CMPC monta megaoperação em parada
FONTE: Valor Econômico
Parada geral em Guaíba foi realizada durante a pandemia e envolveu cerca de 2,4 mil prestadores de serviço
Tradicionalmente complexas, as paradas para manutenção nas fábricas de celulose ganharam dimensão ainda maior com a covid-19, que levou os produtores a postergar para o segundo semestre deste ano o evento, obrigatório a cada 15 meses no Brasil. Primeira da temporada entre as grandes linhas, a CMPC montou uma operação de guerra para garantir que a parada geral em Guaíba (RS), que envolveu milhares de profissionais, fosse executada com sucesso, apesar dos cuidados e investimentos adicionais impostos pela pandemia – excepcionalmente, os custos chegaram a R$ 51,7 milhões, 30% acima do que seria investido em uma parada “normal”.
Durante dez dias, entre 19 e 29 de julho, cerca de 2,4 mil prestadores de serviço, de 91 empresas diferentes, passaram pela unidade industrial que fica na região metropolitana de Porto Alegre. Desse contingente, dois terços vieram de outros Estados, particularmente São Paulo e Espírito Santo. E, apesar da circulação mais intensa de pessoas em um espaço relativamente reduzido, foram confirmados apenas três casos de covid-19, já curados.
“Fizemos um trabalho inicial minucioso e colaborativo, com apoio de técnicos e infectologistas, para definir um protocolo ainda mais rígido do que já tínhamos”, conta o diretor-geral da CMPC no Brasil, Mauricio Harger. Os preparativos também incluíram rodadas de reuniões com Vigilância Sanitária e secretarias de Saúde municipal e estadual, procuradas com mais de um mês de antecedência para discussão da proposta da empresa. Agora, diante dos resultados positivos da parada, o protocolo da CMPC tem sido usado pelas autoridades como referência para outras indústrias no Estado.
De acordo com Harger, uma das primeiras iniciativas foi testar todos os prestadores de serviço envolvidos na parada, alguns deles até duas vezes, na chegada a Guaíba e no município de origem, usando o exame PCR, considerado o mais eficiente no diagnóstico da covid-19. Nessa triagem, cerca de 4% dos testes tiveram resultado positivo, levando esses profissionais a não participar dos trabalhos, e 100% dos prestadores de serviço cumpriram uma quarentena de três dias antes do primeiro acesso à unidade industrial.
Para não sobrecarregar o sistema público, a CMPC contratou um plano de saúde temporário e uma clínica dedicada à empresa para eventual utilização durante o período da parada. A acomodação dos trabalhadores também teve de ser adaptada. Ao invés do aluguel de casas e pousadas, que normalmente seriam compartilhadas, cada prestador de serviço ficou em um quarto de hotel, em Porto Alegre, e recebeu pensão completa. Na fábrica, foram instaladas tendas de refeição e de descanso, identificados por diferentes cores e números, além de toaletes do tipo “contêiner”, organizando os profissionais em grupos. Esses grupos orientaram também o uso dos hotéis e dos ônibus que fizeram o transporte de pessoal.
Sob o aspecto técnico da parada geral, cuja principal missão é realizar a inspeção em caldeiras de recuperação, essenciais às fábricas de celulose, o maior desafio foi garantir a participação dos poucos técnicos especializados no assunto no país, mesmo que à distância por causa da pandemia. Para superar essa dificuldade, a Valmet, uma das fornecedoras da CMPC, usou óculos de realidade aumentada para supervisão remota e suporte aos profissionais em campo e monitoramento em tempo real dos trabalhos. Ainda sobre novas tecnologias, foram usados capacetes para medir a temperatura corporal à distância. “A maior parte do protocolo adicional está relacionada à pandemia. Mas algumas coisas vão ficar”, conta Harger. Uma delas é o uso da realidade aumentada.
Maior indústria do Rio Grande do Sul, a CMPC produz 1,9 milhão de toneladas de celulose por ano e emprega 6,5 mil trabalhadores diretos. A parada geral, que garante que a fábrica cumpra as normas operacionais de sustentabilidade, saúde e segurança, foi realizada na linha 2, a maior. E foi mais eficiente do que o previsto, com ganho de cerca de 3 mil toneladas de celulose em relação à perda de produção estimada inicialmente.