“Todo mundo ganha com a reabertura da Fafen”, diz Roberto Noronha, CEO da Unigel
FONTE: A Tarde
À frente da maior produtora de acrílicos e estirênicos da América Latina, o CEO da Unigel, Roberto Noronha, é um entusiasta do novo momento da indústria do país. De acordo com ele, apesar da pandemia, três unidades industriais foram reativadas nos últimos meses pelo grupo. Responsável pela operação de arrendamento da Fafen com a Petrobras, que vai resultar na reabertura das fábricas de fertilizantes da Bahia e Sergipe, ele prevê o início das operações já a partir de 1º de janeiro. “Todo mundo ganha com a reabertura da Fafen”, disse Roberto Noronha, ao enfatizar que a reativação vai gerar 1.500 empregos diretos e indiretos só na Bahia. Confira:
Roberto, as unidades de fertilizantes foram desativadas pela Petrobras após perdas consecutivas no nordeste, e a Unigel anunciou que vai reativá-las até o final do ano. Na última sexta-feira, o Cade [Conselho Administrativo de Defesa Econômica] aprovou essa operação. Qual a expectativa do senhor?
Nós ficamos muito contentes com a aprovação do Cade, assim como ficamos muito felizes e orgulhosos de poder reativar essas unidades. Na verdade, eu acho que isso é um ganha-ganha. Para mim, todo mundo ganha com a reabertura da Fafen. Ganha o Brasil, que hoje não tem produção de ureia nacional, importa cinco milhões e meio de toneladas.
Então, a reativação das duas unidades vai ajudar o país, vai economizar divisas, vai ter produção nacional. Ganham os governos, com a arrecadação de impostos, ganha a sociedade, pois nós vamos gerar aí vários empregos. Estamos falando em quase 1.500 empregos, entre diretos e indiretos. Então, assim, com a reativação ninguém perde. Eu acho que é bom para todo mundo. E ganha a Unigel também, que terá uma divisão importante de fertilizantes. Eu acho que é uma coisa muito boa para todos, e nós estamos realmente muito contentes com essa perspectiva.
Com a publicação no Diário Oficial, vocês começam a colocar em prática o plano de reestruturação da Fafen na Bahia. Como vai se dar esse processo?
Tem uma série de etapas. Obviamente, nós já obtivemos as licenças ambientais, tanto na Bahia como em Sergipe, que são necessárias. E existia uma série de outras licenças que serão necessárias também. Estamos ganhando tempo. Essas unidades vão requerer uma manutenção grande, existe uma norma que chama NR13, que nós vamos precisar nos adequar, vamos ter que contratar todo o pessoal [para a tarefa].
Existe um trabalho muito intenso daqui até o final do ano, que tem que ser feito para que a gente possa colocar as unidades em operação. Nossa expectativa 1º de janeiro. Agora que o trabalho começa pra valer. O primeiro passo é ter a transmissão de posse formal com a Petrobras, que deve acontecer num momento muito curto. Estamos falando até o final desse mês, e daí pra frente é arregaçar essas mangas e trabalhar. Nós já temos a sorte de contar em nos nossos quadros com pessoas muito experientes. A gente pretende contratar muita gente que conhece a operação dessa unidade, e vamos contratar gente nova também, de preferência todo mundo local. Essa é a ideia, tanto em Sergipe como na Bahia. Teremos bastante trabalho pela frente.
O que levou a Unigel a se interessar pelas fábricas da Fafen, e qual a importância dela, sobretudo para a Bahia?
Nós já éramos o principal consumidor de amônia, para as operações nossas na Bahia, pois nós já consumíamos algo como 120.000 toneladas por ano de amônia. E a parada das Fafens, que também produziam amônia, além de ureia, causava uma dependência de importação de amônia. Existe aqui uma razão técnica importante, que é a gente poder produzir amônia para o nosso consumo cativo. Esse é um ponto crucial.
O segundo ponto importante para a Unigel é que nós já estamos no negócio de fertilizantes há muitos anos. Nós temos três fábricas de sulfato de amônia, em Candeias, e já somos o maior produtor, há muito anos, de sulfato de amônia. Então não é nada novo para a gente o mercado de fertilizantes nitrogenados. Esses foram os principais motivos para nós entrarmos nas Fafens, no arrendamento das fábricas.
Qual a importância da Fafen para a Bahia, sobretudo, para a geração de emprego e renda?
É uma das maiores fábricas do Polo de Camaçari, ela é grande, a maior fábrica de ureia do Brasil, junto com Sergipe. Além da ureia, ela produz outros insumos importantes no mercado. Produz amônia, produz um agente redutor para consumo em transporte de caminhões a diesel, chamado ARLA32. Existe uma série de outros produtos também. Ela tem uma importância grande na arrecadação, nós estamos falando aqui num consumo também de gás produzido na Bahia, para as operações industriais na Bahia, então fixando o gás da Bahia na Bahia.
Existe toda uma sinergia muito importante nessa operação, e, principalmente para a sociedade, não é pouca coisa você gerar 1.500 empregos diretos ou indiretos. É uma quantidade muito grande de renda nessa situação que nós estamos vivendo agora de pandemia, de desemprego, eu acho que é muito positivo para todos nós. Como eu falei, realmente acredito que todos ganham com isso.
O que levou as unidades de fertilizantes a serem desativadas e terem tantas perdas? O que levou a Petrobras, inclusive, a abrir mão da gestão e da operação dessas Fafens.
Eu não seria a melhor pessoa para comentar isso. Eu acho que seria uma pergunta [a ser feita] para a Petrobras responder. Eu acho que foi uma decisão estratégica da Petrobras, de concentrar-se na área de exploração, perfuração de petróleo. Quer dizer, é um foco estratégico da Petrobras. Mas, por favor, eu sugiro que essa pergunta seja feita para a própria Petrobras. Eu não posso realmente analisar qual é a decisão deles. Basicamente, eu acredito que foi para dar mais foco estratégico na estatal.
O governo baiano foi estratégico para que a Unigel realizasse essa operação?
Sem dúvida nenhuma. O governo da Bahia nos apoiou desde o primeiro momento, para que nós pudéssemos fazer essa reativação. Ajudaram a fazer a parte do benefício fiscal, a fazer toda a parte de licenciamento, tudo que foi pedido ao governo, eu diria para você que foi apoiado em todos os níveis. Eu não tenho nenhuma dúvida que, sem o apoio do governo, também seria muito difícil a gente conseguir reativar. Eu só tenho coisas boas a falar [do governo]. A rigor, também o apoio da Petrobras tem sido bastante importante para nós.
Com a pandemia, alguns projetos da Unigel tiveram que ser revistos, e outros até suspensos. Como o senhor avalia o impacto da pandemia, e o que está na pauta para ser colocado como prioridade nesse segundo semestre?
É bem interessante isso, porque, embora nós estivéssemos no meio da pandemia, nós reativamos, pouca gente sabe disso, três unidades industriais. Duas de produção de chapas acrílicas extrudadas, e uma terceira que está partindo agora de chapas acrílicas moldadas, que a gente chama de processo cast.
Então, mesmo na pandemia, nós estávamos na contramão, contratando gente. Em Candeias, nós reativamos várias unidades, e até colocamos em operação uma unidade com tecnologia própria, nova, de aço metacrílico. Nós, realmente, olhamos o mercado, vimos que havia uma necessidade para ajudar também essas proteções individuais que você vê em caixas de supermercado, bancos, restaurantes, escritórios. Houve um aumento na demanda e nós colocamos essas operações, contratando bastante gente para isso. Nós tivemos, sim, que parar alguns investimentos. Tínhamos um projeto grande em andamento, em Camaçari, que nós tivemos que dar uma hibernada temporária. Mas, a rigor, nós mais aumentamos do que diminuímos nossa produção.
Vocês fizeram também muitas parcerias para apoiar o combate à pandemia. O que o senhor colocaria como destaque, e o que foi estratégico para a empresa?
Nós nos sentimos na obrigação de fazer isso, porque somos parte da sociedade, nós vivemos em comunidade, nossos funcionários, nossos colaboradores, nossos fornecedores, nossos clientes. Tudo parte de um todo. Falamos: bom, o que a gente pode fazer? Vamos lá. Podemos dar matéria prima para todos esses itens descartáveis que são usados agora por uma questão de higiene, para evitar contaminação de vírus.
Fizemos grandes doações, grandes quantidades de poliestireno, que é um produto que a gente faz no estado de São Paulo. Aí pensamos: a gente tem uma matéria prima importante para a produção de álcool em gel. Também fizemos grandes doações. E continuamos: o que é que o governo da Bahia está pedindo? O que é que está precisando? Seriam esses testes rápidos?. Então nós também fizemos doação de testes rápidos para serem usados em hospitais. Fizemos doações, só para você ter uma ideia, de mais de 1.300 cestas básicas também para toda a comunidade, especialmente em Candeias, para as famílias mais carentes. A lista é grande, doamos chapas acrílicas, doamos chapas para a produção dessas proteções da equipe médica e proteção do paciente durante intubação.
Para finalizar, que mensagem o senhor deixa para a população da Bahia, sobretudo, diante da expectativa para a reabertura da Fafen?
Nós estamos muito felizes, pois houve um esforço conjunto de todos os agentes para a retomada dessas unidades. Eu acredito que, para a população da Bahia, de modo geral, vai ser muito bom ter mais uma indústria operando aí, e fornecendo para um dos segmentos que é um dos mais importantes do Brasil, que é o agronegócio. Vai ser o principal fornecedor de fertilizantes nitrogenados. Eu diria para você, do ponto de vista social, é muito importante. Nós acreditamos no Brasil, o nosso principal investimento no Brasil está no estado da Bahia, onde está o nosso grande investimento industrial, com várias unidades, tanto no Polo de Camaçari, quanto em Candeias.
Nós temos tradição na Bahia, nosso principal investimento é na Bahia, e nós continuaremos investindo no estado. Como te falei, no primeiro semestre, na contramão do restante do país, nós já reativamos unidades, construímos unidades e, agora, com a reativação das Fafens, acredito que vamos ter uma posição ainda mais importante na Bahia. Por isso, não posso deixar de agradecer ao governo da Bahia e todos os agentes que colaboraram conosco, para que isso fosse uma realidade.