pode se desfazer da petroquímica Copenor. Já a Unigel, da família Slezynger, protocolou pedido de abertura de capital (IPO, em inglês), para levantar US$ 500 milhões (R$ 2,6 bilhões), segundo fontes.
A expectativa é de que, nos próximos 12 meses, as operações de fusões e aquisições do setor movimentem, no mínimo, R$ 23,2 bilhões, segundo fontes ouvidas pelo Valor. Nessa conta, estão incluídos o valor da fatia da Novonor na petroquímica, excluindo pagamento de provável prêmio pela venda do negócio, e estimativas de quanto a Unigel pode levantar com o IPO, uma possível combinação de ativos da Unipar e Copernor. E pode chegar a R$ 40,9 bilhões, caso a Petrobras decida vender sua parte na Braskem, também sem considerar o prêmio.
A principal aposta é que fundos de private equity com participação histórica no setor e grupos estrangeiros químicos de peso no mercado global terão participação relevante na reorganização da indústria local. O exemplo mais recente é a aquisição da Oxiteno, que pertencia ao grupo Ultra, pela asiática Indorama, por US$ 1,1 bilhão.
Os desafios aos novos players não serão poucos. Segundo um empresário do setor, boa parte das petroquímica nacionais vive seu melhor momento em termos de resultados e operação, mas a instabilidade macroeconômica e política no país pesa nas tratativas.
“Em boa medida, a indústria fez sua parte para garantir competitividade, e isso atrai investidores. Mas há questões que estão fora do nosso alcance e acabam atrapalhando a justa avaliação dos ativos”, afirmou esse empresário, que pediu para não ser identificado. A ausência de reformas estruturantes, como a tributária, que reduziriam os custos da produção industrial no país, e o ritmo mais lento do que o esperado de abertura do mercado de gás natural são usados como barganha pelos potenciais investidores, acrescentou a fonte.
Para o sócio-fundador da consultoria Maxiquim, João Luiz Zuñeda, a indústria petroquímica está no último capítulo de um livro. Fundos de investimento e multinacionais, com atuação no setor, serão protagonistas da história daqui para frente, numa demonstração de que os investidores estrangeiros voltaram a ter apetite pela química nacional.
Mas há riscos nessa troca de personagens, segundo Zuñeda. Inicialmente, esses “entrantes” estão comprando “participação de mercado”- o Brasil é o sexto maior país para o setor químico no mundo. E só executarão novos investimentos no Brasil, se houver condições favoráveis. “Boa parte dessas empresas é global, com unidades em várias partes do mundo e sobrecapacidade lá fora. Se não for atrativo, não vão investir para ampliar as operações mais adiante. Vão ficar só com mercado”, pondera.
O redesenho da indústria petroquímica está diretamente ligado à saída da Novonor por conta das dificuldades do grupo após a operação Lava Jato. A Petrobras, sua sócia, contratou o banco J.P. Morgan para avaliar as opções estratégicas que pode ter com sua fatia de 36,15% na Braskem. A Novonor, que tem a assessoria do Morgan Stanley, ainda não recebeu oferta firme para a venda de sua fatia.
Houve mais interesse de potenciais compradores por determinados ativos do que pela operação consolidada da Braskem – e a expectativa inicial de competição mais acirrada pela companhia ainda não se confirmou, apurou o Valor.
São três os cenários possíveis: aquisição do conjunto de ativos por investidor ou consórcio de investidores, venda fatiada das operações por região e saída via ofertas subsequentes (follow-on) de ações. Conforme o Valor apurou, a definição do modelo de venda pode ocorrer nas próximas semanas.
Os dois maiores acionistas da petroquímica, Novonor e Petrobras, têm mantido conversas informais acerca do formato que trará mais valor a suas participações. Bancos credores do grupo privado também participam dessas discussões. Caso a melhor opção seja a venda de ações em bolsa, uma vez que as cotações têm rondado as máximas, a petroquímica migraria antes para o Novo Mercado, um processo que demandará cerca de quatro meses, segundo uma fonte.
Além da fatia da Braskem, a Petrobras planeja se desfazer de suas participações na Deten, líder no mercado brasileiro de insumos para detergentes biodegradáveis, e na Copenor (Companhia Petroquímica do Nordeste). Na Deten, o fundo soberano Mubadala é apontado como principal interessado nos cerca de 28% da fatia no negócio – a gestora de Abu Dhabi já é controladora indireta da companhia por meio da Compañia Española de Petroleos (Cepsa). O Santander assessora a estatal no processo de venda. O desinvestimento na Copenor está em fase inicial.
A saída da Petrobras do setor, avalia Zuñeda, pode ser temporária. “Agora o foco é pré-sal. Mas não descarto que, mais adiante, a Petrobras volte a olhar para a petroquímica, como outras petroleiras estão fazendo”, afirma.
Duas outras tradicionais companhias brasileiras, Unigel e Unipar querem aproveitar o bom momento do ciclo petroquímico para se capitalizar via chegada de novos sócios. A Unigel já contratou sindicato de bancos para seu IPO, depois de uma tentativa frustrada em 2017, e aguarda o melhor cenário para ir à bolsa.
Já a Vila Velha Administração e Participações, controladora da Unipar Carbocloro, tem sido assediada por fundos de private equity e indústrias de cloro-soda e PVC. O Valor apurou que a preferência da holding do empresário Frank Geyer Abubakir é atrair investidores e manter-se no negócio como controladora após eventual fusão.
Procuradas pela reportagem, o Mubadala, Novonor, Petrobras, Vila Velha e Unigel não comentam o assunto. Apollo não retornou o pedido de entrevista.