Covid-19 eleva demanda por celulose no país e no mundo
FONTE: Valor Econômico
Consumo de papéis de higiene cresceu impulsionado pela pandemia e a fibra é usada como matéria-prima na fabricação de tissue
Grandes produtores de celulose no Brasil têm registrado aumento na demanda pela matéria-prima, que é usada na fabricação de papéis para fins sanitários (tissue) e embalagens, entre outros produtos, na esteira da disseminação da covid-19. Especialmente o consumo de papéis de higiene cresceu impulsionado pela pandemia e, segundo fontes da indústria, as fabricantes de tissue estão operando à plena capacidade e com estoque zerado de produtos acabados. Fornecedoras dessas empresas, CMPC, Klabin e Suzano estão se beneficiando da demanda aquecida.
“A celulose está muito demandada porque há uma procura maior por tissue neste momento, e também por embalagens”, disse ao Valor o diretor-geral da CMPC no Brasil, Mauricio Harger. A unidade de Guaíba (RS) tem operado no limite da capacidade, com produção anualizada de 1,9 milhão de toneladas, e cerca de 40% da fibra que comercializa vai para a produção de tissue.
Na Suzano, a melhora das condições de mercado possibilitou o anúncio do primeiro aumento de preço em pouco mais de um ano, de US$ 30 por tonelada, válido para a China a partir de abril. O Valor apurou que as fábricas da companhia, que no ano passado produziram abaixo da capacidade por causa do excesso de estoques no sistema, estão operando dentro do planejado – para 2020, a Suzano havia projetado produção e vendas maiores que em 2019, com redução dos estoques.
Na Klabin, a procura por embalagens e celulose se acentuou desde o início da crise. Segundo o diretor do negócio de papéis da companhia, Flavio Deganutti, todas as fábricas operavam normalmente para garantir o abastecimento de embalagens e celulose – a Klabin é responsável pelo fornecimento de 50% da celulose fluff usada no país.
Diante desse aquecimento e para manter a operação normalizada na fábrica de Guaíba, a CMPC adotou uma série de medidas para assegurar, ao mesmo tempo, o pleno funcionamento das duas linhas de produção de celulose no país e a segurança de seus 6,6 mil funcionários, entre pessoal próprio e terceiros.
Conforme Harger, o entendimento é o de que a produção de celulose e papel é atividade essencial e, diante disso, a CMPC está seguindo as orientações dos governos federal e do Rio Grande do Sul para manter as operações da fábrica em ritmo normal. Entre as medidas adotadas estão a instituição do trabalho remoto, hoje atingindo 95% da área administrativa, suspensão de viagens aéreas nacionais, aumento da frota de ônibus para transporte dos funcionários e medição de temperatura na entrada do ônibus e da unidade.
Medidas mais rigorosas de higienização, distribuição de máscaras e equipamentos de proteção individual foram adotadas tanto no chão de fábrica quanto na operação florestal. “Temos grupos na operação florestal que, apesar de ser ao ar livre, também requer alguns cuidados adicionais”, afirmou Harger.
Em outra frente, a CMPC conseguiu negociar com o sindicato uma nova escala de trabalho durante 71 dias, de forma que a fábrica mantenha a operação contínua e os funcionários, divididos em cinco turmas, fiquem em casa por 14 dias, seguindo as orientações dos órgãos de saúde para reduzir os riscos de contágio.
A CMPC informou que tem um caso confirmado de infecção pelo novo coronavírus no Chile e, na semana passada, um gerente da operação brasileira foi hospitalizado com sintomas da doença. Mesmo sem ter em mãos o resultado do teste, a empresa também colocou em quarentena cinco profissionais que tiveram contato com o gerente.
Na avaliação de Harger, o momento exige uma nova postura. “Todos os esforços da empresa estão concentrados em assegurar a saúde de seus colaboradores e prestadores de serviços, considerando também a importância de permanecer ativa para abastecer a população com produtos essenciais e contribuir para reduzir a disseminação da covid-19”.