Usinas a óleo: converter ou não converter?
FONTE: Brasil Energia
Empresas calculam se devem converter suas térmicas para gás natural, enquanto governo planeja leilão para substituir as usinas nos próximos anos
As empresas que controlam usinas de geração térmica a óleo combustível ou óleo diesel têm uma importante decisão a tomar: converter ou não suas instalações para o uso do gás natural. A decisão do governo de eliminar a geração térmica a óleo da matriz energética e substituí-la por alternativas mais limpas faz com que esses ativos tenham um prazo de validade determinado pelo vencimento de seus contratos.
E algumas empresas já começam a se movimentar nesse sentido. A Rio Amazonas Energia S.A. (Raesa), por exemplo, já assinou contrato com a Wärtsilä Brasil, para a conversão dos motores da UTE Cristiano Rocha, no Amazonas. A usina, que usa o óleo combustível como fonte de energia secundária, deverá passar a operar exclusivamente com gás natural, a partir de meados de 2021.
A UTE Cristiano Rocha foi inaugurada em 2006, com capacidade de 85,38 MW, conta com o apoio de geradores a óleo para fornecimento ininterrupto de 65 MW de energia elétrica para a cidade de Manaus, contrato vigente até 2025. A partir da conversão total, a potência bruta subirá para 95,75 MW, aumentando a segurança no abastecimento, além de reduzir o custo de operação.
Enquanto isso, a Gera Amazonas, que controla a UTE de Ponta Negra, também no Amazonas, faz as contas para saber se vai ou não realizar a conversão. Hoje, a usina já opera com 94% de gás natural. Segundo a empresa, a conversão total poderia representar um investimento de R$ 100 milhões, com uma economia de R$ 1 milhão mensais em custos de operação até 2025, quando se encerraria o contrato vigente.
No entanto, até o fechamento desta edição, a decisão ainda não havia sido tomada. As alterações de preço causadas pela pandemia do novo coronavírus obrigou a Gera Amazonas a rever seus cálculos, para saber se a conversão é viável economicamente. Além disso, a empresa ainda não decidiu os planos para depois do encerramento do contrato de geração.
Enquanto isso, a Petrobras já decidiu se desfazer das usinas térmicas movidas exclusivamente à óleo combustível ou óleo diesel, que hoje fazem parte de sua carteira. A empresa incluiu em seu plano de desinvestimento as UTEs de Arembepe, Muricy e Bahia 1, na Bahia. Além disso, também pretende se desfazer da UTE Canoas, usina bicombustível a gás e óleo diesel, no Rio Grande do Sul, e de participações diretas ou indiretas em outras seis usinas térmicas (Termocabo, Tambaqui, Jaraqui, Suape II, Manuara e Brentech). Ao mesmo tempo, a estatal avalia sua participação no leilão de energia existente da Aneel, previsto pelo MME para substituir as usinas térmicas cujos contratos terminam entre 2023 e 2025, como oportunidade de negócio para ampliar seu portfólio de comercialização de gás.
Nova contratação pode ser menor
As usinas a óleo ou bicombustíveis cujos contratos se encerram nesse período representam um parque gerador de pouco mais de 3 mil MW médios. Bernardo Folly de Aguiar, superintendente de Planejamento de Geração da EPE explica que o cronograma do leilão foi atrasado pela pandemia da Covid-19 e que será preciso recalcular o volume de geração a ser contratado. “A crise fez a demanda do mercado despencar”, justifica.
Aguiar observa que a maioria das usinas a óleo e bicombustíveis são ativos antigos, e a decisão de converter essas plantas para gás natural e participar dos leilões, vai depender de as empresas conseguirem internalizar o custo da conversão na taxa de retorno dos projetos. “A ideia é antecipar os leilões A-4 e A-5, de energia existente, para que o vencedor tenha um contrato que permita garantir o financiamento para o retrofit”, explica.
O superintendente da EPE acrescenta que a substituição das usinas a óleo na matriz energética não será necessariamente feita inteiramente com o uso de gás natural. “Outras fontes, como eólica ou solar, também estarão presentes para reequilibrar a matriz”, conclui Aguiar.