Bracell planeja megafábrica de celulose em SP
FONTE: Valor Econômico
Expansão em Lençóis Paulista contará com a maior caldeira de recuperação do mundo, que possibilita capacidade de produção adicional acima do anunciado
Os planos de expansão da Bracell para a unidade de Lençóis Paulista (SP), a antiga Lwarcel, são bem maiores do que a empresa tornou público até agora. Conforme o Valor apurou, o projeto prevê a instalação no local da maior caldeira de recuperação do mundo – a caldeira é equipamento central na fabricação de celulose -, o que permitirá que a produção alcance até 2,8 milhões de toneladas de celulose branqueada de eucalipto por ano ou 1,9 milhão de toneladas anuais de celulose solúvel.
Publicamente, a Bracell, que pertence ao grupo Royal Golden Eagle (RGE), de Cingapura, tem informado que o projeto “Star” elevará a capacidade de produção total da fábrica comprada da Lwarcel para 1,5 milhão de toneladas anuais, o equivalente a pouco mais da metade do volume que a unidade poderá alcançar com uma caldeira desse porte.
A expansão anunciada prevê a construção da segunda linha de celulose, com capacidade de 1,25 milhão de toneladas por ano. A linha será “flex”, apta a produzir tanto celulose solúvel quanto branqueada de eucalipto (kraft). Hoje, a produção anual na fábrica é de 250 mil toneladas.
Os investimentos estão estimados em R$ 8 bilhões e as licenças necessárias para esse escopo já foram emitidas. A licença de instalação, de 21 de janeiro de 2019, cobre uma linha de branqueamento e uma máquina de secagem com capacidade de cerca de 1,5 milhão de toneladas anuais.
Por outro lado, a mesma licença já permite que a Bracell instale uma caldeira de recuperação com capacidade de 12 mil toneladas por por dia em Lençóis Paulista, preparando terreno para a produção de até 2,8 milhões de toneladas em algum momento. A unidade receberá também três turbogeradores com capacidade de até 144 megawatts (MW) cada.
Para que a fábrica rode acima de 1,5 milhão de toneladas, a Bracell terá de construir uma terceira linha de celulose e solicitar novo licenciamento à Companhia Ambiental do Estado de São Paulo (Cetesb), segundo fontes com conhecimento do assunto. Se a alteração no volume de produção fosse marginal, a mesma licença poderia ser retificada.
Hoje, a maior caldeira de recuperação em operação no mundo pertence à OKI, na Indonésia, com capacidade de queima de 11,6 mil toneladas de sólidos secos por dia – com cogeração de energia suficiente para atender uma cidade europeia de 1 milhão de habitantes. A OKI, do grupo Asia Pulp & Paper (APP), tem capacidade nominal de produção de 2,8 milhões de toneladas de celulose por ano.
Segundo fontes do setor, a Bracell também está se movimentado para garantir suprimento de madeira para uma expansão além de 1,5 milhão de toneladas por ano. A empresa teria arrendado milhares de hectares de terra e firmado contratos de fornecimento de eucalipto no norte do Paraná e em diferentes regiões do Estado de São Paulo. Haveria interesse ainda em buscar madeira em Mato Grosso do Sul, caso seja necessário.
Procurada, a Bracell não negou que há interesse em novas ampliações, mas não deu detalhes dos planos. Em nota, informou que o volume de celulose a ser transportado no terminal recém-arrematado em Santos (SP), STS 14A, de até 2,6 milhões de tonelada por ano, “levou em consideração a flexibilidade para atender os volumes de produção não só durante o start-up da fábrica, mas também para as operações futuras”.
Segundo a Bracell, o projeto de expansão em Lençóis Paulista terá “uma linha flexível, com produção predominante de celulose solúvel quando em operação regular”. “Durante o start-up da planta, o planejamento da produção levará em consideração a estabilidade operacional, podendo então variar entre a produção de celulose solúvel e kraft”, informou.
A Bracell opera outra fábrica no país, em Camaçari (BA), e é uma das maiores produtoras mundiais de celulose solúvel. A RGE também é dona da Sateri, maior fabricante mundial de viscose – entre outras aplicações, a celulose solúvel é usada na fabricação do tecido.